Jogos Perigosos - parte VII
A impressão que dava é que quanto maior a dimensão, menor seria o espaço. A quarta dimensão era quente, parecia mais com a primeira: com paredes escuras e tochas de fogo, um verdadeiro labirinto. De acordo com um mapa, o ambiente era mais perigoso, com alguns lugares expostos, sem parede e que se alguém tropeçasse, corria o risco de cair e morrer. Aparentemente não havia nenhum inimigo ali: era como se tudo estivesse parado, até mesmo os robôs não estavam mais presentes. Algumas câmeras ficavam sob o teto. Combinaram de não se separarem dessa vez, precisavam ser rápidos e ir direto ao ponto de encontrar a chave para finalmente alcançar a última dimensão.
Inesperadamente, Sabrina encontrou uma arma em um baú e ficou surpresa. Guardou em sua mochila para usar em situações de emergência e perigo. Pedro combinou de ir à área mais exposta que não havia paredes para encontrar supostas chaves ou algo valioso, enquanto os demais o observavam por segurança. Todos estavam unidos.
Não demorou muito para atravessarem a quinta dimensão: eram novamente a céu aberto, mas não sabiam se aquele céu era real ou mais algum efeito. De repente, um robô apareceu:
‘’Finalmente chegaram à quinta geração. Após a sua conclusão, vocês conversarão com os arquitetos do jogo, além da negociação do prêmio. Não temos mais planos de castigá-los, pois todos acham que vocês já sofreram e perderam o suficiente. ’’
-Sim, nossa amiga Ana morreu, além de outra colega, a Tatiana. – Júlia falava em tom desanimado.
-Todos vocês sabem que estamos em clima de guerra. Na verdade, acho que merecem saber. Boa parte dos habitantes da Cidade das Flores que estavam aqui morreram em um bombardeio nuclear. Ainda não há um número exato de vítimas, mas acreditamos que muitos devem ser seus parentes.
-Meu Deus! Então nunca mais vou ver meus pais! – Ricardo se desesperava.
-Chega de notícias ruins, o que faremos agora então? – perguntou Sabrina.
-A boa notícia é que foi feito um acordo de paz e significa que não terá mais guerra por aqui. Mas lá fora a bagunça é imensa: Ruas desertas, as pessoas estão presas em casa com medo de sair, muitas delas em subsolos do governo ainda assustadas. Precisam arrumar as ruas, já que muitas construções foram destruídas por bombas. – continuava o robô.
-Então qual é a previsão? Vamos viver aqui eternamente? – perguntou Pedro.
-Queria saber se meus parentes estão vivos! – exclamou Beth.
-Sei que todos estão tristes e confusos, mas sabemos que lutaram muito para chegar até aqui. Os arquitetos contam com vocês para um plano positivo que envolve o país. Não posso contar mais detalhes. Boa sorte na quinta geração. Vocês não terão mais inimigos e para não facilitar muito, lançaremos um desafio: Vocês terão vinte minutos para saírem da quinta geração. Precisarão se separar para que tudo ocorra rápido. Precisam encontrar a chave e encontrar a saída e até esse tempo todos devem estar fora. Com isso, o prêmio prometido será garantido. – falou o robô.
-Ok chefe. O grupo vai se organizar primeiro antes de entrar aí. – falou Pedro.
-Vamos nos dividir em três grupos, precisamos encontrar a saída e chave. Quando encontrarem a saída, uma pessoa fica ali, enquanto duas procuram os demais. – Falou Sabrina.
-Combinado. – disse Beth, e assim como os demais fizeram o sinal positivo para entrarem nessa última fase.
Rapidamente, os três grupos andavam a procura do que queriam, esperando que o espaço realmente fosse pequeno. Era ainda um labirinto escuro, mas não tinham mais medo, precisavam focar apenas no objetivo que era de sair dali. Júlia, Matheus e Beth acabaram encontrando uma suposta entrada, porém notaram que havia outras paredes parecidas, que simulavam uma entrada. Cada um parou em uma enquanto Matheus procurava o outro grupo, que poderia ter encontrado a chave. Curiosamente, havia vários baús, com muitos deles vazios. Maurício encontrou mais uma arma, que foi colocada dentro da calça. Pedro já estava com a chave em mãos e torcia que aquela fosse realmente a real, que posteriormente, se encaixou na suposta entrada que Júlia estava. Todos saiam animados, com sensação de dever cumprida, e ao mesmo tempo, com tristeza. Muitos viveram grandes perdas e momentos ruins ali dentro, não apenas em relação à morte das amigas – como Ana e Tatiana, mas com a sensação de adrenalina e ansiedade por estar ali dentro, distante do mundo real, que passava por um trágico momento. A realidade estava escondida em um cenário fictício, com criaturas sobre-humanas.
Uma ponte se aproximava da entrada final, aonde o grupo ia atravessando até outra entrada que estava para eles direcionado. Observavam de longe a entrada que vivenciaram no início e sentiam o vento, com as cores reais do céu: um entardecer nublado. Quando se deram conta, estavam numa sala luxuosa, com dois homens sentados numa grande mesa preta em meio a um banquete, que todos iriam participar.
