Sujeito estranho

Solitário, taciturno, soturno, cabisbaixo. Sobrancelhas sempre arqueadas acentuando a severidade do seu rosto. Descrito como esquisito e estranho pelos vizinhos, uma vez que não era dado a sociabilidades nem amabilidades. Cumprimentava a todos friamente, sem sorrisos.

Essa postura séria ante a vida tornava Carlos Wolf um homem pouco quisto na rua onde residia. Morava só. Sem esposa ou filhos. Sua vida era o trabalho. Lecionava na Graduação de História da Universidade Federal. Com os alunos, contudo, tinha bom trânsito. Possuía certa consideração entre os estudantes, mesmo que não chegasse a ser popular.

Sabia que não era querido entre a maioria das pessoas que o conhecia. Especialmente os vizinhos. Mas o que podia fazer? Era a sua indagação diária. Era antissocial por natureza. Não se sentia bem em lugares cheios. O seu lazer preferido eram as leituras, as séries, os filmes. Aproveitava a vida à sua maneira.

O seu rosto comprido, com olheiras e marcas de acne contribuíam para que as pessoas não se aproximassem muito dele, principalmente as mulheres.

Era visto com desconfiança entre os vizinhos.

Ao chegar em casa no começo da noite daquela quarta-feira, viu algumas mulheres ao lado do morador da casa ao lado. Cauã era alto, atlético, com uma barba bem-feita, rosto assimétrico, sempre irradiando o seu sorriso branco. As mulheres se derretiam na sua presença – inclusive as casadas.

No início daquela noite ele estava acompanhado – como em tantas outras ocasiões. Uma bela jovem, boa estatura, busto avantajado, quadril largo, rosto angelical, cabelos brancos, não largava o braço do bonitão. Cauã era empresário e possuía muito dinheiro, uma casa chamativa e um carro muito caro.

Ele era muito considerado e bem quisto entre os moradores da pacata rua residencial, o oposto de Carlos.

Carlos olhou a cena de festividade que se desenhava na casa ao lado. Pensou: “mais uma bela mulher que esse sujeito conquistou”. Era uma visão comum a todos da rua. Cauã sempre aparecia com uma garota eventualmente. Curiosamente, elas só eram vistas uma vez, e ninguém jamais via quando elas saíram da casa do galã.

Carlos entrou para sua casa onde passaria a noite.

Cauã se despediu das mulheres ao seu redor e também entrou com a sua companhia. Havia um quarto na sua casa com revestimento acústico, isso abafava qualquer ruindo, inclusive gritos. Na verdade, esse cômodo foi feito para isso, para que as pessoas do lado de fora não ouvissem os lancinantes gritos irradiados ali.

Nada mais do que uma câmara de tortura.

A bela garota abraçada a Cauã seria mais uma a gritar àquela noite, sem que ninguém a ouvisse. Mais uma jovem desaparecida.

A velha história de como as pessoas se levam pelas aparências.

Aermo Wolf
Enviado por Aermo Wolf em 24/12/2022
Reeditado em 25/12/2022
Código do texto: T7678872
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