Medo do Escuro
Aos 16 anos sai da casa dos meus país, detestava a falta de privacidade, no inicio, para manter as despesas dividi a casa com a família de um amigo meu, mas ali, não sentia a invasão que eu sentia por parte dos meus pais, morava e trabalhava no Bom Retiro, um bairro muito gostoso bem próximo ao centro de São Paulo. Sempre amei filmes de terror e por muitas vezes sentia ou via algumas coisas estranhas, eu não ligava e aquilo parecia até me acompanhar, para mim era como brincar com o fogo, mas as chamas nunca iriam me machucar de verdade, nunca me causariam danos, bem, era o que eu pensava, me sentia protegido pelo bem e pelo mal, sei que parece estranho, tinha um jeito diferente de ser e de sentir e também tinha amigos diferentes como eu, que também pareciam ser sensitivos ao sobrenatural.
Uma noite já no fechamento do bar onde eu trabalhava, enquanto aguardava o término do horário eu conversava com um dos meus amigos sobre coisas do além, de repente morcegos apareceram voando na porta do bar, ai comentamos que era melhor parar aquela conversa, pois a sintonia estava se alinhando com o terreno.
Fui para a casa dos meus amigos, onde havia fixado residência, eram dois irmãos, a mãe deles e eu, nessa noite meus amigos tinham ido viajar para Louveira, então estávamos em casa, a mãe dos meus amigos, que eu também a chamava de mãe e eu, era uma noite normal, conversamos um pouco, jantamos e fomos dormir, a mamis como carinhosamente eu a tratava foi para o quarto dela e eu fui para o meu, que dividia com meus amigos, mas naquela noite eu estava com o quarto só para mim, eu amava a ideia do quarto só meu, então, escovei os dentes, e fui para o meu quarto, e estar sozinho ali era algo que eu amava, minha privacidade, minhas coisas e tudo só do meu jeito, eu tinha esse pensamento, até viver o que vivi aquela noite.
Vou te fazer um questionamento, você tem medo do escuro? Porque eu nunca tive, mas após aquela noite eu passei a ter.
Me preparei para dormir e me tranquei no quarto, apaguei tudo, pois sempre detestei a claridade, nunca gostei muito de luzes acesas ainda mais para dormir, deitei no meu colchão no chão e virei para o lado direito, meu lado favorito para dormir, mas não conseguia pegar no sono, pensava em coisas sem sentido, e nada do sono chegar, foi quando senti a presença de alguém se aproximando a frente do meu colchão, eu estava virado para parede e eu pensei: "eu tranquei a porta do quarto, a mamis está no quarto dela," meu coração disparou, eu permaneci inerte, não conseguia me virar e nem mexer um músculo sequer, sentia aquela presença, e comecei a ouvir uma respiração, como se alguém respirasse somente pela boca, era uma respiração muito clara e bem lenta, não havia nenhum outro ruído, agora seria ainda mais difícil dormir, o medo tomou conta de mim, o celular estava a altura da minha cintura ao lado esquerdo, então, bem lentamente movi meu braço esquerdo, liguei a lanterna, nessa hora a respiração parou e olhei para todo o quarto e não havia ninguém ali, ouvi um barulho em cima da cômoda onde ficavam minhas roupas, assustado olhei e não havia nada, usava uma cruz como símbolo da minha fé e proteção, aquela cruz caiu da cômoda, imaginei que tivesse deixado muito na ponta e por isso ele caiu, com as mãos trêmulas, levantei e peguei a cruz e levei para perto de mim e a coloquei no pescoço, então apaguei a luz do celular e me deitei, nesse momento a respiração ficou mais forte e bem mais próxima a mim, eu pulei do colchão e acendi a luz e nada, então, dormi e tive um pesadelo muito estranho, no sonho eu estava deitado em uma cadeira de praia embaixo de um prédio, com um amigo, o mesmo que havia conversado antes de fechar o bar, eu olhava para o lado esquerdo e ali havia um cachorro todo preto, com olhos vermelhos, ele descia caminhando pela parede, no meu sonho eu pensava, "caramba, gato consegue fazer isso," mas um cachorro descendo andando pela parede do prédio está errado, de repente olhei e o cão não estava mais na parede, agora ele estava em frente ao portão do prédio que levava o nome: "Black Gates of Babylon" (traduzindo Portões Negros da Babilônia), então pensei vou abrir o portão e bater o pé assim o cão vai se assustar e fugir, quando abri o portão e bati o pé no chão para afugentar o cão, ele ficou de pé e cresceu, eu tenho um metro e setenta e quatro, o cão agora media mais de dois metros, e de pé com uma das mãos segurando o portão e a outra fazendo o símbolo do rock na minha cara, fiquei muito assustado e tentei fechar o portão, o cão que havia ficado de pé e que cresceu mais de dois metros e com chifres enormes segurou o portão e começamos a medir forças, quando consegui fechar o portão eu acordei, com algo em cima de mim e conseguia sentir o cheiro da respiração que cheirava a carne podre, estava paralisado, parecia uma eternidade o tempo que durou, quando retomei o controle do meu corpo, levantei e acendi a luz, aí consegui finalmente dormir.
