EM SETE DIAS DE TERROR - CLTS 22
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“O tempo não se interrompe, o tempo, o tempo, o tempo ...” (Albert Einstein)
É muito importante anotar em letras graúdas, graudíssimas, que o terror sentido até o mais intímo nível celular em mim não foi algo que se possa descrever em termos materiais, digamos assim, talvez num aspecto quântico ou interdimensional, mas definitivamente, fora de alcance da compreensão primitiva dos nossos parcos cinco sentidos. Apesar disso, todo o conjunto dos fatos pode ser demonstrado e cada qual retire para si o sentimento que melhor lhe aprouver.
A meu ver, as coisas iniciaram desandar após as malfadadas eleições mundiais daquele ano horroroso. Nessa época, ocupava-me em trabalho investigando casos paranormais de toda e qualquer espécie, claro que cultivando especial interesse pelas antiguidades catalogadas nos compêndios insolúveis. Algumas semanas após o fatídico sufrágio eivado de dúvidas e suspeitas, acontecimentos bizarros espoucaram por toda parte e eram fielmente reproduzidos com fervor quase luciferino como se algum tipo de orgulho maligno exigisse publicidade. Curiosamente, fui contratado, exatamente, para descobrir o quanto era ilusão, o quanto era verdade e, se possível, encerrar o tema categoricamente. Por questões éticas, reservo-me o direito de não divulgar a identidade de meus empregadores, em que pese tal informação possua muito de admirável.
Metódico e cauteloso, apesar de entusiasmado, iniciei catalogar todos os relatos e, após eliminar aqueles inegavelmente absurdos ou totalmente mal construídos, muitos deles sem a mínima comprovação testemunhal, resumi toda a situação em um relato único, o qual de uma forma ou outra se repetia na maioria das narrativas minimamente plausíveis.
Havia diversos depoimentos em distintas localidades, onde cidadãos das mais diferentes classes sociais afirmavam terem presenciado estranhas e noturnas aparições celestes que pareciam reproduzir uma imagem ao final formada por inúmeros objetos luminosos. Não havia consenso sobre a imagem criada. Alguns diziam lembrar um cordeiro no campo, outro acreditavam enxergar mapas com indicação de rios e mares, houve quem visse vulcões e terremotos. Enfim, a tal afamada imagem era ainda uma incógnita. Talvez fossem diferentes mesmo, a depender da região onde surgia. Eu não sabia.
Entretanto, mesmo não existindo concordância quanto ao aspecto, todos foram irresolutos ao citarem o extremo pressentimento de perigo e medo. Em decorrência dessa aparente confusão, as pessoas passaram se recolher mais cedo, festas deixaram de ser cogitadas, igrejas voltaram a encher e a vida readquiriu algo de melancólico e nostálgico.
Obviamente, isso não se aplicava à minha pessoa, passei noites sem fim a vigiar, e dias intermináveis viajando à procura sempre do próximo local de avistamento.
Forçoso constar que houve quem buscasse os mitos antigos como explicação para os fenômenos comentados, principalmente aqueles tendentes à mais óbvia constatação de origem extraterrestre.
Porém, entremeio a tantas teorias, grande parte delas beirando o ridículo, fui convidado a conhecer um certo senhor Monroe Tripstan. Confesso que já o sabia por seu renome no meio científico, pois publicara livros de acentuada relevância. A reboque de sua reputação acadêmica, tratava-se de pessoa respeitável e de grande influência. Pois então fui ouvi-lo.
Inicialmente, mesmo diante de sua educação, erudição e lógica argumentativa, além da extrema simplicidade de sua figura, diria até mesmo com algo ascético e bastante inspirador, sua linha imaginativa e explicativa dos eventos me era implausível naquele momento. Explanou-me que os variados rascunhos nos céus seriam a apresentação de um possível planeta ainda não descoberto por nossa ciência astronômica. Diante de minha passividade com sua conclusão, entrou a me ofertar provas e elas vieram por meio de fotografias inicialmente, que foram repassadas, em desenho, para outras folhas e, posteriormente, integradas num grande quadro geral que lhe cobria toda a parede do escritório. Realmente, um belo trabalho artístico, embora a pintura fosse bastante dolorosa e amedrontadora.
Explicou-me, passo a passo, todo o processo de criação. Cada imagem recolhida, cada detalhe e como tudo foi combinado de forma a nos exibir o que seria, em sua mente, um novo orbe planetário.
- Pois não vê, meu jovem detetive? – argüiu-me de repente – estamos diante de uma situação única. Todas as medidas proporcionais se encaixam, há referências a rios, mares, montanhas, planícies, e mesmo ... – Profº Monroe fez pausa para beber água – até mesmo, alguns seres viventes, habitantes dessa nova terra.
Tentarei descrever o que víamos. A sensação era de tristeza e aridez. Se fosse mesmo um novo mundo, deveria ser muito seco, quente e morto. Não se via menção à água em parte alguma, tudo lembrava areia e vastidão. Os poucos personagens vivos descritos assemelhavam-se a monstros rastejantes e mutilados apresentando profunda dor. Qualquer religioso, ciente de seus dogmas, adotaria o nome inferno para tal cenário. Havia ainda sobre tudo uma sombra onipresente como garantidora da maldição. Algo pavoroso e terrível. Mesmo diante do semblante maravilhado de meu anfitrião, perguntas insistiam em contradizer sua hipótese:
- Quem são os mensageiros? – perguntei – Por que mostrar algo tão devastador?
