Menina Veneno - CLTS21

O anúncio na rede social não ficou no ar por muito tempo. André logo encontrou os três amigos que precisava para dividir um apartamento. Natural de Santa Rita do Sapucaí, no sul mineiro, deixou a casa dos pais em busca de independência. Mas logo a realidade bateu à porta e ele soube que não poderia arcar com a parcela do imóvel, despesas e ainda com a faculdade. Em sua cidade, nacionalmente conhecida como o "Vale da Eletrônica", o que não faltava era estudantes procurando por uma república. Logo veio a ideia de montar uma.

Deu certo.

Primeiro chegou Pedro Lucas, de São Paulo. O engraçadinho da turma. André pensou que teria problemas com ele, mas viu que estava enganado. Apesar de ter sempre uma piadinha, ele levava tudo a sério e nunca quebrou uma regra.

O segundo a chegar foi Jeremias, de Patos de Minas, no triângulo mineiro. Este era sério e de poucas palavras. Inteligente e esforçado, estava sempre com um livro debaixo do braço.

Por último, chegou Arthur, vindo de Curitiba. Foi quem melhor se deu com André, logo estavam trocando confidências como velhos amigos.

O apartamento de André contava com três quartos. Pedro Lucas e Jeremias ficaram em um, Arthur e André no outro e o terceiro quarto deixaram para o computador, escrivaninhas e todas as papeladas e livros que os estudantes necessitam.

Na parede onde a cama de Jeremias ficava, ele fixou seus pôsteres de banda de Rock e também seus quadros: A Grande Onda (de Hokusai), que aos olhos de Pedro não passava de um monte de tinta derramada mais parecendo uma montanha de gelo do que uma onda; Campo de Trigo com Corvos II (de Van Gogh), quando olhou para este, Pedro sentiu um arrepio gelado subir pela espinha, era ao mesmo tempo belo e estranho.

Pedro deixou de observar o colega e tratou de arrumar sua própria cama. Não tinha nada para fixar à parede, mas trouxera sua preciosa garrafa d'água para colocar sobre o criado mudo que separava as duas camas de solteiro. Enquanto terminava de estender o lençol, perguntou ao colega qual o horário em que ele dormia, deixando a frase incompleta ao virar-se e deparar com último quadro que Jeremias pendurava na parede: a pintura mais estranha que já vira. O colega viu sua expressão de espanto e tratou logo de explicar:

— Este chama-se O Grito, de Edvard Munch — Jeremias endireitou os óculos no rosto. — O que eu mais gosto.

— Bizarro! — Pedro Lucas exclamou, logo pigarreando e mudando de assunto. — Então, eu estava te perguntando quando é que você dorme, a que horas. Sabe, para não te atrapalhar, é que costumo dormir tarde.

— Ah, não. — Jeremias sentou-se em sua cama, gesticulando com a mão para que o amigo também se sentasse. — Não se preocupe com isso. Eu durmo cedo, mas quando eu apago nem o Papa consegue me acordar! — Ele sorriu, revelando dentes brancos e perfeitamente alinhados.

Os dias seguiram, cada jovem com suas particularidades e características próprias. A paz sempre reinava na república, se tivessem crescido juntos, talvez não se dessem tão bem quanto se deram.

Em um fim de semana, mais precisamente no domingo, Pedro, Arthur e André estavam na sala assistindo à uma partida de futebol, quando Jeremias chegou, carregando debaixo do braço uma pintura.

— Mais um quadro, Jerema? Vai transformar nosso quarto em um museu de arte? — Pedro brincou, levando os colegas às gargalhadas.

— Muito engraçadinho — Jeremias disse, sem humor algum, arrumando os óculos que insistiam em escorregar pelo nariz. — Este aqui eu encontrei na rua, acredita? — Ele virou a moldura, segurando-a com as duas mãos, mostrando aos amigos uma foto bonita e simples, onde um bebê, uma menina sorrindo, calçava botas rosas, rosto gordinho, mãos rechonchudas, sentada à frente de um piano, como se fosse tocá-lo. Ela mantinha a cabeça virada para o lado, fitando quem a olhasse. — Não é linda?

