Estávamos no pátio (20 caras e 4 mulheres) em frente a quadra de futebol. Rafiq estava com a orelha direita colada no telefone: “Porque deixaram ele assim, falando no telefone? FORA DO HORÁRIO?! Todo mundo só tem as quartas e domingos!”. Era uma das “regrinhas” da clínica de recuperação… No fundo ninguém se importava. Procuravam aos domingos um tempo de conversa com a família que mal queria lembrar que eles estavam vivos. Mas o que todos notavam aos poucos era que Rafiq estava chorando demais, pois tinha acabado de perder o pai. Como chegar perto e dizer alguma coisa que pudesse ajudar? Um monte de gente que mal conseguia se ajudar! Mal eram capazes de se levantar todas as manhãs; moradores provisórios do “inferno” que soava bem melhor que as ruas que frequentavam. Talvez fosse melhor deixar Rafiq sozinho até a dor passar…Rafiq se agachou. Ficou de cócoras com o rosto praticamente enfiado entre as pernas. "SERÁ QUE ELE VAI ABANDONAR O TRATAMENTO?!” – alguém disse… Sempre alguém diz isso… Eles querem que isso aconteça. Tudo se torna um Big Brother no final. A maioria resolveu se aproximar e ficar em pé em volta do colega de luto. Todos oravam por entidades e deuses que nem acreditavam, na semana passada. Alguns minutos se passaram e o som estridente de um apito soou… Soou para que todos pudessem escutar e tremer frente as regras.