Passando um quinau em mamãe...?

Passava bem da meia-noite. Em meio ao denso breu, defronte a janela do quarto de mamãe, no jardim, assestei a câmera para a lua, com uma florzinha de entremeio, e disparei duas flashadas... Percebi que mamãe, como lhe sói àquela hora, havia acendido a luz e, discretamente, se aproximado da janela.

Retirei-me da cena, e fui reencontrar mamãe, já na copa, uns poucos minutos despois -pra usar aqui a forma que a vizinha Tia Rita empregava em seus contos e relatos... - e ao saudá-la, acolho a oferta de um café passado na hora, para empurrar o fubá murcho, também da hora, e me surpreendo, calado, diante de sua observação:

- Sinal de chuva, relampiou lá fora ...

Em seguida, já em torno da mesa, ouço sua observação pressurosa, maternal, e recorrente:

- Vocês não acreditam, mas essas coisas existem e não se deve mexer com elas. São manifestações dos espíritos ...eu respeito...aqui no quintal mesmo, quando esse vizinho lote do Guda era um matagal fechado, muita coisa se movia ali a horas

mortas...

Penso em falar-lhe que de nossa janela, por mais de uma vez, vi com meus olhos, que nem pensavam ainda em enfrentar lentes, um furtivo cavalo chegando bem próximo à cerca à busca seu sustento, bem no meio da madrugada...mas me refreio aqui de prosseguir...

E aí, vem de mamãe, o arremate:

- Pois olhe, inda há pouco, quando me aproximei da janela de meu quarto, a que dá para a rua, não só eu vi o clarão de dois raios, como também vi, no jardim de frente, um vulto se afastando...

Tento rir, para dentro... mas me indago, sem resposta: os ditos raios, eu os produzi ao fazer as fotos ...e o vulto a que mamãe se refere, era eu, afastando-me da cena... ou seria um vulto que me seguia...?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 12/03/2023
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