A CANELA - ÚLTIMO CAPÍTULO

O rapaz que vendia as rabanadas ficou paralisado com a proposta de Eurípedes. Inclusive o jovem deixou cair o cesto de rabanadas no chão. Graças a Deus, pensou ele, só tinham três rabanadas, agora lá dentro, e elas não caíram.

 

Imediatamente ele respondeu ao assassino voraz, mesmo sabendo que aquele fosse um pequeno burguês comum e sedento por sangue: - O senhor sabe onde moro?

 

Eurípedes que só pensava nas rabanadas fritas e regadas á canela...retrucou: - " Não sei, mas vou com você"

 

E o rapaz disse: - Eu moro no MORRO DO ALEMÃO.

 

E lá foram eles rumo às rabanadas. Bem, apesar da oferta de Eurípedes de eles pegarem um táxi. O rapazola, de quase quarenta anos de Rio (ele tem 34), disse: - que isso patrão, vamos a pé mesmo. Bom, Eurípedes então disse: - não, porém, sugeriu um ônibus, e o rapaz, que não era acostumado a se deslocar em veículos, a não ser sobre seus pés disse: - sim.

 

Só que estava ficando tarde, e o natal se aproximava, foi então que contrariando o menino das rabanadas, nosso Eurípedes pegou um táxi. O rapaz descalço (torceu um pouquinho o nariz), mas entrou no amarelinho. O ar estava ligado, o motorista parecia mexicano (seu bigode era longo), na aparência, mas era um morador de Copacabana. E olhando profundamente nos olhos de Eurípedes bradou: - E aí chefia vai pra onde? Espero que seja pra zona sul, pois esta é minha última corrida

 

O vendedor ambulante se adiantou ao professor Eurípedes, e se pronunciou: - Vamos para o Morro do Alemão senhor. Foi quando o "mexicano" olhou para trás e olhando para Eurípedes sorriu e afirmou: - Que piada foi esta meu nobre?

 

Eurípedes obtemperou: - O destino é este mesmo. Aí o motorista meneou a cabeça negativamente e acrescentou palavras ao ato: - Podem descer. Este trajeto eu não faço: - Compre a droga de vocês em outra paragem...e com outro motorista. A mente de Eurípedes deu um nó: - Ele percebeu que seu natal seria triste, não teria a tradicional rabanada de sempre, e sua esposa ficaria zangada com ele. Foi quando enfiou o cabo do guarda-chuva que trouxe como precaução contra os temporais de verão , que costumam ocorrer na época, e enfiou na barriga do taxista, que jorrou sangue por todo lado... até seu perecer.

 

O vendedor de rabanadas ficou banhado em sangue, e não gostou. Deu uma dentada no pescoço de Eurípedes, abriu a porta do carro, tirou uma rabanada do cesto, deixando duas. E saiu andando e comendo de forma natural ...até chegar em sua residência.

 

 

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 22/01/2023
Reeditado em 23/01/2023
Código do texto: T7701363
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