PRECISAMOS FALAR SOBRE O SEU ROMERO - CLTS 21

— … mas como AINDA não conseguiram contato com a família do Edgar?? Os familiares da Lúcia e do Onofre já estão a caminho! Meu Deus, cabeças vão rolar, hoje…

Apesar de estar em frangalhos, meus ouvidos ainda estavam em bom estado para captar o tom de desespero do diretor do Lar em conversa fora da sua sala. Recostei-me na poltrona confortável e aliviei um pouco das dores. Consumiam este velho corpo como nunca antes. O colar cervical me impedia de virar o rosto para ver como minha amiga Lucia estava, mas de relance enxergava as mãos, cobertas de sangue seco, alisando os dedos compulsivamente. Jamais desejei ter envolvido ela naquela situação. Isso sem falar de Onofre, coitado, que já deveria estar a caminho da UTI.

O diretor retornou à sala e postou-se à nossa frente. Me sentia como um jovem prestes a receber uma bronca na direção da escola. Parece que isso faz parte do ciclo: envelhecemos e retornamos a ser tratados como crianças uma outra vez.

— Senhores, vocês sabem que devemos tratar do ocorrido diretamente com os responsáveis familiares de vocês — ele moderava as palavras, provavelmente pela condição nada normal daquela situação — porém, gostaríamos de ter de imediato algumas respostas sobre o que ocorreu nesta madrugada. Jamais, na história desse lugar, tivemos de encarar um episódio tão grave…por favor, vocês precisam falar o que aconteceu de verdade entre vocês! Onde diabos se meteu o Seu Romero e o que era TODO AQUELE SANGUE?

A tristeza que me assolava me impedia de falar qualquer coisa naquele momento. Escutei o choro fraco de minha amiga ao lado. Precisávamos de tempo. Porém, ouvir o nome daquele velho desgraçado uma outra vez fez minha memória retornar a origem daquilo tudo. Aquele maldito domingo.

— Senhor, — um dos enfermeiros interrompeu, dirigindo-se ao administrador — a polícia já está aqui.

***

— Olha, vô Edgar! Deixa eu te apresentar a minha filha! Essa aqui é a Yasmin — a menina quase se desequilibrou de meu colo pela excitação em querer mostrar a boneca — Ela não é bonita?

— Olha só, que bonita essa sua filha! Sabe, tem uma amiga aqui do seu avô que tem uma filha muito parecida com a sua. Olha lá!

Apontei para o outro extremo do pátio, onde minha amiga Lúcia conversava com dois de seus filhos. Carregava em seus braços uma boneca, feita durante as aulas de tricô. Cuidava como um bebê seu. A cabeça dela não andava muito boa ultimamente, mas as mãos enrugadas seguiam firmes e fortes nas agulhadas. Mesmo com minha apreensão, os enfermeiros tranquilizavam e tratavam com naturalidade essa fase mais infantil que ela estava passando.

— Amiga? Por um acaso o senhor não está namorando ela, não é?

Aquela pergunta me tirou do prumo. Ri de forma envergonhada e lembrei a ela que sua falecida avó foi e sempre será o grande amor da minha vida. Minha neta Clarice sempre foi assim desde que aprendeu a falar, uma menina sem papas na língua e muito sagaz. Desde que passei a morar no Lar de Idosos São Gonçalo nosso contato ficou muito mais restrito: algumas poucas conversas por telefone em datas especiais e essas visitas esporádicas na data que chamavam de “Domingo da Família", onde duas ou três vezes por ano abriam o espaço para que os familiares pudessem partilhar de um dia com os muitos avôs e avós que residiam ali.

O contato sempre muda com o avançar da vida. Não direi que aceitei de bom grado a ideia de passar o fim dos meus dias ali, assim como não direi sobre a solidão dos primeiros meses, afinal, esse velho orgulhoso tem a cabeça mais dura do que o coração. Minha presença já não era tão fundamental aos que seguiram, ainda que minha neta carregasse essa vontade de aproveitar o tempo comigo. O tempo restante, talvez. Bem verdade, não enxergava a mesma vibração nos outros ali presentes. Haviam se passado nem duas horas e já percebia a impaciência de minha filha e de seu marido querendo ir embora. Meu neto mais velho, Bernardo, nem se deu ao trabalho de vir conversar. Os olhos e polegares grudados na tela do celular com certeza eram mais interessantes que o papo antiquado deste velho.

