BATA NA MADEIRA CLTS 22

BATA NA MADEIRA!!

Ela corria por sua vida. Um suor espesso e salgado escorria pelo seu rosto, molhando seu surrado suéter vermelho de linho, que já usava há mais de 10 anos. Margareth Fisher Winchester mantinha um semblante de horror estampado no rosto. O velho coração, que já vinha funcionando mal nos últimos 20 anos, parecia um tambor descompassado diante do tremendo esforço que a senhora de 72 anos fazia para se esgueirar em meio à mata densa, próxima à enseada do Rio Vermelho do Sul, em Miller Buff, uma pequena localidade nos rincões da Lousiana, Estados Unidos. Olhou para trás, em pânico, esperando ter tomado distância do que, parecia, ser o fantasma de seu falecido marido. Ela carregava um molho de chaves, um documento e uma folha de papel com certas coordenadas nas mãos, que havia escrito de próprio punho há algumas semanas atrás.

Quando, finalmente, ofegante e quase completamente sem forças chegou na margem do Rio, deu de cara com seu falecido marido olhando para ela sério e carrancudo, exatamente como se lembrava, e emitindo uma luz sobrenatural em volta do rosto! Ele avançou sobre a velha e disse numa voz cadavérica: – “Margareth, vou levá-la comigo, mulher. Estaremos juntos hoje mesmo no inferno!” – O pobre coração da velha senhora não resistiu! No seu último suspiro, deixou cair as chaves, o documento e a folha de papel no brejo que ficava atrás de si. Arquejando em desespero e levando as mãos à garganta, tentou inutilmente inspirar o ar que não vinha. A matrona morreu com um semblante de puro horror estampado no rosto, misturado com uma expressão de surpresa e incredulidade, quase como se tivesse reconhecido alguém!

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A manhã surgiu com um brilho dourado e cálido na Primavera de 1998. O Ford Crow Victoria, de quatro portas, parou diante da garagem da velha mansão e cinco pessoas saíram dele conversando e, de vez em quando, soltando risadinhas maliciosas.

– É aqui pessoal. Chegamos! – Disse, Vizzenzo Fisher Winchester para seus amigos, tendo o cansaço e o desânimo estampado no rosto.

– Uau! – disse Jennifer Dallas, sua atual namorada. Uma loira linda e escultural. – Sempre quis conhecer uma casa mal assombrada. Mas não imaginei que fosse tão grande, amor.

– Para com isso Jennifer! – reclamou Melane Dicks, amiga de infância de Jennifer e confidente – Vou bater na madeira – disse, agachando e batendo na madeira do primeiro degrau da escada do grande casarão à sua frente – Credo! Dá mal agouro falar essas coisas. Ainda mais que teremos de passar a noite aqui.

– Melane tem razão num ponto. Teremos que pernoitar aqui e já está escurecendo. Então, vamos descarregar as bagagens e entrar.

– Acho que isso não foi uma boa ideia – Falou John Bolton Fields, descendente afro americano que era um dos melhores amigos do jovem Vizzenzo, desde a época em que eles brincavam no quintal e nadavam no rio. – Você tem certeza de que as tais chaves e as coordenadas de onde encontrar o cofre estão dentro dessa mansão velha? Quando éramos crianças, nós percorremos cada centímetro dessa mansão horrorosa e nunca vimos qualquer coisa. Além disso, ouvi falar que existem muitos fantasmas presos aí dentro assombrando esse mausoléu – Todos pararam o que estavam fazendo e olharam para ele. Alguns com semblante indagador.

– Fala sério, John! – Disse Joseph Wayne, um homem de 34 anos e que estava ocupado fazendo força para arrastar a enorme bagagem de Melane, parando um pouco para responder e tomar fôlego – Não vai me dizer que você está com medo de fantasmas? Você sabe muito bem que essas coisas não existem. Além do mais, o Vizzenzo nos falou do comportamento excêntrico da dona Margareth. É só permanecermos nos cômodos que ela usava e pronto. Quando amanhecer, vamos usar as chaves torquês para rebentar os cadeados das outras portas trancadas e vasculharemos toda a maldita casa. Com certeza acharemos alguma coisa.

