Caçada ao fantasma
Caçada ao fantasma (José Carlos de Bom Sucesso)
O sol se punha no horizonte. Hora de apreciação dos poetas, escritores e pessoas que se sentem prazer em olhar para céu e ver as lindas e magníficas belezas naturais.
João Benjamim, engenheiro civil de primeira linha, com grandes conhecimentos também no campo, pois possui uma propriedade agrícola de dez hectares, criando bovinos para o corte, plantando bananeiras para venda na feira nos dias de sábados, criação de peixes e algumas outras atividades agrícolas.
Para exercer todas as atividades acima, conta ele com a ajuda de Osvaldo, mais conhecido por “Osvaldão”, de grande tamanho, pois mede mais de dois metros de altura, de porte físico bem forte e que muitas das vezes não precisa de laço para segurar garotes, pois, com a força que tem, segura o pobre do bezerro entre os braços.
Mariinha é a esposa de Osvaldão. Ao contrário do marido, ela é de porte pequeno, medindo pouco mais de um metro e meio de altura. Magra, de cabelos pretos e compridos. É prendada no ramo da culinária. Fez alguns cursos em órgãos estaduais, sendo orientadora do colégio estadual aos alunos de projetos educacionais. Trabalha três dias por semana no colégio. Assim que folga, vai para a companhia do marido, que carinhosamente o chama de “Osvaldinho”, bem contrário do apelido dele.
Nos finais de semana, quando a lida do sítio termina, Osvaldão recebe a visita de Pedro, seu cunhado, irmão de Mariinha. Pedro é viúvo e aposentado como professor na faculdade da cidade vizinha. Ele também é filósofo e tem vários livros publicados.
No último fim de semana, como de praxe, o filósofo e o dono do sítio se encontraram próximo da porteira. Amigos e brincalhões, assim disseram:
- João, meu filho, o que tem a prosear hoje?
Com o sorriso nos lábios, João, assim, disse:
- Meu amigo filósofo! O Marcos, aquele professor de religiões, no colégio estadual, me disse que viu algo diferente perto da “Mata da Calúnia”, aquela logo após o córrego grande. Ele estava passeando de bicicleta quando escutou algo diferente do normal.
Fez uma pequena pausa e continuou:
- Segundo ele, vários gemidos foram ouvidos como se alguém ou algo do além pedisse socorro. Sentiu cheiro de enxofre e cinzas queimadas. Sentiu, ele, também, fortes arrepios pelo corpo que até elevaram os cabelos. O corpo dele tremeu de medo. Mal pode sentir o cheiro, quando, de repente, sentiu algo lhe puxar e segurar-lhe o braço direito. Sentiu, também, o frio pela barriga como se estivesse sendo segurado e agarrado. Começou ele a gritar e, de tanto medo, perdeu os sentidos e acordou uma hora após. Estava caído na estrada e foi socorrido pelo Plínio, que ia pescar no córrego.
João, olhando firmemente para o lado da mata, distraiu-se um pouco com o gavião voando sobre a referida mata. Parou de falar por alguns instantes e logo retornou ao encerramento do acontecido.
- Ficou ele sem fala e com dificuldade, contou o acontecido para o pescador. O pescador, porém, com medo, retornou em companhia do professor.
- É isto, meu amigo!
O filósofo, meio entusiasmado com o “causo”, sorriu e disse:
- Não acredito muito. Não existem coisas do além... São miragens psicóticas que o ser humano produz dentro da mente e as transforma em imagens...
O engenheiro, porém, não disse nada sobre a retruca do doutrinador. Esquivava um pouco, porque tinha medo de fantasma. Ele já tinha ouvido várias estórias ou contos sobre a Mata da Calúnia, mas ficava quieto sobre o assunto. Já o amigo, o doutrinador, não tinha medo. Queria desvendar o fato custe o que custar.
Em outas datas, o filósofo ia direto aos fatos. Conta-se que passou três noites em vigília na fazenda dos Souzas para solucionar o fantasma do alto da árvore. Ficou, também, duas noites à beira do Rio da Mortes para solucionar o que os pescadores relatavam que pedras eram jogadas sobre eles. Muito mais coisas o doutrinador participou.
O filósofo, olhando para o engenheiro e sorrindo com ares de escárnio, abriu a boca para dizer algo, porém foi rapidamente retrucado:
- Meu amigo! Não olhe para mim e nem sorri este sorriso debochado, porque eu não vou a lugar algum consigo, principalmente na Mata da Calúnia. Eu tenho muito medo... Sabe, né?
Mostrando-se apressado, quis sair rápido e o fez.
Quando se distanciava do professor, ele disse:
- Chama o Osvaldão! Ele, idêntico a você, não tem medo. Vocês formam o par perfeito para essa aventura. Eu não vou não!
O filósofo, já sabendo do medo e da falta de coragem do amigo, foi logo sorrindo e disse:
- Medroso de uma figa! Borrador na calça! Eu vou até lá e desvendo tudo! Ouviu?