— Vou te contar um segredo, vô: O Bê veio obrigado. Ele não queria vir aqui para ver o senhor.

— Cala essa sua boca, sua inútil de merda! — reagiu Bernardo ao escutar a revelação da irmã.

— EI, EI, EI! Por favor, vocês dois! Se comportem que aqui não é lugar para briga! — Minha filha ralhou com os seus filhos. Mesmo assim, pude escutar o neto sussurrando algo como “em casa você vai ver, pirralha!”.

— Tá, mãe. Já deu tempo, vamos embora logo desse asilo! — ele disse, agora para que todos ouvissem.

— Bernardo!

— Calma, minha filha. Está tudo bem. A gente sabe como eles ficam nessa idade, né? Reclamam de tudo, só querem saber de desobedecer os mais velhos, hehehe.

— Bom, pai. Nós temos alguns compromissos e já temos que ir mesmo. Vão lá, crianças, deem tchau pro avô de vocês!

Bernardo sequer ouviu as ordens da mãe, virou as costas e rumou em direção à saída. Recebi um beijo de minha filha, um aperto de mão de meu genro e um caloroso abraço de minha neta.

— Da próxima vez que você vier com sua mãe, vou te apresentar pros amigos do seu avô. Tem a Lúcia, o Onofre…eles vão adorar te conhecer!

— Tudo bem, vô! E o Papai Noel, também é seu amigo?

Ela indicou para a cabeça um dos idosos que estavam dentro da casa, que não participava da celebração. Era Romero.

Julguei que não seria correto eu falar para ela que Romero não era meu amigo. Aliás, mal nos conhecíamos. Seu Romero, como o chamavam, estava morando conosco há algumas semanas e mal se escutava sua voz e, toda vez que algo saia de sua boca, era em um portunhol curto e grosso. Como alguns outros, a família não veio visitá-lo, e talvez nem tivessem mais contato. Ele entrou no Lar por uma determinação judicial, provavelmente abandonado — o que não acreditava totalmente, graças a seu corpanzil avantajado. Mesmo com a assistência da casa, era comum ver ele sujo, com a barba e cabelos longos e cinzentos sempre desgrenhados. As unhas escuras, como se constantemente estivesse futucando em algo nojento.

Foi estranho eu notar ele naquele momento. Seu olhar parecia já há algum tempo fixo em nós, como se soubesse que estávamos falando dele. Gerou-me surpresa minha neta ter associado aquela cara azeda e pouco amigável com a do bom velhinho.

— É…quem sabe…bom, tchau tchau minha pequena Larissa!

— É Clarice, vô! — Ela riu com a confusão, e foi embora.

— O Romero de Papai Noel? Essa foi boa! — Onofre tapou a boca com o livreto de cruzadinhas para esconder a tosse e o riso que saia da garganta — Aquela pança ficaria ótima na roupa vermelha, hahah!

— Fala baixo, Onofre! Você mal conhece o sujeito para fazer essas brincadeiras — Lúcia o repreendeu.

Era final de domingo e gostavamos de sentar na sala e conversar, quase como adolescentes fofocando na saída da escola. Tínhamos a sorte de nossas condições ainda preservarem certa autonomia para isso, corpos relativamente saudáveis para quem ostentava mais de oitenta anos. “Bem vividos”, gostava de pensar. E talvez, por isso, pude usufruir dessa amizade que, se não fosse pelo Lar, a longa vida não teria dado um jeito de cruzar nossos caminhos.

Onofre, fofoqueiro que era, aproveitou a deixa para falar mais e mais do rabugento do Seu Romero. Ele tinha conhecimento maior sobre o velho estranho pois, nos últimos dias, passou a dividir o mesmo quarto com o sujeito. Embora tenha se sentido prejudicado pelo novo arranjo dos cômodos, as saidinhas do colega de quarto renderam uma boa história.