Pedro não fez nenhuma piada. Todos eles ficaram em silêncio. Era só o quadro de um inocente bebê, mas aqueles olhos pareciam entrar em suas mentes, enxergando não apenas seus rostos, mas suas almas.

Na televisão saiu um alto grito, Gooooool, o que despertou os amigos da atenção ao quadro. Enquanto eles gritaram e comemoraram, Jeremias fora para o quarto.

***

Pedro não podia dizer ao colega que o quadro o incomodava. Seria ridículo falar que aquela garotinha estava penetrando em seus sonhos à noite. Seria ridículo dizer que ela o amedrontava.

Pela manhã, Jeremias levantou-se cedo, como de costume, arrumou a cama e olhou para o tal quadro.

— Bom dia, Juliana! — Sorriu para a menina como se ela fosse real e não apenas uma pintura.

— Juliana? Que negócio é esse de Juliana? — Pedro sentou-se na cama, ainda sonolento, mas aquele nome o perturbou. — Resolveu dar nome para a garota agora?

— Não resolvi dar nome à garota — Jeremias virou-se para o amigo, encarando-o — este é o nome dela.

— E como você sabe? — Um arrepiou gelado subiu pela coluna de Pedro.

— Porque ela me disse em sonhos.

Jeremias saiu do quarto, sem perceber o quanto seu colega ficara pálido. "Me disse em sonhos", fora exatamente isso que aconteceu com Pedro, ele também sonhara com a menina, também para ele ela dissera chamar-se Juliana. O que mais ela dissera para Jeremias? Também lhe despertava pesadelos? "Ora, isso é besteira!" Pedro não conseguiu mais dormir, levantou-se e ficou observando Juliana. A sensação de estar sendo observado era muito forte. Ele deu dois passos para o lado direito, os olhos da menina continuaram encarando-o, deu dois passos para o lado esquerdo, também viu o olhar dela diretamente no seu. Não importava para que lado ele fosse, Juliana seguia-o. Pedro balançou a cabeça, fechando os olhos e foi para a cozinha.

— Onde está Jeremias? — Pedro perguntou aos colegas que tomavam café.

— Disse que ia correr — André observou o amigo. — Tá tudo bem, cara? Parece pálido.

Pedro segurou forte no braço de André, puxando-o para o quarto.

— Que isso, colega? — Arthur também levantou, acompanhando-os.

Chegando ao quarto, Pedro soltou o amigo, subiu na cama de Jeremias, apontando o dedo para a imagem de Juliana.

— Olha para isso. Mas olhe bem. Veja os olhos dela! — André e Arthur se entreolharam. Sentiram uma sensação estranha quando viram o quadro pela primeira vez, mas, naquele momento, só viam uma menininha sorridente. — Estão vendo?

— Vendo o quê? — Arthur revirou os olhos.

— Olha direito, merda! — Pedro saltou da cama, agarrando André por trás, segurando a cabeça dele com uma mão de cada lado, direcionando-a para Juliana. — Observe. Os olhos. Concentre-se nos olhos — Pedro deu três passos para a direita, ainda com o rosto do amigo entre as mãos. — Tá vendo agora? Os olhos dela te acompanham — depois fez o caminho reverso. — Viu?

— Também estou vendo! — Falou Arthur, e logo caiu em gargalhada. — Estou vendo que você está ficando louco!

Pedro deixou de lado a cabeça de André, saltando na direção de Arthur e agarrando o pescoço dele com as duas mãos.

— Eu-não-estou-louco. — Disse com os dentes arreganhados, enquanto apertava mais e mais o pescoço do colega.

— Solte ele, Pedro! — André puxou-o pelos ombros. — Pelo amor de Deus, solte ele!

Pedro girou Arthur, jogando-o em sua própria cama, levando as mãos à cabeça.

— Não é possível que só eu vejo! — Encarou André — Ou ele tira este quadro daqui ou eu saio.

— Pare com isso, Pedro. É só um quadro, de uma menininha! Olha para esta parede, as outras pinturas são bem piores e você foi implicar justo com esta?

