Acordei depois de muitos sonhos com temáticas e personagens diferentes. Mas, todos os sonhos tinham um “acontecimento em comum”. Era eu no final, levando as mãos à cabeça e dizendo: “Fizeram um buraco AQUI em mim… Tem um buraco na cabeça. Será que alguém pode resolver isso pra mim?”. Acordei até em paz por alguns minutos. Meus gritos ecoaram algum tempo depois – pela manhã da rua que ainda amanhecia devagar… – e isso só ocorreu quando me vi, na frente do espelho. Gritei diversas vezes pela casa, me atirei no chão com um pano apertando o enorme buraco na nuca. Uma coisa gelatinosa e cinza escorria por ele. Eu ia ficando tonto… tendo crises de riso e choro. Saí pelo portão, berrando… ou… ao menos pensava que estava, mas talvez nem falasse. A tontura me fazia cair diversas vezes no chão de pedra. Desci a ladeira devagar, me arrastando. Sabendo que levaria ao menos uns trinta minutos até, talvez, encontrar alguém. A coisa gelatinosa continuava escorrendo pelo buraco em meu crânio, até o meu rosto. E então num dado momento, um lado inteiro de meu corpo simplesmente desligou. Caí outra vez, com bem mais força. Meu rosto foi ao chão. Quantas vezes devo ter desmaiado?! Por quanto tempo fiquei ali?! … Será MESMO que acordei? Talvez esteja morto… um vira-lata agora me cerca e lambe minha cabeça. Se alimenta com gosto da massa cinza que escorre de mim. Como posso vê-lo? Se estou morto, ou quase…? Como posso ter consciência, se meu cérebro está se desfazendo em lama aguada, podre e fedorenta? Fazendo diversos caminhos em filetes, partindo do buraco em minha cabeça, pela ladeira abaixo… Ou encontrando o estômago satisfeito do cachorrinho…?

 

(H.B)

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 24/04/2023
Reeditado em 24/04/2023
Código do texto: T7771300
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