— Sempre que acordo de noite, vejo a cama do Romero vazia. Eu já tinha ouvido que os enfermeiros desse turno são meio “vagabundos”, ficam mexendo no celular ao invés de fazer a ronda. Aposto que esse velho sem-vergonha deve se fartar na cozinha na calada da noite!

— Já soube de outros que iam bater perna tarde da noite, mas ninguém nunca falou nada do Seu Romero — complementei com o que tinha de informação.

— Talvez seja nosso momento de descobrir e nos aventurar, hein, véio Edgar? Desculpe, minha querida, mas essa missão é apenas para os “meninos” — Onofre implicou, recebendo uma bufada de vergonha alheia de Lúcia.

— É sério? Acordar de noite só para seguir o velho e descobrir o que ele tem feito?

— Tem algo melhor para fazer? — Os olhos de Onofre ardiam com uma teimosia infantil — Ninguém vai dar conta se você dormir em nosso quarto, tem cama para você.

Parecia um plano terrivelmente bobo, mas poucas coisas ali, naquele lugar, poderiam me causar esse encontro com o novo, uma euforia de transgressão que há tanto tempo não experimentava.

Na primeira noite, falhamos em nosso plano. Os remédios foram mais fortes que nossa força de vontade, e decidimos deixar a aventura para o outro dia. Sentia-me mal por não incluir a Lúcia nessa presepada, mas a divisão de quartos era rigorosa entre os “meninos” e “meninas”. Entretanto, preocupava-me mais com os episódios de confusão que nossa amiga vinha relatando nas últimas noites. Não seria justo fazermos com que ela tivesse de se sujeitar a aventura noturna. Teria de se contentar com as fofocas do dia seguinte.

Nossa segunda-feira ocorreu como de costume, as atividades do dia contaram primeiro com os grupos de conversas — que eu detestava, diga-se de passagem. Acredito que dividia o título de pior participante desses grupos junto com o Seu Romero: entrávamos mudos e saíamos calados. Nunca fui bom de falar das coisas de dentro, preferia sempre as atividades físicas, me fazia lembrar dos tempos de trabalho braçal — mesmo que não carregasse mais a potência de outros anos. Onofre e seu corpinho miúdo preferiam atividades de pensar e a Lucinha, bem, a Lucinha podia passar até o fim da vida com as agulhas de tricô em suas mãos que não se queixaria.

A noite demorava a chegar, mas algo desviou minha atenção para a aventura: uma ligação.

Não era comum avisarem que tinha ligação para mim. Essa não era de casa, mas sim de minha netinha em seu próprio celular. Parecia aflita e ansiosa, como se ligando às escondidas.

— D-desculpa ligar, vovô. A mãe pediu pra que não incomodasse o senhor, mas…é o Bê. Acho que ele fugiu de casa. De manhã ele não tava no quarto, a mãe e o pai passaram o dia procurando por tudo…

— Calma, minha querida. O Bernardo é esperto, já é grandinho. Tenho certeza que ele vai voltar logo.

— Ai, vô! E-eu acho que não — ela soluçava do outro lado da linha, quando um barulho alto pode ser escutado — Droga, a mãe voltou pra casa!

Clarice desligou o telefone sem se despedir. Sabia que o garoto era difícil, mas mesmo assim não deixava de me preocupar com ele por aí, sozinho. Talvez nem estivesse, sabe-se lá quem eram as más companhias que poderiam estar ao seu lado. Também já fui jovem, rebelde. Ainda sim, ele havia sumido. Me pesou o fato de algo tão sério não ter sido compartilhado comigo. Infelizmente, talvez tenha ensinado a minha filha esse defeito de querer guardar tudo para si.

A noite chegou. A história de meu neto ainda pinicava em minha cabeça. Negociava comigo mesmo que não havia de ser nada grave e, se algo sério acontecesse, eu seria avisado. Fazia ainda parte daquela família. Pelo menos eu achava.