– Ela trancava as portas da casa com cadeados? – prossegui, Melane – Como assim? E pra quê, exatamente? Já pararam pra pensar nisso? Afinal, você, Vizzenzo, nos contou que ela mantinha as portas da maioria dos cômodos fechadas com chave. Não falou de cadeado nenhum!

– Olha, estamos todos cansados, e vocês meninas reclamaram que precisavam usar o banheiro, então, poderíamos deixar esse assunto para mais tarde? ok?

Todos concordaram em uníssono com Vizzenzo, menos John, e continuaram a carregar seus pertences em direção à escada do imenso casarão. Nas próximas horas, se acomodaram todos na cozinha para preparar o jantar. Após o repasto e depois de abrir algumas garrafas de cerveja, foram para o varandão. Num certo momento, Vizzenzo começou a dar uma explicação sobre a casa e a propriedade de seus tios.

Tratava-se de uma antiga casa que foi construída no final do período da escravatura dos EUA em 1863. Desde então tem passado de geração em geração da família dos Winchester, que enriqueceram bastante graças à comercialização das famosas armas Winchester. Espingardas, rifles, revólveres e munições de todos os tipos são comercializados pela marca até os dias de hoje.

– Minha tia era uma pessoa realmente excêntrica – continuou, Vizzenzo – Eu morei com ela nesta casa a maior parte da infância e adolescência. Quando completei 18 anos, fiquei sabendo do testamento e que minha querida tia havia me colocado no documento como seu único e legítimo herdeiro. No entanto, se passaram pelo menos mais dez anos e a maldita velha ainda estava firme e forte apesar do médico da família ter diagnosticado a muito tempo um problema no coração. Eu fingia ser aquele sobrinho ideal, sempre procurando agradá-la em tudo, fazendo todas as suas vontades, rindo das suas piadas sem graça, ouvindo ela repetir histórias do passado com fingido interesse, mas a desgraçada da velha nunca morria! Certa vez, ela passou muito mal e pensei que iria bater as botas, mas não! A desgraçada continuava firme e forte e eu cada vez mais envolvido com dívidas de jogo e drogas. Foi então que notei uma mudança significativa no comportamento da velha. Alguns dias após a morte de meu tio, notei que ela ficava cada vez mais reclusa e que parecia que andava sempre assustada. Antes, ela sempre me pareceu bastante corajosa e resoluta, mas, de repente, estava tão assustada, que parecia mesmo estar vendo fantasmas. Lembro que me abraçou tremendo e suando frio, apavorada! Abraçar aquele corpo esquelético e fedendo a “cheiro de velho” me dava náuseas, mas eu sei fingir bem. Perguntei: por que você está tão assustada, tia? –“Oh! Meu filho! Eu acho que devo estar ficando louca, Vizzenzo! Ando vendo coisas! Deve ser o cansaço. Acho que vou subir e tentar dormir um pouco” – Peraí, tia! – disse eu, com um tom de voz cada vez mais preocupado – “O que foi que a senhora viu? O que a assustou tanto? A senhora está tremendo e suando. Pode me contar, tia.” – Foi então que ela me disse ter visto meu falecido tio em carne e osso bem na sua frente no corredor de cima. Uma fagulha de eletricidade parecia ter percorrido meu cérebro naquele momento! Eu me passaria pelo meu falecido tio e tentaria fazê-la, finalmente, ter um infarto, o que acabou ocorrendo.

– Quase todos nós sabemos desta história, Vizzenzo! – Disse, Joseph Waine, cujos cabelos ruivos e semblante severo dava um ar exótico ao antigo amigo de Vizzenzo – Alguns de nós até te ajudaram. Mas não adiantou pra muita coisa, não é mesmo? Afinal, o tal testamento sumiu e as chaves das portas e dos cadeados também desapareceram! E se nós não encontrarmos logo esse documento, toda a fortuna de sua tia, estimada em quase um bilhão de dólares, será destinada a uma instituição de caridade. E o prazo já está se esgotando.

– Verdade – emendou, Vizzenzo – De acordo com meus advogados temos no máximo duas semanas.

– O quê? – exclamou, Jennifer, surpresa, quase indignada – E o que estamos esperando, então? Vamos abrir logo esses cadeados!

–Pessoal, estas portas foram trancadas por um bom motivo e temos que esperar pelo amanhecer do dia. Vai por mim. Vocês não vão querer encarar o que tem aí dentro – o afro americano suava muito e parecia se sentir mal.