Balançando a cabeça e sorrindo internamente, lá foi o filósofo para a sede do sítio. Foi chegando e chamando pela a irmã e pelo cunhado, que já o aguardavam.
Osvaldão, muito corajoso e destemido, foi logo dizendo que aceitava a parada. Ia chamar o Joaquim, meio benzedor, congadeiro, folieiro e outros mais para a nova aventura. Ia marcar para o próximo domingo, pois iriam sair bem cedo. Levariam matulas, suco e até algumas latinhas de cerveja para espantar a assombração.
A semana foi passando e os planos deles se concretizando.
Na data marcada, reuniram-se o doutrinador, Osvaldão e o Joaquim, que se muniu de várias medalhas no pescoço, terços, algumas imagens de santos, em miniatura e o cajado na mão direita.
O sol ainda não havia nascido totalmente. Eles, porém, já se marchavam rumo à famosa e assombrosa Mata da Calúnia. Não se sabe a origem de tal nome, mas o lugar era feio, sombrio e com todos os requisitos para morada de fantasma e assombração.
Por volta de oito e meia da manhã, após uma breve e arrepiante parada, eles, finalmente, chegaram ao local onde o ciclista afirmou que viu algo diferente. Tudo estava calmo, exceto o bando de urubus que voava em forma espiral, pois, ali por perto, o mal cheiro vindo do vale, onde o pequeno córrego passava, havia um bezerro morto há cinco ou seis dias.
Joaquim passou à frente deles e fez algumas preces, sempre segurando o cajado junto ao peito. O cheiro da carniça aumentava cada vez mais à medida que o sol esquentava. Urubus pousavam e levantavam voos rasantes, mas não eram motivos para que eles se sentissem medo. Osvaldão estava confiante naquela manhã. Eles seriam coroados reis no caso da descoberta do fantasma. Poderiam ganhar prêmios do comércio e até menção honrosa na câmara dos vereadores da cidade. Seus nomes, suas fotos e as entrevistas para os jornais já cogitavam a mente de Osvaldão. Em breve silêncio, ele chegou a dizer aos colegas, mas todos estavam concentrados que ele mesmo não disse nada, ficava somente pensando.
Joaquim sentiu um certo arrepio quando se transpôs a segunda mais alta árvore daquele lugar. Sentiu-se mal estar, pois o cheiro da carniça aumentava mais, causando-lhe uma pequena tonteira. Para não cair no penhasco de mais de cinco metros, ele se segurou no tronco da árvore e lá se foi seu cajado batendo entre pequenos troncos de árvores pequenas até chegar ao fundo, no lugar cheio de arbustos, gramas altas, taboas e a pequena lagoa formada pelas águas das chuvas dos dias anteriores. Ficou triste em dizer da perda e disse:
- Perdi minha guia. Agora não estou protegido e nossa caçada ao fantasma está prestes a terminar com nossa derrota.
Osvaldão, muito sério e demonstrando certo receio, foi logo dizendo que achava que algo lhe seguia. Não sabia o era, mas a cada pisada dele na mata, seus ouvidos captavam dois ou três passos vindos na sua direção.
O mesmo também dizia o professor, pois não se sentia bem e se arrependeu de duvidar daquele lugar. Poderia estar ali uma, duas ou mais almas penadas que não alcançaram o céu. Estavam vagando ali e amedrontando pescadores, admiradores da natureza e até os aventureiros. Seu corpo arrepiava e as ideias vacilavam entre si. Não se concentrava de modo algum.
O mestre espiritual sempre dizia que se sentia fraco e não tinha forças. Restavam poucos metros para o local onde o ciclista tinha visto algo, mas eles não tinham forças para chegar até lá.
De repente, os passos ao redor deles foram aumentando. Quando algum deles dava um passo, ao lado, na mata, eram ouvidos quatro, cinco e mais. Assim por adiante.
Em poucos segundos, Joaquim deu o forte grito de que foi acertado. Tomou o forte impacto que o jogou por cerca de três metros à frente. Teve sorte de não bater em nenhuma árvore ou tocos, pois poderia machucar muito. O filósofo tomou duas cacetadas nas costas, as quais foram ouvidas por Osvaldão. O barulho foi tão forte que até gemeu de dor. Osvaldão, por tanto, foi poupado, porque no momento em que os dois foram atingidos, gritou proteção a Deus, mas não deixou de sofrer o pequeno empurrão, que o jogou sentando sobre a moita de espinhos. Ele não gritava de medo, mas de dor pelas pontas afiadas dos espinhos.
Gritando, saíram todos correndo. A máquina fotográfica foi perdida, o aparelho celular do filósofo não se sabe para onde foi e o guia espiritual não mais viu seu estimado e confidencial cajado.
Enquanto corriam para sair daquele local, vozes, risos, gritos e mexidos nas árvores e nas folhagens eram ouvidos.
Quando estavam salvos, o engenheiro lhes prestou socorro, pois não teve coragem de ir até lá, mas os seguiu sem que eles o vissem.
Osvaldão foi para o hospital e o médico lhe tirou alguns espinhos das nádegas.