A BESTA DE CHOI. - CLTS 22
As tarefas das quais o mar os exigia eram, para mãos desacostumadas, muitas vezes árduas e indispensáveis. Mais para Manuel Ruiz não. Ele vivia preparado para a difícil vida tão rotineira que tinha a bordo do navio Ganso Amargo. Vindo diretamente da Espanha, foi abandonado quando jovem e por isso, passou a maior parte da vida no mar junto ao capitão Elio. Já estivera ao bordo de nove navios durante toda a sua pequena vida e aos dezesseis anos ainda pensava nas histórias contadas como verdadeiras. Lendas que ninguém se atrevia a contrariar. Na verdade, naquele dia daquele mês, estavam pelo oceano em busca de um dos artefatos mais cobiçados dos quais se tinha ouvido. O capitão lhes levará numa missão para encontrar a tão suntuosa espada da eternidade. _ A lenda é clara: Aquele cujo a lâmina tocar o sangue, será imortal. _ Alertou o capitão em alto tom. Manuel nunca fora muito requisitado para expressar sua opinião, mais se fosse feito, ele com certeza não iria atras da tal espada. Pois a lenda conta que uma criatura horrenda a guarda e com ela, leva para sempre aqueles que tentam lhe roubar, como ninguém estava pensando na criatura? _ Manuel se perguntava. Não era possível acreditar totalmente nessas histórias e não havia muito tempo para pensar, o mar estava agitado e o capitão de mal humor.
_ Mais rápido seus abutres! _ Gritou o capitão. _ Vocês não serão recompensados se morrermos! A tripulação estava tão cansada que iriam preferir pular do navio na primeira oportunidade, mais quem deles faria isso? Quem perderia uma oportunidade como aquela? Viver para sempre! Não eram tão estúpidos, afinal. Em noites como aquela, até o pior dos capitães era fiel aos deuses do oceano. Tal qual suplicavam que os protegessem. Houve um momento do qual o magro menino quase caiu, mais o santo marujo atras dele o segurou pelo colarinho com suas grandes mãos e o menino ajeitou a postura para continuar como lhe foi mandado. É verdade que Manuel gostava de causar boa impressão, pois ele nunca sabia quando iriam querer livrar-se dele novamente. Nove vezes fora o bastante para pensar que a bajulação era sua única aliada e ele reforçava esse pensamento estando em uma das missões mais importantes de sua vida. Mesmo para quem trabalhava para piratas. Por um momento, ele fechou os olhos e pôde imaginar cada fibra do material da espada da eternidade, estava ansioso por como ela poderia ser ao mesmo tempo em que achava que tê-la em posse poderia ser perigoso. Não. Manuel definitivamente não iria querer possuir tal artefato, por mais belo que pudesse ser. Ele ainda não havia decidido o que faria acaso encontrassem. Não gostava da ideia de viver eternamente pois sua vida era ruim o bastante, um dia deveria ter um fim para aquele sofrimento. Mais os outros estavam tão animados que mal dormiam. Quinze dias naquela situação de euforia dos homens. A criatura não importava e realmente ninguém estava pensando nela. Não se pode, no entanto, pensar que não havia riscos. Era o dia do velho Luvino, cujo não suportou a viajem e enquanto observava o corpo de mais um entre os últimos cinco mortos, ele pensava: O que posso esperar para mim? Não espero nada, não terei nada. Se fosse eu, seria assim também. Dava graças aos céus por estar vivo e assim queria permanecer, por tempo o suficiente. Desta vez seria diferente, o dinheiro que ganhasse naquela viajem, completaria o que houvera guardado para uma vida tranquila. O que precisaria depois era de um emprego em terra firme.
Depois de longas horas daquele dia exato, o milagre ocorrera, parecia que finalmente tinham chegado ao seu destino. O capitão, é claro, fora na frente enquanto guiava seus homens pois, era um bom capitão. O mapa não era exatamente preciso, ele tinha trezentos anos de idade. Os desenhos não descreviam nada do que viram, havia na praia e uma pequena caverna. Nada mais. A ilha era completamente confusa. Cercada por uma vegetação de enganar os olhos. Adentraram então a pequena caverna cujo fundo era ainda pouco visível mais com tochas acesas, era como se o lugar os estivesse esperando. No fim, uma espécie de mesa próxima a algumas ruinas nos fundos daquela caverna. Manuel era o último da fila mais conseguia ver perfeitamente o admirável corpo de uma donzela em cima da mesa, ela usava uma vestimenta antiga, muito leve de uma cor azul acinzentado, seus cabelos eram pretos e sua pele alva, não era como se estivesse morta. Apenas dormia segura com seu semblante tão doce. E ela segurava nas mãos, uma espada, aquela que o capitão julgou ser a qual tanto buscavam, a espada da eternidade. Com muito cuidado, o capitão foi retirando-a das mãos delicadas da jovem mulher. Em seguida, ele fez um pequeno corte na palma da mão, apenas um pouco de sangue era o bastante. Mais o homem dizia não sentir nada diferente, mesmo assim, estava certo de que deveria esperar, não envelheceria mais. Alguns dos outros homens tiveram a honra de fazer o mesmo e Manuel seria novamente o último. Quando estava prestes a cortar a palma de sua mão, a tocha com o fogo que iluminava se apagou, um ruído foi ouvido e puderam, com a luz da lua, notar que a donzela se levantara do seu sono. Suas vestimentas se ajustaram ao seu corpo e ela permaneceu ali, sentada na mesa olhando para cada um dos homens. Ela não parecia assustada, na verdade estava confortável na parecença deles, confortável de mais. Ela pulou de vagar para o chão em um movimento sedutor.