– O que houve, John? – perguntou Vizzenzo, se levantando e se aproximando de John. Ele nunca tinha visto o amigo falar e se comportar daquele jeito. Estava com uma expressão de pânico e suava muito – Você parece saber de alguma coisa que nós desconhecemos.

– Ah! Fala sério, gente! – começou, Joseph – vocês vão querer me convencer de que a casa está repleta de fantasmas? Uuuuhh É sério isso? – e soltou uma gargalhada.

– Cala a boca, Joseph! – Melane interveio – Acreditando ou não, quero ouvir o que John tem a dizer. Anda logo, John. O que você quer nos contar?

– Bom – começou John, relutante – fui eu quem ajudou a sua avó com as trancas. – Disse de uma só vez, com a voz um pouco mais suave, envergonhado, e olhando para o amigo. Vizzenzo era um homem na altura de seus 38 anos, legítimo herdeiro dos Winchester, que tentou dizer algo, mas foi abruptamente interrompido por John, que começou a contar o que aconteceu.

– Eu estava trabalhando no jardim da casa há uns 02 anos atrás, quando sua tia me chamou. Ela parecia tensa e fazia uns bons meses que eu vinha percebendo sua súbita mudança de comportamento. Me levou para a sala de estar deste casarão e fechou a porta. Ela me disse que estava sendo assombrada pelo espírito de seu falecido marido e que sabia que eu praticava uma religião de origem africana, a UBUNTU. É um pouco parecida com o Vodu, mas com uma conotação bem diferente. Enfim, não vou entrar em detalhes, mas nós, UBUNTUS, temos certos meios de “prender espíritos” e assim, com total consentimento de sua tia, eu e meus companheiros de religião, montamos um ritual em uma noite e horário específicos. Então, conseguimos “prender” o espírito de seu tio na sala de cinema no terceiro andar da casa. Além das defesas místicas feitas por mim, ela achou melhor trancar o cômodo e reforça-lo com cadeado. – parou para olhar para Vizzenzo, e continuou – E isso foi bem antes de você montar seu plano sórdido, cara. E apesar de achar que você fez uma puta de uma sacanagem com sua tia, e eu ainda não ter te perdoado por isso, acabei aceitando vir aqui, contra a minha vontade, por saber que vocês precisariam de minha ajuda – pigarreou, olhando distraído para o teto, evitando o olhar cínico de Vizzenzo e prosseguiu – Só que, com o tempo, as coisas começaram a ficar meio sinistras. A cada lua cheia, durante todo o ano de 1996, tivemos que prender mais e mais espíritos, e a cada dia apareciam mais. Não tínhamos ideia, no início, do que estava acontecendo, mas fiquei sabendo pelo meu xamã, que o primeiro ritual tinha desencadeado uma espécie de efeito colateral no mundo espiritual. A partir daquele dia, cada vítima morta por uma arma da marca Winchester no passado começaram a surgir dentro desta casa. A nossa sorte é que ela é um casarão bem grande, sabe? Ela tem 25 quartos grandes e espaçosos. Sendo que 13 são suítes enormes com banheira. Fora as despensas, áreas de serviço e varandas. Sua avó acabou meio que “espremida” entre a cozinha, a copa, o quarto menor de cima e as escadas e corredores principais. Todo o resto já havia sido trancado e “benzido”.

– Rá! Eu não acredito em nada dessa merda! – disse Joseph – Quer saber? Eu acho que esse crioulo é maluco, isso sim! Onde já se viu? Prender fantasmas! Conta outra, xará! Eu vou entrar naqueles cômodos nem que tenha que explodir essas portas! Nosso amigo Vizzenzo vai ficar bilionário, cara! E prometeu uma grana preta para nós se o ajudássemos a achar esses troços. Então, fodam-se os fantasmas!

– Joseph tem razão! – disse Jennifer – Eu concordo com ele. Há muita grana em jogo. Não vou desistir agora só por conta de fantasmas e nem pelos delírios de uma velha louca morta! Então? O que estamos esperando?

Melane disse que concordava e não falou mais nada.

John ainda tentou convencê-los a fazer isso durante o dia. Passariam a noite ali e, de manhã bem cedo, começariam os trabalhos. Mas acabou se calando, vencido pela maioria.

