Ratos de caixão

Esses primeiros messes após seu enterro foram os piores, seu Silvano não entendia porque estava acordado e sofrendo tanto dentro de um caixão...

Silvano Lopez morará a vida inteira na cidade de Bragança Paulista que fica a 87 quilômetros da capital São Paulo, pai de três filhos e casado com dona Laura fizera grande fortuna no comércio varejista da cidade, mais também era conhecido pelas manobras que fazia para ganhar dinheiro muitas vezes sem escrúpulos, pois nada importava quando se tratava de negócios.

O tratamento com sua família também era péssimo pois mesmo sendo rico a mantinha em condições paupérrimas e não media esforço para guardar dinheiro e gastar o mínimo possível.

Agora aos 78 anos sentia o peso de seus erros, e percebia que sua vida finalmente chegará ao crepúsculo , não tinha amigos confiáveis, sua esposa e filhos tinham desistido dele á muitos anos e nada do que fizera poderia restaurar tantos anos de egoísmo e falta de amor.

Sozinho e assistindo por uma enfermeira o fim chegou, Silvano estava lúcido aquela manhã de sábado, sentia- se estranhamente bem, as dores terríveis e a tremedeira tinham parado, nada mais era do que a melhora da morte, as vezes misteriosamente o indivíduo melhora antes de partir.

Inicialmente ouvia algum choro abafado e quando abriu os olhos percebeu sua esposa e uma das filhas na beira do caixão, seu Silvano tomado pelo pavor e paralisado num corpo inerte afundou nas trevas desnorteado e confuso.

"Só quem anda nas trevas enxerga a escuridão ."

Seu Silvano levou alguns dias para entender o que tinha se passado, e agora sentia frio, fome e sede, estava imóvel num caixão escuro, após gritar e ninguém ouvir sabia que nada era de graça, seu apego as coisas materiais e seu extremo egoísmo o tinham colocado nessa situação nefasta.

No primeiro mês o cheiro era insuportável, os vermes corroiam sua carne e ele sentia todos eles borbulhando e saindo por todos os orifícios do seu cadáver putrefato, sentir-se vivo e não respirar era algo que não tinha explicação.

Em dias de chuva a água inundava o caixão piorando as coisas ainda mais, porém como diz o ditado não á nada ruim que não possa piorar, o caixão estava num túmulo de tijolo e reboco já antigo pois pertencia a sua família á mais de cinquenta anos, a água da chuva e o sol somado a falta de manutenção criara algumas rachaduras bem profundas.

Dois anos tinham se passado e seu Silvano não passava de ossos com pedaços de pele colada, mesmo assim o sofrimento continuava dia após dia sem trégua, sem compaixão, então um dia ouviu um barulho estranho, como algo querendo abrir o caixão, primeiro entrou um minúsculo raio de sol mais a alegria durou muito pouco, os ratos invadiram com frenesi e fome brutal, roendo os ossos de forma assustadora, Silvano sentia toda a dor de estar sendo roído, era algo assustador.

A visita dos roedores era diária assim como seu desespero, e depois de alguns anos nessa situação seu Silvano tomou a única atitude possível, pediu ajuda rezou e orou como nunca tinha feito em vida, chorava apesar de não verter lágrimas, gritava apesar de não ter voz e assim que terminou, um braço invadiu seu caixão e o puxou violentamente para cima.

A figura daquela entidade não era acolhedora, tinha os olhos vermelhos e o encarava de forma fria e assustadora, arrastou seu Silvano por alguns metros e dize que agora seria seu dono, vendo que o velho cadáver vacilava ameaçou colocá-lo novamente no caixão, seu Silvano ajoelhou e implorou dizendo que seria seu escravo, qualquer coisa era melhor que voltar para o túmulo.

Silvano percebera que seu sofrimento apenas começara...

Diego Tomasco
Enviado por Diego Tomasco em 22/07/2022
Reeditado em 24/07/2022
Código do texto: T7565724
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