TIMELESS ROAD - CLTS 20
TIMELESS ROAD
VALÉRIA GUERRA REITER
James e Robert são amigos.
E amigos inseparáveis. Eles caminham, correm, almoçam e sonham juntos. James, antropólogo, e Robert geógrafo e escritor. Eles estão radicados no Brasil, há vinte anos; e "naturalmente" são norte-americanos. No dia em que o Brasil completará duzentos anos de “Proclamação da República”, no sétimo dia de setembro do corrente ano de 2022, Jim e Bob, querem conhecer Timeless Road.
Os dois jovens cinquentenários e aventureiros, estão dispostos a caminhar por ela, e constatar o que poucos e corajosos sobreviventes relatam após conhecê-la...
Chovia no dia 11 de agosto de 2022; James liga para Robert e o convida para uma caminhada na orla do Rio. Robert está triste e reflexivo. Ele lembrava de sua infância, (muito sofrida por sinal), lá no Missouri, afinal ser trineto de Jesse James é algo marcante e nada fácil.
Cansado e pesaroso, mesmo assim, lá foi Robert encontrar o caminhante inveterado James Lee. A chuva arrefeceu e os companheiros foram almoçar no Largo do Machado; e como militantes do passado, permaneceram duas horas lembrando dos episódios surreais das séries televisivas criadas nos Estados Unidos, como Perdidos no Espaço, A feiticeira, Jeane é um gênio, Túnel do tempo e etc.
O dia estava no meio, e o assunto foi pausado pelas passadas firmes em direção à praia do Flamengo. O panorama está inflamado; já que o clima é de quase eleição. As capitais “fervem” seus eleitores a fim de escaldar votos... à guisa das pesquisas ufológicas de Stuart, os dois companheiros pesquisam o devir e o porvir. E na roda do tempo; em especial na Timeless Road: viver é um desafio. Ambos são professores, e nos finais de semana saem...(não para buscar aventura), mas para buscar fatos .
O momento parece favorável, já que os humanos estão sofrendo sobremaneira pelas mãos da opressão em um Brasil descolorido pelo desgoverno da desigualdade, que com seus oligopólios e outras formas de censurar a liberdade; vem oprimindo até à nutrição de parte considerável da população.
Viver é apenas sinônimo de existir para a maioria esfomeada de sonhos e de alimentos. Privilegiada é a dupla de docentes estadunidenses que desejam reencontrar portais de atemporalidade.
- Meu caro Lee, estou pensando em ligar para o Stuart amanhã, e perguntar sobre sua experiência na Amazônia. Ele andou por lá, há dois anos, e me narrou que viu até a cena de morte daqueles dois homens: um de olhos claros (Dom) , e outro de olhos escuros (Bruno) no trecho da Timeless Road, que fica no Vale do Javari.
- Que tal meu caro Robert, marcar para encontrar Stuart ( o homem das rotas)em Dois de outubro? Animado e com esperança de rever seu injustiçado trisavô “Jesse James” naquela estrada tão longa e misteriosa, Robert diz sim.
De repente o céu ficou fechado e uma ventania se iniciou como um pequeno ciclone. Os dois amigos se entreolharam e ambos estavam pálidos. Suas vestes estavam salpicadas de vermelho. Ao longe se ouvia um vozerio típico do momento de algazarra, com cânticos que misturavam vozes de fora isso e fora aquilo...porém elas se desvaneceram dando lugar a um som estrondoso, que fez cair os compatriotas americanos no chão. Os dois colocaram as mãos na cabeça e muito sujos de sangue. Com olhos embaçados olharam para cima e viram um homem barbado todo furado, e de cada furo fluía muito sangue que chovia sobre ambos...Quem seria? Ele flutuava em um momento antigo. E seu rosto transfigurado exalava um cheiro de cadaverina, a enzima da morte.
À frente tinha uma estrada tortuosa com curvas nunca vistas, e se eu não tivesse escutado o relato jornalístico de Stuart, o amigo dos nossos “investigadores de atemporalidade”, com certeza não acreditaria. Stuart era biofísico, além de jornalista. E se tratando de física quântica, ele era um dos mais categóricos e humildes do universo. Trabalhara com Einstein e Tesla. Apesar de seus parcos anos de sobrevida terrena.
Timeless Road parecia não ter fim e ao seu derredor ressurgiam sequoias gigantes...que varavam o céu. E um homem magro de barbas longas e alvas martelava uma grande barcaça...
- Socorro Robert! Socorro! Ao virar a cabeça o remanescente de Jesse James viu que um pterodáctilo havia perfurado o dorso de Lee e o levou no bico ...voando para longe. O Parque do Flamengo havia sumido...
James gritava alhures; até que um silêncio ensurdecedor tomou conta do coração despedaçado de Robert.
Robert olhou o relógio: 15 h. Olhou outra vez :15 h. E após um decurso: 15 h. O medo agora se fez terrível na alma do parceiro do saudoso e quase chinês: James Lee.