Decidiram se dividir em duplas, com exceção de John, para andar mais rápido. Os homens rebentariam os cadeados e arrombariam as portas. Depois deixariam as meninas procurando e partiriam para a próxima porta.

Melane foi a primeira a começar a procurar. Ela e Joseph haviam aberto a porta do grande quarto do primeiro andar. E o homem ruivo já estava se empenhando em abrir a porta do segundo quarto, quando a garota de cabelos negros e olhos castanhos começou a revirar as coisas, enfiando as mãos nas gavetas, revirando tudo e até mesmo olhando debaixo dos colchões. Foi quando viu uma pequena porta do lado oposto do recinto. Nesse quarto, Alice Cooper estava se maquiando e se preparando para a grande festa que havia se anunciado desde a chagada dos visitantes. Ela e pelo menos dez outros fantasmas não gostaram nada de terem “suas coisas” sendo bagunçadas. Melane abriu a pequena porta e constatou se tratar de um antigo e desativado poço de roupas sujas. Provavelmente iria terminar na lavanderia uns seis metros abaixo. Foi quando um pedaço de vento gélido percorreu sua espinha fazendo-a olhar para trás, onde a jovem deu de cara com Alice Cooper, que a olhava bem de perto com seus olhos azuis e um filete de sangue escorrendo pela testa e pescoço. No alto da cabeça, os miolos da jovem estavam espalhados à mostra. Melane deu um grito devido ao tremendo susto, dando um passo para trás e, se desequilibrando, caiu no poço da lavanderia aos berros. Ninguém ouviu qualquer ruído. A porta que tinha sido arrombada estava fechada, como se nada tivesse acontecido.

Joseph começou a procurar no segundo quarto. A disposição e quantidade de móveis parecia com o do quarto de Melane, com exceção de um pequeno armário que, estranhamente, estava situado bem no centro do recinto. Curioso, decidiu começar por ele, mas, de repente, sentiu um pequeno tremor vindo do chão acompanhado de um estranho barulho de muitos cascos galopando. Ele não teve dúvidas! Era como se um rebanho inteiro estivesse passando bem perto de onde estava. E parecia vir do armário! Num rompante, abriu a porta do móvel e um horror indescritível tomou conta de seu ser. A visão que teve de dúzias de bisões todos ostentando um profundo ferimento na cabeça ou nas costas, vindo diretamente em sua direção o fez quase ter um infarto! Ele fechou a porta abruptamente e se encostou na mesma um instante para recuperar o fôlego do tremendo susto, esperando que aquela ilusão terminasse. Mas não! Dando alguns passos para a frente, ele se volta e encara a porta do armário, pensando no absurdo de tudo isso. Deu um sorriso, pondo a mão direita na boca, quando se lembrou de um desenho do Pernalonga – “Absurdo!” – pensou – “Não é possível! Completamente impossível!” – E foi nesse momento que o armário inteiro se parte em mil pedaços e a manada passa galopando em cima do corpo do pobre homem que não teve mais qualquer tempo para fugir ou reagir. O cheiro de almíscar e podridão ficará impregnado no cômodo durante semanas.

Já fazia uns 10 minutos que Jennifer estava vasculhando o quarto no segundo andar, e nada! Vizzenzo foi para o quarto seguinte. Cristofher Hawkins estava fazendo barba junto com seus outros vinte companheiros de quarto, quando viu a porta ser arrombada e a moça mais linda que ele viu na vida adentrar o cômodo e começar a revirar tudo. Assim que ela havia vasculhado quase todo o cômodo e decidiu passar para o banheiro, a coisa ruim aconteceu. A porta do grande banheiro se fechou abruptamente atrás dela. Ela tentou abri-la, mas não conseguiu. E antes que começasse a pedir por ajuda, notou que não estava mais sozinha. Pelo menos vinte e dois homens nus da cintura para cima estavam diante dela, ostentando rombos na cabeça e ainda sangrando. O grupo fantasmagórico deste cômodo era constituído por suicidas, covardes e homens que foram executados com vendas nos olhos. Alguns ainda ostentavam suas vendas e suas feridas. Jennifer entrou em tal pânico que, tremendo dos pés à cabeça, não conseguiu mais se mexer. Lágrimas escorriam pelos seus olhos. Ela tentava gritar, mas o som não saía de sua garganta. Todos começaram a tocá-la. No rosto, nos seios, nas nádegas, em todos os lugares, num verdadeiro frenesi sexual em gélido braile. Jennifer Dallas, depois disso, ficaria internada em um sanatório para sempre!