— Os outros não me encaram nem invadem meus sonhos. — Pedro já não mais gritava, pelo contrário, parecia exausto. — Mantenho minha palavra: ou este quadro sai ou eu caio fora.

— Tudo bem, tudo bem! — André levantou as mãos, balançando-as levemente em rendição. — Você muda-se para meu quarto, fica junto com Arthur e eu venho para cá, pode ser?

— Nem pensar! Eu não vou ficar junto com esse maluco. — Arthur caminhou para a porta, já prevendo um novo ataque. — Eu venho para cá, você fica com ele. — Arthur foi para seu quarto, arrumar suas coisas para a mudança.

O resto do dia correu em total silêncio. Cada um foi para seu curso, separados. A paz e amizade que reinava no apartamento, parecia estar abalada.

***

Jeremias não soubera do ocorrido e ficou surpreso quando encontrou Arthur na cama de Pedro.

— O que está acontecendo? Cadê o Pedro Lucas?

— Parece que nosso colega tá com medo da sua menininha. — Arthur inclinou o queixo na direção de Juliana, virando logo em seguida para o canto e puxando o cobertor na orelha.

***

Era um dia bonito e o Sol brilhava com força no céu límpido. Um homem alto e magricela parecia não querer aproveitar o dia para trabalhar. Assim que a esposa saiu porta afora, ele pegou a garrafa de cachaça para lhe fazer companhia. O bebê começou a chorar. "Cala a boca!" uma, duas, três vezes. O bebê não calou. Garrafa se estilhaçou no chão. Cheiro forte de álcool. Choro sufocado, lágrimas inocentes derramadas. Falta de ar. Desespero.

Arthur acordou atordoado, suando frio e o coração acelerado. A noite ainda estava escura, mas ele conseguiu distinguir o quadro do bebê na escuridão. Ela fitava-o. Seus lábios sorriam, os dentes eram visíveis, mas então, ela parou de sorrir e começou a chorar. Seu choro era alto, lágrimas escorriam pelos vidros do quadro, pingando pela parede.

Arthur saiu da cama e correu para a cozinha. Acendeu a luz e espiou pelo corredor. Balançou a cabeça "foi só um pesadelo". Tomou um copo de água gelada e voltou para a cama. A menina sorria.

***

No café da manhã, que não passava de pão de sal amanhecido com margarina, ninguém disse nada, e ainda sem se olharem, foi cada um para seu canto.

À noite, sentindo-se incomodado com tanto silêncio, André procurou por Arthur.

— Ei, tá tudo bem? Você não falou mais comigo.

— Tudo bem, cara. É só que, sei lá, ficou um clima estranho com Jeremias. — Arthur desviou o olhar. — Estava pensando em procurar outro lugar para ficar.

— Mas por quê? Não vai me dizer que também não gosta do quadro!

— Não. — Ele pigarreou. — Nada disso, é só o clima mesmo, com Pedro também.

— Deixa de bobagem, já está tudo resolvido.

Pedro estava no banho e soltou um estridente grito. Todos correram para a porta querendo saber o que aconteceu.

— Esta merda quebrou! Só sai água fria!

— Não brinca, cara! — Todos reclamaram, afinal, ninguém ainda tinha tomado banho.

No decorrer da semana, além do chuveiro quebrado, o ar-condicionado ficou maluco, mudando de temperatura sozinho, a televisão mudava de canal do nada ou desligava, o despertador do relógio sempre disparava... Os jovens andavam nervosos e chateados.

***

— Cara, esse fim de semana vou voltar para São Paulo. Já tem quatro meses que não vejo minha mãe e ela tá cobrando. — Pedro disse a André, quando foi flagrado fazendo as malas.

— Por que não contou para ninguém?

— Eu deixei um bilhete. Não tinha ninguém em casa. — André olhou-o desconfiado e pôde perceber o quanto sem graça o amigo estava. Percebeu também, o alívio que ele sentiu ao atravessar a porta de saída, foi como se ele andasse encolhido, carregando um grande peso, e na mesma hora jogou este peso para o lado e sorriu aliviado. — Até mais! — Pedro sentiu vontade de abraçar o amigo, mas ao olhar para dentro do apartamento, ouviu Juliana chorando e tratou logo de seguir seu caminho.