Robert seguiu em frente: faminto, triste, incrédulo, sujo, porém extasiado com as visões bizarras, que se descortinavam a cada 100 m de estrada. Ele viu homens e mulheres caminhando em marcha para o oeste dos Estados Unidos, e lembrou da saga dos James. Detalhe, a cada cem metros percorridos, novas imagens apareciam como hologramas e depois se desfaziam ...para o passageiro desejoso de verdades, ou ficções , que percorria a estrada que corta o Brasil do Oiapoque ao Chuí. Absorto, Robert agora via o conde Drácula chupando o pescoço de Frankstein; ao mesmo tempo que via o Homem pisar em Júpiter.
Futuro, passado e presente faziam a diferença na longa estrada da vida e da morte. O que será de mim sem meu querido amigo? Deus me responda!! gritou Robert olhando para cima. E subitamente a Estrada que faz brotar fatos pretéritos e futuros desapareceu...
O geógrafo ficou estático. Ele se viu dentro do mar. Piscou seus olhos, e passando a mão direita na testa viu o Morro da Urca reconhendo a praia do Flamengo.
Olhou para um lado e para o outro e não viu seu amigo. Então chorou copiosamente sentado na areia fria. Seus pensamentos eram altamente particulares: ele não via, nem ouvia ninguém daquele presente supérfluo... E meditava, sufocando a dor: para onde foi a Estrada Atemporal? Para onde foi Timeless Road?
Para onde foi James? Porém resolveu continuar andando e percebeu que sua camisa, cabelos e bermuda estavam secas, e não havia mais sangue. Quando chegou à praia de Botafogo e já atravessava para o outro lado da pista principal ouviu chamarem seu nome: era Stuart.
O rosto dele se iluminou ao ver aquele que além de amigo , também já havia trilhado a Timeless Road. Stuart foi até Robert e o abraçou dizendo: - Como vai cara, que coincidência...venho pensando em vocês dois, estava aguardando vocês ligarem. E você James? Animado para dia Sete de setembro? Ou Dois de outubro?Com certeza Timeless Road nos aguarda! Robert emocionado disse ao ufólogo de 80 anos.
- Infelizmente James não poderá ir...
E Stuart se dirigindo ao lado esquerdo e vazio de Robert proferiu: - Meu amigão desistiu da maior saga científica de todos os tempos? Robert enrubesceu e demorou uns cinco minutos para balbuciar: - Está falando com quem?
- Stuart - Estou falando com James. Inclusive de quem é este gato preto no colo dele? - Robert : Gato preto? Nosso gato possui pelagem mesclada. E James já não está entre nós. Eu estava tentando lhe dizer isso...
Ele morreu na Timeless Road e fora agora há pouco. Stuart gargalhou durante longos dois minutos, e Robert viu que um gatinho preto ronronava próximo a ele, esfregando o rosto em seus pés.
Stuart parou de rir e acalmou o âmago do pesquisador e trineto do agricultor e “fora-da-lei” Jesse James discorrendo sobre o quanto o projeto Filadélfia é real. – Meu caro Robert olhe ali em frente, eis o nosso nobre James. James surgiu; e os três melhores amigos se abraçaram...
Ao derredor... os transeuntes nem desconfiavam do quanto aqueles heróis da resistência cientificista, que caminhavam pela orla com um gato preto, já tinham experimentado naquele dia comum no Rio de Janeiro.
Eles caminhavam esperançosos, quando o gato caiu morto no chão, com uma corda enroscada no pescoço; o impacto de sua queda abriu um imenso buraco no asfalto da ciclovia...todos caíram cratera abaixo e deram de cara com um enorme coração que pulsava sanguinolento e berrava com forte sotaque lusitano: Independência ou Morte! ...Repetidamente e de forma hostil. A face dos homens se tornou amarelada e, então surge um quarto indivíduo por trás do coração pulsante : cruzando os braços e falando inglês, ele tenta explicar o falecimento do gato, se revelando o assassino do felino, e parecendo arrependido.
Stuart disse aos dois confrades que aquele era o escritor Edgard Allan Poe, que ele conheceu quando trilhou "TIMELESS" na primeira vez.
Já o coração de D. Pedro I parou seus urros e continuou apenas a bater..
Timeless Road seguiu seu curso e seus ilustres visitantes continuaram a viagem. E após percorrem 100 m enxergaram o Coliseu romano. Adentraram o espaço aparentemente deserto...
Um grito entrecortou o silêncio e chamou os turistas para um acontecimento: A cena final de "O Voo do Dragão", sim Bruce Lee em carne e osso lutava com Chuck Norris. James correu em sua direção. E ao chegar perto do ídolo do Kung Fu: sorriu e chorou. James desde criança tinha dúvidas sobre um de seus sobrenomes: Lee.
E então gritou: bisavô? E antes de Tang Lung (Bruce Lee) quebrar o pescoço de Colt (Chucky Norris), ele olhou para trás e falou: seja bem vindo a Timeless Road!
Tema - Estradas