Vizzenzo e Jonh se encontraram no corredor norte e decidiram abrir a próxima porta juntos. Se depararam com um enorme salão cheio de livros e algumas prateleiras com garrafas de bebidas. Bem no centro do cômodo, uma gigantesca mesa de carvalho dominava o ambiente. De repente, a porta se fechou atrás deles e a loucura tomou conta do local! Fred Cutler e Amond Sculer, dois cowboys, ainda estavam se digladiando! Fred se arrastava no chão com sua caixa torácica exposta e sem o braço esquerdo, usava a mão direita, agora sem dois dedos, para puxar o gatilho. Ele xingava e esbravejava contra seu oponente. Amond se apoiava na grande mesa em uma perna só, pois sua perna esquerda ficou em algum lugar pelo caminho entre a grande lareira e a porta. Ele conseguiu atingir o que restava do ombro de Fred, que praguejou e xingou o adversário. Isso foi demais para o pobre cérebro de Vizzenzo! De olhos esbugalhados, devido ao pânico, se ajoelhou no chão e teve um ataque nervoso descontrolado. Nunca mais se recuperaria totalmente! Passaria o resto dos seus dias tomando anti-depressivos e fazendo tratamentos psiquiátricos.

John, enquanto isso, lutava usando sua mediunidade para que não fosse possuído pelos espíritos e por todo aquele frenesi. Seu treinamento religioso indígena o tornou mais resistente que o amigo ante a pressão psicológica e espiritual esmagadoras do ambiente. Foi nesse momento que ouviu uma voz gritar bem alto, acima de todas as outras, em sua mente: – “BATA NA MADEIRA!!” – de início, não reconheceu a voz que falava insistentemente : – “BATA NA MADEIRA!! AGORA!! BATA NA MADEIRA!!” Unindo todas as suas forças e criando coragem em meio às balas que zuniam à sua volta, o homem negro se jogou por sobre a grande mesa de carvalho e começou a esmurrá-la com os punhos fechados produzindo um barulho parecido ao de um tambor. Fred Cutler e Amond Sculer, após 135 anos, pararam de atirar um no outro e olharam estupefatos para John, que continuou a esmurrar o móvel com toda a força que podia. Os dois adversários fantasmas se arrastaram desesperadamente em direção a lareira e se jogaram dentro dela e desapareceram. Os fantasmas da casa toda, agora libertos das trancas e às dezenas, passaram a correr de todos os lugares em direção às lareiras mais próximas e suas chaminés, se atirando e se engalfinhando para escapar da maldição que os prendia há mais de um século! Os primeiros a chegar na grande lareira do imenso salão foram os bisões, alces, ursos, lobos e lebres. Todos mortos por uma Winchester! John foi obrigado a subir na mesa para escapar da avalanche de cascos e patas da imensa manada, que se atirou pela grande lareira, cuja chaminé passou a soltar uma fumaça negra e fétida. Depois vieram os homens, mulheres e crianças, seguidos depois pelos cochos, feridos e mutilados que se arrastavam pelo chão. Por fim, o silêncio reinou na grande casa, com exceção das batidas de John na mesa, que só parou quando já havia esfolado a mão e quebrado alguns dedos. Olhando por cima de seu ombro esquerdo, parou de bater e viu um vulto fantasmagórico que reconheceu ser de dona Margareth que disse algo para ele. Pela leitura dos lábios entendeu o que ela dizia – Muito obrigado! – E a fantasma da matrona dos Winchester se jogou na lareira para nunca mais ser vista novamente. Então, ele soube de quem era a voz que falava com ele para bater na madeira.

FIM

Tema: Fantasmas e Tribos Selvagens

Obs do autor: Não existe qualquer relação do texto com fatos da nossa realidade. Qualquer semelhança com a realidade (se houver) é mera coincidência.

Rogério S Malta
Enviado por Rogério S Malta em 05/03/2023
Reeditado em 06/03/2023
Código do texto: T7733638
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