NO MERCADO MUNICIPAL


 No mercado municipal
Lugar de muitos encontros, compras, negociações e novidades.
Às 7 da matina, Zefredo entre os corredores dos açougues e peixarias pesquisa os preços das mercadorias.
- ô vizinho, qualé o preço do filé mignon?
- Baratinho seu Zé, só R$ 30,00...
- Caramba, e o da carne moída de primeira?
- R$ 6,50
- Passo por aí daqui a pouco...
Dirigiu-se à peixaria:
- ô vizinho qualé o preço do Abadejo congelado?
- R$ 33,50 seu Zé...
- E o da sardinha fresca?
- Tá só R$ 8,00 meu camarada
Zefredo coçou os cabelos desgrenhados e mandou:
- me dê 3 kilos de sardinha.
O atendente ensacou a peixada e mandou ver: R$ 24,00 cara.
Zefredo sacou o dinheiro de seu velho agasalho e antes de pagar lembrou: - tem 2$ reais de troco! ...e com mais R$ 10,00 que tenho dá prá se divertir...
Almoço garantido murmurou consigo mesmo!...e se encostou no boteco do Atanásio.
- Uma dupla, das amarelinhas.
Atanásio serviu a maldita que foi consumida de um trago só, embora  tremulassem as mãos do assíduo cliente.
- Me dá outra cara, tô com um pobrema de estomo qui nem sei como to di pé...se ajeite homi...
O bodegueiro  assentiu prontamente.
Zefredo apanhou o copo, fez um brinde ao acaso e sorveu o aguardente lambendo os beiços esturricados pela secura.
- Coisa boa seo Atanásio, esta quentura alivia as dores do corpo e massageia a alma, dá mais uma pra rebater...
E assim foi, copo por copo a remediar a desgraça anunciada.
12,00 horas...movimento intenso no mercado.
Carrinhos de compras, empurrões, algazarra de consumidores...ofertas e pechinchas de mercadorias, e o Zefredo ali...observando o movimento e se embebedando.
- Dá mais uma saideira Atanásio..."a úrtima"!!!!
Atendido n’um piscar de olhos jogou na goela o suco latente.
Tossiu, uma sensação de morbidez tomou conta do corpo, visões estranhas diante de seus olhos...euforia selvagem.
Visualizou a hiena que sorria por detrás do balcão.
As raposas, os cães perdigueiros, leões e elefantes desfilavam pelos corredores do mercado.
A cobra coral se enlaçava em seu pescoço, e o tamanduá lhe abraçava fincando suas tenazes unhas nas costas...lobos uivavam ao derredor...
Horas depois na delegacia Zefredo se explicava:
- apenas me defendi, saquei do meu facão e acabei com aquela hiena que planejava meu fim.

 

By: Maurélio Machado