O asceta
O suplício saía-lhe levando nacos generosos. Vergastava os músculos de suas costas como fosse um general helênico indo ao encontro da realização bélica. Assim sói o cavalheiro no seu incontinenti furor intestino pela buniteza daquela que lhe prometeu a existência.
A mortificação entrava-lhe na carne, mas era no espírito que esta encostava no júbilo da intenção.
Terminou a sevícia com a alma sendo um açude de regozijo e sensações melífulas.
Pendurou o arauto da redenção ao lado da porta, deixou o catre com a fleuma dos santos, dirigiu-se ao vestíbulo, encarou o firmamento já tomado pelo crepúsculo e irrompeu na mais ruidosa risada já declarada por aquela garganta alargada pelos seus pecados.
Acordou e sentou ao pé do leito puído. Apoiou os cotovelos sobre as coxas descarnadas, colocando a cabeça entre as mãos macilentas. Sentiu o azedo hercúleo volvendo com determinação em sua boca já pestilencial há muito. Resignou-se. Levantou, alcançou outra vez o açoite e retornou ao hábito. Pensou. Quem sabe é neste dia. Hoje serei entrevistado pela misericórdia.