_ O que fazemos com ela? _ Perguntou Burkhart, um dos marujos.
_ Qual o seu nome minha jovem? _ O capitão perguntou referindo-se a moça.
A mulher abriu um sorriso e andou na frente deles.
_ Você estão todos enganados sobre isso. _ Ela respondeu em seguida.
O capitão olhou para os seus homens pasmo, não sabia o que deveria dizer, começou a ter um pouco de medo da doce jovem na sua frente.
_ Escute aqui sua... _ Começou Burkhart.
A mulher o impediu de continuar, fez um gesto com a mão e a boca de Burkhart enrolou-se por diversas vezes.
Os homens, assustados, tentaram correr para fora da caverna, mais a saída havia desaparecido.
Manuel ficou atras, apenas observando, ele iria imitar qualquer coisa que fizessem para sair dali.
_ Fiquem quietos e ouçam. _ Ordenou a mulher. _ Cada um de vocês que acha que ganhou a vida eterna está certo, vocês ganharam. Para servir a mim!
_ Perdoe-me... _ Falou o outro marujo. _ Mais a lenda conta que...
_ A lenda diz aquilo que vocês querem ouvir. E vocês chegaram até aqui, por ela.
A mulher ergue-o a espada.
_ Mais ela usou vocês, são escravos dela agora. Meus escravos.
_ Como isso é possível? _ Manuel perguntou enfurecido, ele havia tomado coragem.
_ Veja bem. _ Respondeu ela. _ Se algum de vocês fosse o portador dela, então não seriam escravos, entendem?
_ E você é a portadora?
_ O que você acha menino?
Olhos se apertaram para aqueles que achavam que estavam sonhando, outros começaram a chorar e alguns mantinha a curiosidade, como Etan, que perguntou em seguida: _ Em que devemos servi-la?
O homem teve a cabeça arrancada numa mordida, o rosto da mulher havia se desfigurado de tamanha forma que grandes dentes foram vistos, a gritaria fora inevitável.
_ Alguns de vocês serão minha refeição. _ Ela continuou explicando. _ Outros vão me levar a lugares por todo o mundo até que alcance um grande número de escravos.
_ Eu não preciso ir com você! _ Exclamou Manuel.
A criatura virou em sua direção no mesmo segundo.
_ O que o faz acreditar nisso? _ Ela perguntou.
_ Eu não me cortei, não fiz nada com a espada. Me deixe ir, eu lhe peço.
A mulher o observou pensativa por um instante.
_ Não vou deixar, eu não quero que parta, você é o honesto, quero que fique ao meu lado.
_ Eu sou honesto?
Manuel teve um grande medo da mulher saber que ele apenas não houvera se cortado por que não tivera tempo. Mais ele não seria tão honesto, isso ele não contaria.
A mulher deu suas ordens, os homens avistaram a saída e ela embarcaria em breve. Tudo deveria ser preparado, mesmo assim, seus colegas pediram ajuda escondido para Manuel.
_ Faça alguma coisa, ela confia em você!
_ Nos tire disso e será nosso capitão! _ Falou Otto.
Manuel pensou por um momento, ele tinha que engana-la, mais como em tão pouco tempo, até que se lembrou do que ela mesma havia dito. Quem é o portador da espada, não é escravo.
A mulher esperava paciente no convés, seus pés sujavam o chão, mas ela tinha novamente aquela aparência doce. Colocou sua mão sobre e a dela e os dois observavam o horizonte.
_ Eu poderia lhe fazer uma pergunta? _ Ele perguntou em seguida.
_ Eu permito. _ Ela respondeu.
_ Como você se tornou a portadora desta espada?
_ Eu não me tornei, tolo. Eu sou. Sempre foi assim.
Manuel ficou um pouco decepcionado, ele esperava uma grande história. Um motivo para aquela lenda. Ele sabia que deveria tornar-se o portador.
_ Se ficarei ao seu lado, devo ao menos poder segura-la em minhas mãos, você permite?
A mulher sorriu.
_ Pegue-a. _ Disse lhe oferecendo a espada depois disso.
Manuel segurou-a por um instante, pareceu admira-la. E depois tentou deferir um golpe na mulher que o empurrou no mesmo segundo. Sentia-se traída, havia fogo em seu olhar.
Ela se aproximou um pouco mais, iria mata-lo com suas forças mais Manuel consegui cravar a espada em sua barriga. A mulher tentou compreender o que havia acontecido por um instante e caiu nos braços de Manuel suspirando.
Ela ria.
_ Você não sabe o que fez. _ Ela disse.
_ O que eu fiz? _ Ele perguntou.
_ Você sabe o que o portador da espada é?
_ O que você é?
A mulher fechou os olhos e morreu, pareceu que ela havia se deixado ser atingida, como se fosse aquilo que queria. Ela escolheu.
_ Conseguiu! _ Berrou Otto.
_ Ele conseguiu, estamos livres!
Manuel cortou o braço do homem que comemorava e logo abriu a grande boca com dentes semelhantes o da criatura devorando o torso do marujo.
Não havia sobrado tribulação, Manuel retornou a caverna e deitou-se sobre a mesa, fechou os olhos e manteve a espada sobre as mãos.
Tema: Histórias de espada e magia.