— Até...

***

— Tem certeza de que não quer vir? Amanhã é sábado nem aula tem. — Arthur perguntou a André, tentando convencê-lo a ir à uma festa da hora, segundo ele.

— Não, colega. Tô cansado. Quero paz e sossego!

— Beleza, falou então!

Na noite de sexta-feira, restaram apenas Jeremias e André no apartamento. A preguiça de cozinhar falou mais alto e acabaram comendo pizza e tomando cerveja enquanto assistiam a um filme qualquer.

Jeremias quase nunca bebia e o efeito do álcool não demorou a acontecer, levando-o a capotar no sofá da sala, roncando e babando. André desligou a televisão e permaneceu sentado, apenas pensando em como sua vida mudara nos últimos meses. Saíra de casa brigado com o pai, ingressara numa faculdade, fizera novos amigos. Foi quando um barulho o arrancou de seus pensamentos. Sentou-se ereto na borda do sofá, apurando os ouvidos. O barulho se intensificou. Ele deixou a latinha de cerveja de lado. Era um choro. Alguém chorava. André pensou que poderia ser o vizinho de baixo, mas logo lembrou-se que todo fim de semana ele ia para a fazenda. Seria então o vizinho de cima, mas o vizinho de cima não tinha filhos, e o choro era infantil.

A lamúria se intensificou. André levantou-se, seguindo na direção do choro. Vinha do quarto de Jeremias. Um arrepio subiu por sua coluna e ele sentiu os pelos da nuca se eriçarem. Voltou ao sofá e abaixou-se próximo ao amigo adormecido, chamando-o. Nada. Ele dormia e babava como se estivesse desmaiado.

André foi na ponta dos pés rumo ao corredor. Na metade do percurso, ouviu a televisão ligando-se e o choro cessou. Olhou assustado para a sala.

— Jeremias? É você?

Silêncio.

André voltou e constatou que o amigo continuava dormindo na mesma posição. Desligou a televisão e seguiu para o quarto.

Ao adentrar, ele sentiu a mesma sensação que Pedro descrevera. Não importava para qual canto do quarto ele fosse, a menina o seguia com o olhar. Aproximou-se lentamente da cama e encarou a garota. Seu coração estava acelerado, a boca seca, as mãos trêmulas, mas a casa era dele, se não fosse ele quem a defendesse, quem mais seria?

— O que você quer? — Ele perguntou, mesmo com todo o medo que estava, sentiu-se um tolo por falar com uma criança indefesa, que não passava de uma pintura.

A menina que sorria, de repente fechou os lábios e juntou as sobrancelhas, irritada. Escancarou a boca e gritou. André saltou para longe da cama, tapando os ouvidos com as duas mãos, protegendo seus tímpanos do agudo barulho. O quadro que estava à direita de Juliana, o que havia a pintura de uma onda, começou a ondular, tremeluzir e a onda foi aumentando de tamanho, ganhando força. André viu boquiaberto a onda ganhar som ao se aproximar e ela transbordou forte, projetando-se para fora da moldura. André correu para a porta, mas antes que ele a tocasse, a água bateu-a forte. O quarto foi rapidamente inundado, transformando-se numa grande piscina. André nadava, tentando permanecer sobre as ondas. Respirou profundamente e mergulhou. Foi até a parede e desferiu um grande soco no quadro que se derramava. O vidro quebrou, machucando a mão de André. Sangue se misturou à água, mas André continuou retirando o vidro, até conseguir arrancar a pintura da moldura e rasgá-la. Imediatamente a grande onda recuou, sumindo sem deixar vestígios de que existira. André caiu, batendo a cabeça na beirada da cama e perdendo os sentidos.

***

— André! André! Fale comigo!

André abriu os olhos devagar, olhando ao redor e ao perceber onde estava, levantou-se rápido, gritando:

— Precisamos sair daqui!