- Não tenho resposta a tais questões e creio que são irrelevantes – respondeu ele simplesmente, olhando-me com espanto – não percebe que tudo o mais fica diminuído diante da comprovação de uma raça inteligente que nos visita e ainda nos mostra sua terra de origem ou algo assim ? É fantástico.
O restante de nosso encontro não foi melhor. De um lado, meu ceticismo, do outro, a plena convicção de que o mistério estava resolvido. Saí de lá com mais dúvidas do que entrei e retornei à minha rotina de trabalho. Nesse ínterim, o mundo seguia com suas próprias anomalias: Guerras e notícias de guerra, fome, doenças e miséria, desastres naturais, assassinatos e ódio.
Durante dois anos empenhei-me com vigor e anotei, investiguei, apurei de um-tudo nesse caminho sem garantia de sucesso. Eu próprio fui testemunha ocular das aparições noturnas, o que muito me surpreendeu por suas características luminosas, linhas perfeitas e aparente domínio sensorial do traçado. Não havia como negar se tratar de movimento não natural, ou seja, era guiado ou formado por alguma inteligência racional de comando. À medida que o tempo passava, mais comum isso se tornava por todo o mundo. E embora eu tenha sido um dos primeiros contratados para o caso, existiam centenas, senão milhares de pesquisadores, todos concluindo a mesma coisa que o professor Monroe já havia dito e publicado: eram imagens de um planeta desconhecido.
Não por orgulho ou vaidade, mas fui um dos poucos a não aceitar essa tese. Não fazia sentido e é preciso ressaltar que havia muita estranheza nesse suposto lugar. Em que pese mostrar-se, praticamente, inabitado, causava-me calafrios. Por essa época, os desenhos estavam disponíveis para todos com qualidade incrível, riqueza de detalhes, porém, não havia quem não se sentisse mal ou aterrorizado apenas de olhar, como se uma força maligna estivesse presente. De toda forma, as pessoas esqueceram dos mensageiros, alguns acreditavam serem anjos, outros, demônios, outros ainda, alienígenas, fadas, animais espaciais, toda sorte de coisas. O foco estava na mensagem e na ruptura da existência de vida extraterrestre.
Alguns meses depois sem poder extrair mais nada de útil, dei por encerrada a missão, redigi meu relatório com todos os documentos pertinentes e enviei aos meus empregadores, os quais, penso eu, ficaram um tanto decepcionados comigo, visto que não acrescentei nada ao que já era público. Por isso mesmo, surpreendi-me bastante quando me requisitaram um relato menos técnico, mais prosaico e informal sobre meu trabalho para que pudessem armazenar em local seguro. Eis que esse relato é o texto apresentado agora por ser expressão da verdade.
Obs: Em tempo, volto às minhas palavras, pois um dia antes de enviá-las conforme solicitado, os fenônemos celestiais mudaram drasticamente em todo o mundo. Anteontem, mostraram, indubitavelmente, o número “7” na primeira noite da alteração, ontem formaram o número “6”, mas como hoje remeto o trabalho, não há como afirmar o que será visto essa noite, embora eu suspeite do que seja, o que muito me apavora face à ameaça de aniquilação nuclear prometida pelo Comandante em Chefe do Urso Oriental, o que daria aos eventos inexplicáveis o contorno de alerta e do tal planeta desconhecido, como querem todos, algo muito pior, nem ouso expressar. Deus seja por nós.
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(...) Essa é a transcrição integral do documento encontrado nas longínquas montanhas mezo-orientais. Os arqueólogos e cientistas de todas as matizes discutem o significado de tais palavras há muitos meses, principal e especialmente porque a datação da época original do escrito contraria a história da humanidade, embora o idioma tenha sido identificado como matriz ancestral das línguas dominantes atuais.
Os testes apontaram que o material teria a idade entre cinqüenta a noventa mil anos, fato que condenaria toda nossa história com seus dez mil anos somente.
Outra descoberta importante e enigmática dada a conhecer ao público é o invólucro onde estava o documento: uma caixa de metal pesado dentro do que seria um bunker de solidez inimaginável em tempos tão remotos.
A tal caixa tem em seu exterior desenhos representando o sistema solar e outros sistemas vizinhos, bem como imagens humanas e animais muito perfeitas, uma clara demonstração de tecnologia avançada e incompatível com o período datado.
Foi dito ainda existir as estranhas letras N A S A – T E S L A estampadas no fundo do recipiente.
Não há consenso, mas os peritos mais sérios a par do assunto, crêem que a história contada pelos misteriosos eventos luminosos faz referência a um planeta desconhecido que fora dizimado por explosão nuclear de potencial incalculável.
Interessante notar que, coincidência ou não, começaram surgir boatos do acontecimento de fenômenos semelhantes aos descritos no texto tão antigo e já se iniciaram as investigações pelos órgãos responsáveis, tudo isso em meio à mais grave crise entre as potências mundiais.
O clima é de incerteza e precaução.
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FIM
Tema: Planeta Desconhecido.