A MEIA NOITE
É noite na pequena vila de Gorgonte, a lua está bela e brilhante e as nuvens psicodélicas parecem um quadro do Van Gogh. As crianças brincam em frente a uma curiosa… acredito que seja uma igreja, é uma espécie de prédio alto e um pouco inclinado, será a Torre de Pisa?, seu topo é pontiagudo e há um sino negro, e logo em cima tem um relógio sinistro e grande.
Ah, quase esqueço. Quando falo crianças são na verdade pequenos monstrinhos.
Então esses monstrinhos estavam brincando, correndo para lá e pra cá. Um era conhecido como o bom amigo, seu nome era Carlitos, é um pouco apressado demais, tem olhos grandes e usa uma touca de papai noel por alguma razão que eu não sei, no mais… ele é uma cara legal. O outro é o Lukitas, esse é meio lento o que lhe rendeu a fama de leso. Ele tem um bastão e vive fazendo acrobacias com ele (tentando na verdade), tem olhos redondos e usa um chapéu bem peculiar que parece um cone. O último do trio é o Artuzim, ele é mais novo, poderia dizer que ele é conhecido como a criança mas… todos são crianças. Pois bem, o Artuzim é menor que os outros dois e tem uma anteninha na cabeça (e balança tá), também usa uma capinha roxa.
É quase meia noite, as outras crianças e as “pessoas” da vila já foram para suas curiosas casas, mas não esses três obstinados amigos. O que custa mais alguns momentos de diversão?
Continuam brincando como se não houvesse amanhã, até que Lukitas para de correr.
Pessoal. - Bom, Carlitos e Lukitas estavam um pouco longe. - PESSOAL!
Artuzim vem correndo com seus braços para trás que nem o Naruto, Carlitos estava bem mais próximo já e dá uma carreirinha sem se esforçar tanto (Artuzim ainda passa dele).
- O que houve? - Pergunta Artuzim com a anteninha balançando.
- Já é quase meia noite, devemos ir para casa.
- Eu sei, droga, de novo isso. - Carlitos agora se reveste de coragem. - Só ouvimos histórias sobre esse depois da meia da meia noite, não sabemos se é verdade, pode ser só uma historinha para assustar crianças.
- Ela me assusta. - Disse Artuzim… Carlitos olha para ele. - Claro Artuzim, claro. Faz tempo que nos contam e nunca acontece nada.
Eles ouvem então um estalo nas árvores ao redor da “igreja” do sino negro e relógio sinistro, as árvores são negras, são densas, parecem estar chorando de dor com suas curvas aleatórias e desarmônicas. O ar fica mais pesado, são 23:58, as nuvens parecem querer esconder a lua, elas se movem mais rápido.
- Vamos embora. - Lukitas já está nervoso.
- Si, Si, Sim vamos. - Artuzim está com medo, ele começa a tremer.
- Acho melhor irmos mesmo.
- Ué. - Lukitas não podia deixar passar essa. - Não disse que queria ficar e ver o que acontece?
- Podemos ficar então. - Carlitos se encheu de coragem novamente.
- Gen, Ge, Gente. - Artuzim tremendo aponta para o relógio sinistro, eles olham e ficam apavorados.
As nuvens conseguiram e esconderam a lua da pequena vila que agora só tem um poste na frente da “igreja” iluminando-a, é uma luz alaranjada e forte. Mas o medo não é por isso, é o relógio sinistro. Ele está diferente, parece que criou veias, é nojento, estranho. É meia noite.
Eles parecem ter ficado paralisados olhando para o relógio. Lukitas engole em seco. - Precisamos ir.
- Até agora não aconteceu nada, vamos ficar mais um pouco. Carlitos tá confiante, mas não Artuzim.
- Para disso Carlitos, se quer ficar então fique só.
- Vocês são covardes. - Carlitos cruza os braços.
- VOCÊ QUE É COVARDE. - Artuzim grita desafinado.
- ARGHHH. - Carlitos parte pra cima de Artuzim e o derruba no chão chutando seu tornozelo.
- Ei ei ei ei. - Lukitas aparta antes que as coisas piorem, - Vamos para nossas casas, agora.
Houve novamente estalos nas árvores, mas agora está mais próximo, e mais um, mais um, mais um. Carlitos corre desesperadamente para sua casa e fecha a porta com força.
- Vamos Artuzim.
Quando Artuzim se levanta, Lukitas corre para sua casa. Artuzim dá o primeiro passo para correr mas logo percebe que o machucado é mais grave do que ele pensava, não consegue correr…
Lukitas chega a sua casa, mas antes de entrar olha para o relógio sinistro, ele está mais esquisito ainda, parece um olho agora. Olha então para Artuzim que vem a passos curtos para sua casa que fica logo do lado da de Carlitos. Ele corre para ajudá-lo.
- Vamos. Rápido. - Artuzim se apoia em Lukitas e ganha mais velocidade.
O ar está mais pesado que nunca, barulhos estranhos começaram a surgir enquanto eles caminham. Chegam perto da porta da casa de Artuzim.
- Vamos, só mais.
A única luz que tinha se apaga, a escuridão reina, parece ter vida. Não se ouve gritos…
No dia seguinte o sol ilumina toda a vila, todos estão seguindo suas rotinas. Não há sangue, não há nada do Artuzim e do leso Lukitas. Seus pais continuam suas rotinas, nada mudou.
Carlitos sai de casa e olha para o sol, dá um largo sorriso de felicidade. - Carlitos? - Chama uma voz grossa de dentro da casa.
- Sim pai.
- Lembre-se de chegar cedo em casa, ouviu? Sabe o que acontece se ficar até tarde.
- Eu não sei não pai.
- Deixe de bancar o espertinho, volte cedo.
- Tudo bem. - Ele fecha a porta.