No outro dia, acordei e saí para trabalhar, a primeira pessoa a aparecer era um amigo meu que chegou me dizendo que havia sonhado com um cachorro que ficava em pé e fazia o símbolo do rock com a mão para ele, comentei sobre o meu sonho e pedi para que ele se cuidasse, pois não imaginava o que aquele pesadelo podia significar.
Chegou a noite, fui para a casa, me aprontei para dormir, mas agora com a luz acesa, deitei e apaguei sem dificuldades, estava muito cansado porque a noite anterior havia dormido muito mal, tive o sono interrompido por um trovão muito alto, acordei assustado o trovão trouxe com ele uma chuva muito forte, praticamente uma tempestade, que fez com que a luz acabasse, me desesperei, como dormiria agora? E eu sentia que aquilo me visitaria mais uma vez. Comecei a orar fechei os olhos, mas não adiantou, aquele respiração voltou, agora bem atrás de mim e eu sem reação, queria gritar, mas mesmo se gritasse, ninguém me ouviria porque estava só em casa, de repente senti uma mão nas minhas costas e nessa hora implorei a Deus para me proteger e que aquilo não me fizesse nada, mas esse ser agora com as mãos no meu ombro me forçou a virar bem lentamente e ficamos de frente a frente. Tudo escuro, era uma vantagem para mim, pois assim eu não veria nada, uma das minhas frases favoritas era: “sem luz é menos perigoso”, mas então um raio caiu e clareou o quarto e pude ver aquele ser, o mesmo cachorro do sonho da noite passada, ele estava em pé, era todo preto e peludo com os olhos vermelhos e chifres enormes, nessa hora eu gritei, melhor dizendo eu tentei, mas a voz não me saiu, então em uma atitude desesperada peguei a cruz que eu carregava no pescoço e coloquei entre os olhos da criatura, ouvi seu gemido de dor, e um grito horrível, os raios caindo pela chuva me permitiram ver aquela criatura queimando, após isso vi aquilo se afastando e que também aquilo havia se machucado, e assim desapareceu.
Alguns minutos depois a chuva parou, a luz voltou e eu tentando entender o que havia acontecido. Após tudo isso, cai na cama e consegui dormir um pouco, no dia seguinte pesquisei sobre possíveis entidades e encontrei um demônio, não quero mencionar o seu nome, mas ele fazia parte das criaturas que vinham através do escuro, ele costuma visitar e fazer mal as pessoas que sentem medo do escuro, ele fareja esse medo, estuda o mundo com seus olhos famintos e com seu coração maligno espalha o mal e o terror.
Após esse acontecimento eu nunca mais dormi no escuro e carrego até hoje minha cruz no pescoço, agora ungida e mais forte como o símbolo da minha fé.
Nictofobia é o sintoma para quem tem medo do escuro e você querido leitor tem medo do escuro? Se não tem, a dica que eu deixo é: você deveria ter e proteger sua alma.