Nossa aventura estava fadada ao fracasso pois uma vez mais o sono nos abateu. Antes de fechar os olhos, pude ver em suas camas o velho Onofre a roncar e o velho Romero aparentemente apagado. A noite intranquila me ofereceu uma série de pesadelos, imagens de minha neta chorando, de meu neto sendo engolido pelo vazio. E assim, por sorte ou azar, acordei.

Ainda estava escuro quando olhei para o lado e vi, como narrado por Onofre, a cama de Romero vazia. Pé ante pé sai da minha, calcei o chinelo gasto e fui acordar o parceiro de guerra.

Era agora ou nunca.

A cada sacudida, um resmungo e nada do Onofre acordar. Havia, ainda assim, obstinação em mim.

Decidi por seguir desacompanhado.

O Lar de Idosos tinha outra energia na madrugada. O silêncio apenas era interrompido pelo estalar dos móveis de madeira ou pelo canto dos grilos lá fora. Meu coração estava quase a sair do peito, mas seguia forte.

A baixa visão era enfrentada pela curiosidade. Cruzei longos corredores sem a presença de nenhum enfermeiro e sem sucesso em encontrar alguma história que valesse a pena, e assim determinei que meu último destino seria a cozinha, tão falada pelas fofocas de meu amigo dorminhoco. A porta vai e vem estava destrancada, e bastou uma pequena pressão para que eu já estivesse dentro.

Não encontrei Romero ali fazendo um lanche. Apenas um lugar escuro e silencioso, como todos naquela madrugada. Mesmo assim, podia enxergar uma certa bagunça na bancada. Talvez o velho tivesse decidido fazer uma refeição mais elaborada antes de deixar o local. Uma parca luz originada do lado de fora da casa deixava os objetos ali presentes com contornos mais claros. Facas, cutelo, um grande pedaço de frango, a pia e um pouco do chão salpicados de um líquido escuro.

— Velho nojento…

Apesar daquela curiosa visão, outra coisa chamou minha atenção. Encostado junto a geladeira, um enorme saco de pano. Enorme e cheio, quase como os que se viam no Natal. Porém, o tecido escuro e envelhecido não fazia jus a essa data.

Estranho aquilo estar ali, mais estranho ainda era imaginar quem teria o carregado. Uma corda frouxa mal segurava a boca do saco. Aproximei-me e abri para entender o que continha. Parecia carne, como a que estava descansando na pia. A escuridão não permitia desvendar o mistério, tateei e me surpreendi com a textura.

Meu coração já estava na garganta quando a luz da cozinha finalmente foi ligada. A luz trouxe a vida tudo o que antes estava apenas em minha imaginação. O que havia dentro do saco ganhou tons de vermelho viscoso, tons de pele rosados, texturas de pele, pêlos finos, cabelos. Eram muitos. Uma pequena mãozinha fria estava entrelaçada à minha, e o susto me fez puxar em minha direção aquele membro frágil. O saco tombou para o lado, mãozinhas, perninhas, troncos. Cabecinhas a rolar em liberdade. Um dos rostos sem vida me chama a atenção, mas o desespero me fez querer negar olhar aqueles olhos que me eram tão conhecidos.

Não, não poderia ser. Só podia estar ainda dentro de um pesadelo. Virei-me em direção a porta e lá estava Romero, imponente como nunca o havia visto.

Seus olhos me engoliram em ira. Era Romero, mesmo sem parecer ser. Não era mais o velho sujo e balofo que dividia seus dias comigo no Lar, mas sim um monstro vestido de homem. Minhas pernas não obedeciam aos comandos e, ao tentar sair rápido, o passo escorregou no vermelho que escorria do saco. O pé vira em um ângulo que não deveria, um barulho alto e uma dor pungente no tornozelo.

— TE VOY…A.. MATAR…

Romero estava gigantesco diante de mim. Bestial. Babando em ódio. Não tive tempo de falar nada, de compreender a dor em meu pé ou o que acontecia naquela cozinha. A agilidade daquele senhor não condizia com seu tamanho, sua idade. Sua mão esquerda apertava a gola de minha camisa e a mão direita, elevada, desceu com uma força descomunal. Um golpe em cheio em meu rosto. A boca se encheu, o queixo amoleceu. Jamais havia sentido uma dor assim tão grande.

