Coração Apaixonado
Em uma noite tomei uns comprimidos estranhos
Fui para casa sem muitos ganhos
Amanheceu e acordei, sangue nas mãos eu encontrei
Minha amada 38 na fronha do meu travesseiro eu guardei
Sem ter o que fazer, tomei mais uns comprimidos
Na minha mente meus neurônios consumidos
Corria muito, mas estava em câmera lenta
Então me pegaram na fronteira Peruana, cidade violenta
Meus comprimidos para onde foram?
Levado a delegacia, de cara limpa, as horas demoram
O delegado me chamou, seu nome não é Messias
Você é o vagabundo que matou sua esposa, essas não são suas poesias
Respondi: me chame como preferir
Se você tem provas ninguém vai interferir
Matei ela porque ela me machucou, puta periguete
Eu pensava que era seu amado, mas ela tinha mais sete
Quando eu fui preso, eu vestia o preto da revolta
Me colocaram em um ônibus e me trouxeram de volta
Sem amigos para pagar minha fiança
Me espancaram naquela cadeia como se eu fosse uma criança
Na manhã seguinte, lá pelas sete
Vi o delegado me olhando como se eu fosse um pivete
Falou e tossiu enquanto limpava a garganta
Meu coração doía, será que ele pensava que ela era uma santa
Todos de pé, corte em sessão
Lá estava eu nas mãos de doze homens honestos sem expressão
Antes mesmo do júri começar
Eu já vi o veredito em cada olhar
Por dez minutos com minha sentença na mão
Não pode ser, agora eu era o vilão
Réu em primeira instância
Eu gritei por dentro, Deus não tome distância
O juiz sorrindo, bateu seu martelo envenenado
Quarenta anos naquela cidade, quarenta anos condenado
Tudo isso por causa de um coração obsessivo apaixonado
Nunca vou esquecer o dia que matei aquela vagabunda que me deixou decepcionado
Agora me escutem, não seja mesquinho
Largue os comprimidos e deixe a ponta do nariz branquinho
Sem os comprimidos a vida corre rápido
Então deixe a ponta do nariz branquinho e o coração apaixonado