Mergulhado no mal

Assim que Rudgar entrou naquela casa começou a passar mal, e não era somente esse cheiro insuportável de coisas velhas, mais também aquela energia pesada quasse palpável e sufocante...

Rudgar Müller era filho único e morava com seu pai desde os nove anos quando sua mãe os abandonara, os motivos não eram claros e suas lembranças variavam com imagens entre cortadas de momentos de ternura para outros obscuros, incertos e onde havia gritos e violência entre ela e seu pai.

Herman Müller era um homem rude e por vezes violento, criara seu filho sozinho e desde que sua esposa os abandonara nunca mais quiz saber de outra mulher, no fundo bem sabia porque fora abandonado, so não entendia como ela conseguira sair dali , na calada da noite no meio do nada e sem ajuda.

Agora após tantos anos sentia o peso do passado novamente, tinha setenta anos e seu filho nunca disfarçava o temor e ódio que sentia por ele. Os dois moravam praticamente dentro da floresta negra no sudoeste da Alemanha e trabalhavam na pequena destilaria dentro da propriedade de oito hectares que Herman herdará de seus pai há muitos anos.

Rudgar tinha planos de abandonar seu pai e o sítio, agora aos 45 anos sentia que perderá quasse toda sua vida naquela floresta, mergulhando no silêncio misturado a falta de amor e respeito do seu pai. Ele nunca tinha saído dos limites do sítio em direção a floresta profunda, o máximo que fazia era uma vez por mês junto com seu pai irem juntos ao povoado, que ficava a uns 20 quilômetros dali.

Seu pai tinha saído na noite anterior, ele nunca tinha se ausentando por tanto tempo, Rudgar juntou coragem pegou uma mochila e caminhou em direção ao interior daquela floresta que tanto temia desde criança.

Caminhou até perder a noção de tempo, a floresta era silenciosa com uma atmosfera densa e sem movimento, antes do anoitecer percebeu uma pequena trilha que o levou a uma clareira onde tinha uma casa bem antiga parecendo abandonada.

A porta estava entreaberta, e assim que entrou viu um pequeno fogão a lenha, o fogo aceso e uma panela com algo dentro fervendo, alguém teria estado ali á poucos minutos, apesar do cheiro da comida ser bom não conseguia disfarçar aquele outro cheiro insuportável de coisas velhas mofadas e decrépitas mergulhadas numa atmosfera estranha e sufocante.

Quando Rudgar decidira sair rápidamente dali uma voz estridente e grave saindo de um canto escuro exigiu que senta-se , apesar do medo ele sentou , aquela figura estranha aproximou- se de vagar, vinha se arrastando numa cadência perturbadora pois precisava se apoiar numa cadeira para prosseguir.

A mulher vestía preto ,sua pele enrrugada contrastava com aqueles olhos sem brilho e sem cor, Rudgar petrificado pelo pavor não conseguia reagir, a velha encheu dois pratos com aquela comida e sentou." Finalmente você veio, porque demorou tanto? Você herdou um pouco da covardia do seu pai.

Agora meu filho depois de tantos anos podemos estar juntos, e seu pai finalmente fez algo de bom pra você, afinal o ensopado está muito bom não é ? "

A velha após uma pausa começou a rir , Rudgar sabia que jamais sairia dali, estava mergulhado no mal.

Diego Tomasco
Enviado por Diego Tomasco em 30/08/2022
Reeditado em 05/04/2023
Código do texto: T7594295
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