O teto branqueava acima de nós mas, antes que o grande nada me engolisse por inteiro, senti um outro impacto que atingiu tanto a mim quanto ao Romero. O velho maldito mal fez menção em se desequilibrar. Do chão, enxerguei um Onofre ofegante pela investida no troglodita, mantendo uma postura erguida, corajosa, tentando ajudar como podia. Chegou no pior momento possível. As pesadas mãos de Romero se enrolaram no pescoço de meu amigo, os polegares pressionando a carne e um desejo de matar que nunca havia visto em toda minha vida, erguendo o corpo magro de meu amigo em muitos centímetros do chão.

— NO, NO…VIEJOS DE MIERDA! NO DEBERÍAS ESTAR AQUÍ!

Meu orgulho ferido tentava a todo custo buscar forças para que me levantasse. Em vão. Meus braços se entrelaçam em uma das pernas de Romero, ação quase nula para desfazer o ímpeto assassino. Queria gritar, mordê-lo, matá-lo. Onofre não mereceria aquele destino. Meu neto não merecia aquele destino…

Um novo impacto fez o gigante se desequilibrar, desta vez acompanhado de um urro grotesco. Sobrenatural, diria. Todo o Lar deveria ter se acordado naquele momento. Às costas de Onofre, uma desobediente amiga aparecera com a intenção de acompanhar dois velhos tolos. Ver aquela violência na cozinha a fez reagir da forma como poderia para salvar aqueles que considerava tanto. As punhaladas com as agulhas de tricô acertaram os olhos de Romero, assim como bochecha e pescoço. Três, quatro, cinco vezes, em ritmo acelerado, sem que pudesse dar chance ao malfeitor.

No chão, era atingido pelos pés nervosos, pela saliva e sangue que vazava de Romero. Não me importava mais, desejava que sofresse o pior. Podia ouvir as luzes e as passadas nervosas nos corredores quando o velho Romero se equilibrou apoiando-se na geladeira e fez o inimaginável diante de nossa vista cansada: tateava o chão em frenesi, recolhendo tudo que pudesse do que fora derramado de seu saco imundo. Antes que o primeiro enfermeiro pudesse alcançar a cozinha, seu portunhol deu lugar a uma outra língua, indecifrável, mas que gotejava maldições. As luzes convulsionam e só tornam a reacender quando não se percebe mais a presença do velho filho de uma puta.

***

— Dona Lúcia, sua família já está aqui. Nos acompanhe por favor.

Fiquei sozinho com o diretor. Ele me encarava com curiosidade e pena. Antes de sair, Lúcia segurou minhas mãos com cumplicidade. Nenhuma palavra precisou ser dita, e mesmo que fossem, nós mesmos duvidamos do que de fato aconteceu.

Se Deus fosse misericordioso, a faria esquecer daquela noite.

— Senhor Edgar, a polícia já está aqui e vai precisar de respostas sobre o que aconteceu, sobre o Seu Romero… você precisa…

— Pai!

Minha filha invadiu a sala e se ajoelhou aos meus pés.

Estava sozinha. Eu não queria que ela me visse daquele jeito, tão frágil. Mais um peso, diante de todos que ela já segurava.

Seu olhos cansados encontraram os meus e ambos não conseguimos segurar as lágrimas.

— Meu deus…o que houve…com você?

Tinha tanto a falar, mas a força volta e meia me abandonava depois de tudo o que passei naquela madrugada. A dor era enorme, articular cada palavra fazia meu queixo quase desabar, mas não podia esconder o que vi. Não importaria se acreditasse ou não, eu precisava falar sobre o que foi real para mim.

— Eu…preciso…preciso falar sobre…o Bernardo.

TEMA: FOLCLORE (velho do saco)

Nunes Pedroso
Enviado por Nunes Pedroso em 20/11/2022
Reeditado em 27/11/2022
Código do texto: T7654452
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