-Aquele é o presidente do país. – Sussurrou Sabrina para os demais.
-E o outro é um empresário conhecido. Dono de muitas empresas daqui. – completou Júlia.
-Primeiramente, quero parabenizar vocês por ter saído do jogo. Não foi fácil. – disse o Presidente.
-Nosso país e o mundo todo têm passado por diversos acontecimentos turbulentos. Muitos habitantes morreram e grande parte está em subsolos seguros. Andar livremente pela cidade sem um dispositivo de segurança, como uma máscara especial pode causar danos a sua saúde, justamente pela química da bomba nuclear que um país vizinho ativou, e acabou interferindo em nossas atividades, mas estamos bolando um plano para que voltemos algumas atividades em segurança. – continuou o presidente.
-Eliminar os resíduos químicos daria trabalho, mas não seria impossível. - disse Pedro.
-Vocês irão receber o prêmio prometido. Claro que farão o que quiser com o dinheiro, mas temos um bom plano para vocês. Poderiam continuar na cidade com importantes papéis do governo, para reconstruirmos tudo junto com amigos e familiares que estão vivos, ou vocês sairiam continuando serem pessoas comuns.
-Eu continuaria na cidade se meus familiares estivessem vivos, e caso contrário, prefiro retomar minha vida em outro lugar. – respondeu Sabrina.
-Continuaria aqui dependendo de muitos fatores. – continuou Júlia.
-Quero saber se as criaturas sobre-humanas do jogo são reais e como foram criadas. – perguntou Matheus, enquanto todos o olhavam surpreso, pois estavam tão focados no prêmio que se esqueceram completamente dos detalhes do jogo.
-São reais e foram criados através de um teste de laboratório. Eram humanos como eu e você que resolveram, por escolha própria se candidatarem para esse experimento. – falava o empresário, ainda mastigando o seu prato de comida.
-Então, se essas criaturas saírem daquele ambiente e forem para o nosso mundo, poderia ser fatal. – continuava Matheus.
-Mudaria o rumo da humanidade, mas só essa guerra mundial, sozinha foi o suficiente para mudar completamente o rumo e matar milhares de pessoas. Uma simples bomba nuclear seria muito mais devastadora para a humanidade. Imaginem se nesse clima, as pessoas souberem que seria possível atingir a imortalidade? – falava o presidente.
-Ainda assim seria um perigo essas criaturas estarem vivas. Como vencedor, quero que matem todos eles. Além disso, ninguém sabia que haveria coisas assim nesse jogo. – Reclamava Pedro.
-Deveriam ter falado sobre a existência deles antes de alguém aceitar entrar ali. – concordou Júlia.
-Meu Deus, eu não sei o que pensar. Quero saber como estão às coisas lá fora. – Sabrina parecia ansiosa.
-Todos foram alertados dos riscos, inclusive, que poderiam morrer ali dentro. Foi deixado claro que não seria um ambiente para crianças. – explicava o empresário.
-Vejam a lista das pessoas que estão em subsolos do governo. Caso não estejam aí, podem ser que estejam no porão de alguma casa, ou em outro lugar. – o empresário completava.
-Alguns parentes de vocês estão vivos, eu fiz questão de procurar. Saibam que a vida não é a mesma de antes, viajar para alguns lugares agora é completamente perigoso, mas resolvemos oferecer uma escolha a quem quiser ir e a ficar. – acrescentou o presidente.
Ao contrário do que a maioria pensava a conversa não foi emocionante, tampouco triste: foi rápida demais ao ponto de escolherem o próprio rumo. Sabiam que as respostas não seriam iguais e que infelizmente sairiam daquele lugar com rumos diferentes, mas prometeram que a amizade duraria para sempre. Resolveram se reunir para decidirem de fato se continuaria no país ou sairiam, mas cada um tinha sua própria família do qual sentiam falta.
A decisão final surpreendeu a todos: todos resolveram que se mudaria para uma ilha tranqüila e um tanto isolada, não muito longe do seu atual país e levariam seus familiares. Não haveria melhor consenso final. Poderiam fazer um trato com o presidente para oferecer os possíveis recursos que houver na ilha para o atual país e vice versa. Dias depois, os familiares de todos foram chamados para a viagem que aconteceria em pouco tempo. Levariam móveis básicos e materiais de construção inicialmente para sobreviverem, mas garantir a sobrevivência não seria mais novidade para mais ninguém. E assim o fizeram.
Passou um mês, um ano, e o mundo começava novamente a se reerguer. Os antigos participantes do jogo viviam juntos em uma ilha tranqüila, num estilo de vida simples, sem vestígios de bombas e desastres. Eles eram apenas sobreviventes que planejavam viver da melhor forma possível, afinal, a população mundial caiu bruscamente. A amizade e desafios do jogo permaneceram mesmo na nova vida pacata e diferente, sem grandes adrenalinas ou perigos.