Arthur agarrou o amigo pelos ombros, olhando-o nos olhos e sacudindo-o de leve. Desistira da festa depois de perceber que não tinha nenhum conhecido e também uma sensação estranha se apoderou dele, levando-o de volta ao apartamento.

— O que você e o Jeremias usaram? Ele está apagadão no sofá e você desse jeito! — Arthur percebeu que um dos quadros de Jeremias estava no chão, quebrado e rasgado. — Jerema não vai ficar nada satisfeito com isso.

André levou as mãos aos cabelos molhados, desvencilhando-se do amigo.

— Olha, isso não foi alucinação. Foi real. O Pedro tinha razão, aquele quadro está vivo. E é perigoso.

Arthur que já não estava gostando do quadro, sentiu sua garganta fechar-se e um arrepio percorrer seu corpo.

— Isso é impossí... — Antes que ele pudesse concluir a frase, o segundo quadro começou a trepidar na parede. Os amigos entreolharam-se nervosos.

— Vamos cair fora daqui.

Começaram a correr para a porta, mas o Grito que estava preso no quadro ganhou voz, saindo estridente e penetrando fundo na mente dos rapazes, levando-os ao chão, ajoelhados, tapando os ouvidos, lágrimas escorriam de seus olhos sem que pudessem evitar e o vento que saiu junto com o grito, bateu a porta.

O outro quadro também começou a trepidar, logo rachando o vidro e arremessando cacos no ar. A plantação de trigo balançou com a ventania que saiu do quadro, alvoroçando os corvos e fazendo-os alçar voo pelo quarto. André levantou-se, tentando girar a maçaneta da porta, mas esta estava emperrada.

Os pés de trigo não suportaram a ventania, sendo arrancados da terra e também voando para o interior do quarto que ficou forrado. Juliana sorria e pela primeira vez, começou a tocar o piano. Uma voz infantil e doce começou a entoar uma canção lenta e bonita.

— Adeus. — Ela disse, aumentando o ritmo da música, acelerando e elevando a voz.

O Sol que havia no quadro dos Trigos se intensificou, projetando-se para fora da moldura como uma bola de fogo, lançando faíscas pelo quarto. Uma delas tocou o trigo espalhado pelo chão e tudo começou a queimar.

André atirou-se para o quadro da menina, tentando quebrar o vidro e arrancar a pintura de dentro da moldura, mas uma forte onda vinda da mão esticada da garota jogou-o de encontro à parede. Arthur tomou à frente e arrancou o quadro da parede, jogando-o no chão. O vidro trincou, uma rachadura o cortou de cima a baixo. A menina parou de tocar e começou a chorar.

O fogo espalhava-se rapidamente pelo quarto quando a porta foi aberta. Jeremias pegou o quadro do chão, sussurrando para Juliana:

— Não chora, papai está aqui.

Jeremias beijou a face de Juliana, depois envolveu o quadro num abraço apertado e escancarou a janela. Subiu nela e olhou uma última vez para os amigos que já estavam caídos e tossiam em meio à fumaça.

Pulou do décimo sexto andar.

***

Na segunda-feira Pedro chegou de São Paulo e mal acreditou no que seus olhos viram ao se deparar com o prédio onde morava com os amigos totalmente queimado. O local estava isolado por uma faixa amarela e abarrotado de policiais. Ele tentou atravessar a faixa, mas foi impedido.

— Eu moro aqui! Meus amigos! Onde estão?

— Deixe a perícia trabalhar. — O policial balançou a cabeça em sinal negativo, com os lábios comprimidos e com pesar no olhar.

Pedro sentiu lágrimas queimando por trás dos olhos e sentou-se no meio-fio da calçada, desolado.

Mais à frente, Pedro percebeu uma caçamba de lixo, ele apertou os olhos para poder enxergar melhor diante à luz do sol que o incomodava, percebendo que uma moça resgatava um quadro do meio de entulhos queimados.

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Tema: FOLCLORE. Conto inspirado na Lenda do Quadro Amaldiçoado de Santa Rita do Sapucaí- MG. Conta-se que a foto de um bebê sentado diante de um piano teria poderes sobrenaturais e atormentava os moradores em todas as casas que habitava.