Ivy achou que finalmente tudo estava bem… As crianças e o bebê aos pedaços aos seus pés e a sala era um mar de sangue. Respirou fundo por alguns minutos até conseguir perceber os sons em sua volta… E o que havia em sua volta, era só o silencio. O silencio brutal e pesado que sucede a morte. Viu seus filhos caídos aos seus pés. Viu o tanto de sangue que havia entre eles e que brotava de dentro deles… Era demais. Demais… pra qualquer pessoa. Ivy aos poucos voltava a ser a mãe daquelas crianças e tudo aquilo se tornava demais… Demais de se olhar. Começou a tremer, gemer e se contrair, até que um grito se formou de dentro do estômago, atingindo a garganta… rasgando além do ar… todo o seu corpo; como se lâminas quase invisíveis lhe cortassem por dentro. Ao mesmo tempo ninguém podia escutar os berros alucinados de mãe que matara os filhotes. Dizem que ela ouvia: “vozes...”. E que via pessoas que lhe faziam: Pedidos...” e ninguém se importava quando ela: Dizia...”. Agora existiam crianças misturadas ao sangue grudado na poeira do chão. Agora existia sangue vermelho… existiam pedaços de face e dentes por todos os lados; Orelhas, bochechas, queixos, pálpebras... Meninas sem rosto e um bebê esfolado. Tudo isso em meio ao barulho ensurdecedor do próprio grito contínuo e profundo… Quando sua voz finalmente calou, estava rouca e exausta, ajoelhada na poça de sangue dos pequenos corpinhos que pareciam boiar… Se sentiu sozinha. terrivelmente sozinha. Ouviu um barulho vindo do quarto ao lado. “Seriam aqueles que faziam, pedidos…de novo?”. Seu corpo tremeu e ela pôde sentir o pulsar ecoando como alto-falantes alojados na pele. A pulsação nervosa, forte… Avassaladora e que vinha trazendo verdades. Era puro desespero. Involuntariamente se dirigiu em passos rápidos até o quarto. Não havia ninguém… Parou em frente ao espelho e tirou toda a roupa. Uma música chamada “Gods and Monsters” ecoava e Ivy não podia saber se vinha de algum lugar ou de sua cabeça. Deu um breve rebolado e um sorriu. Se sentiu divertida… sexy e jovem. Lembrou-se de quando tinha pouco mais de quarenta anos. E era uma mãe solteira, estava sempre sobrecarregada e era ontem.

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 08/12/2022
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