"A MANCHA NO ASSOALHO"

 

 

Lá está ela! Começou no início da tarde de ontem… Fiz farra na noite anterior. Meus amigos todos e muitos desconhecidos também encheram meu apartamento. Eu não sei quem foi o responsável pela mancha no corredor. Acordei atordoado e fui cambaleando pela casa em direção à cozinha. Para chegar do quarto pra cozinha eu passo por um corredor estreito… E foi no fim deste corredor que A ENCONTREI… no chão! Imóvel e assombrosa: A MANCHA!! Parei num freio brusco e assustado; Meu coração disparou e passei a tremer nos joelhos e também nos braços. “Meu Deus, o que é isso? Quem deixou esse monstro aí?”, me perguntava. “Vou tentar passar por ela…”, sussurrei pra mim mesmo. (…) Tentei dar um passo por cima dele, mas tive uma pequena impressão de que havia SE MEXIDO! Como lava! Recuei balançando os braços freneticamente. Um pavor nunca sentido tomava conta do meu ser. Sentei no chão a alguns poucos passos da mancha e fiquei encarando-a se me mover… sentindo fome e sede. Acabei adormecendo no chão por algumas horas. Acordei e por segundos tive esperança de que a mancha tivesse sido apenas um sonho ruim... ou que tivesse desaparecido. Mas... Ela continuava ali. Me olhando…Me esperando…Com sua aparência horrenda. Parecendo estar VIVA e isso era o que mais me aterrorizava. (…) Me tomei de coragem, peguei um cabo de vassoura e um pano no banheiro e enfiei na mancha, esfregando com força enquanto meu rosto se voltava pro outro lado. Fiquei algum tempo ali naquela função frenética e desesperada, esfregando… Mas quando parei, completamente exausto… A mancha continuava lá. Para meu total desespero. Sentei novamente no chão chorando como criança. Como se o choro não bastasse, passei a gritar e me debater como um louco, olhando a mancha e xingando-a de todos os nomes. (…) Acordei há poucos minutos e escrevo neste caderno para que saibam o motivo de minha morte. A mancha. Maldita mancha… Não consigo passar por ela. Não consigo enfrentá-la…Portanto não poderei seguir em frente e já estou sem comer e sem beber água há quase quatro dias. E acho que continuarei assim… Guardo em mim pouca esperança de que sintam minha falta no mundo lá fora. A mancha terrível impede a passagem. Ela é a ameaçadora, é perigosa… Só eu sei. Ela é diabólica. Estou refém de sua vontade… de desaparecer do meu chão.

 

(H.B)

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 24/04/2023
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