O Cervo Branco - Vencedor dos concursos de contos Baruch e Carnage

Querida esposa,

Duvido que esta carta chegue até você, mas não me resta nada além de uma folha de papel e um lápis de carvão. Estou com medo! Faz dois dias que estou preso nesta maldita cabana abandonada no meio da mata. Devia ter seguido a sua sugestão de não sair da província de São Paulo atrás de aventura. Tolo! Por que dei ouvidos ao meu irmão Alberto? Que Deus o tenha!

Encontramos o cervo branco de olhos vermelhos. Que animal incrível! Nunca fora só uma lenda indígena. Era muito mais alto que qualquer criatura nesta floresta e tinha enormes cornos majestosos, que pareciam enormes galhos de árvore. Levamos três dias para rastreá-lo e meu irmão ansiava em ter aqueles chifres pendurados na parede da sala. Até então só havíamos atirado em pequenas aves e esquilos, apenas treinando a pontaria.

Alberto disparou quando o momento foi oportuno, e a bala foi certeira. Entrou no pescoço, logo abaixo da linha da orelha do animal, que caiu morto. Corremos atrás do prêmio, mas quando chegamos ao local não havia nada sobre a terra. Foi então que vi a enorme cabeça do cervo nos vigiando acima da mata, mas desta vez o corpo era humanoide, enorme, com mais de três metros de altura e garras afiadíssimas. Os seus olhos eram flamejantes e cheios de ódio. Durante os segundos em que encarei a criatura, com o meu corpo congelado de pavor, percebi que ela carregava um colar em seu pescoço, adornado com pequenos crânios humanos. Era uma armadilha!

Foi tudo tão rápido! Alberto foi puxado para a mata e sumiu num grito agonizante. Larguei minha espingarda e corri sem rumo pela floresta. Encontrei uma cabana abandonada e me isolei. Passei horas encolhido no canto da sala, atrás de uma poltrona, mas percebi que o monstro estava brincando comigo. Ouvi mais uma vez o grito desesperado do meu irmão me pedindo socorro e, em seguida, o som de ossos quebrando, de carne rasgando e do sangue sendo despejado na terra. Não tive coragem de olhar pela janela e ver os restos de Alberto, assombrando-me além daquelas paredes.

Estou sem dormir desde então e meu estômago ronca e dói, implorando por um pão e uma carne, mas não deixo esta cabana por nada! Sinto muito, minha querida! Na noite passada percebi que havia algo escrito numa das paredes: Anhangá vinga os animais! Maldito seja!

Ele está tentando derrubar a porta, acho que minha hora che...

*Conto vencedor dos concursos e parte das antologias Mistérios sem solução da Editora Baruch e Na Trilha do Terror da Editora Carnage (2023).

Fernando Couto de Magalhães
Enviado por Fernando Couto de Magalhães em 06/03/2023
Reeditado em 06/03/2023
Código do texto: T7734126
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