Paulo e Marcela passariam, logo em breve pelo mesmo ponto de ônibus… Desta vez, no mesmo horário. Marcela tentando vagarosamente caminhar até um ponto de táxi com suas três pernas. A perna nova, desajeitada, com os pés calçados numa bota improvisada… brotava de um buraco em seu vestido, tentando acompanhar as outras duas, sem muito sucesso. A multidão acompanhava – sem nenhuma tentativa de ajuda, sem nenhuma misericórdia – as constantes tentativas de Marcela querendo sincronizar as três pernas. De repente a perna que saía das costas se sentiu cansada demais, pois não tinha costume de caminhar… e simplesmente “dormiu”, ficando mole e pendurada, se arrastando no chão. Ela era pesada demais e as costas de Marcela ardiam de tanta dor… Não suportando mais o peso, Marcela deitou-se no chão. “OUTRO MONSTRO!! OLHAAA… ALII!!!” gritou uma criança e todos se viraram pro homem que vinha.
Paulo vinha de óculos escuros e boné, tentando ao máximo esconder seu rosto. Mas ninguém se importava com isso, diante daquele braço cheio de olhos piscando e piscando rapidamente, frenéticos e aflitos com tudo que viam. As pessoas berravam de medo e os olhinhos apontavam diretamente pra elas que se aterrorizavam ainda mais. Paulo correu querendo pegar um táxi alguns metros em frente… Quando viu Marcela caída no chão chorando. Se aproximou e agachou ao seu lado…
– Você vai ficar aí? Não está muito quente o chão?!
– Não está tão quente… Estou exausta. E… além do mais…
– Eles nunca nos deixarão em paz… né? – Ela fez que “sim” com a cabeça. As pernas deitadas juntinhas enquanto a terceira… suada e cansada, soltava pequenos chutes e espasmos no ar. Os olhos de Paulo observaram a cena enquanto os seus “novos olhos”, podiam observar a multidão lá atrás… que continuava gritando, rindo e filmando.
– Er… Eu posso me deitar aqui??
– Sim, claro… Parece que… hoje não é nosso dia né?
– Ah…! Não… Parece que não.