O VAMPIRO DE BUDAPESTE.
Budapeste, Hungria, julho de 2022. O mordomo tocou a sineta e se retirou. O empregado do castelo se colocou ao lado de outros dois serviçais. O conde Vladymir Jaworovski desceu as escadarias com um olhar imponente. O terno preto italiano era usado para as ocasiões especiais, como a daquela noite, em que receberia o chanceler russo, Dimitri Yarulenko. Os convidados ficaram de pé e saudaram o anfitrião com uma salva de palmas. O conde, um político influente, se colocou na cabeceira da mesa de 62 lugares. Sua jovem esposa, a condessa Anastásia, estava deslumbrante num vestido vermelho. -"Boa noite. Sejam bem vindos. Vamos as fotos." As lentes dos fotógrafos, as luzes, flashes. Os políticos e celebridades posando ao lado do conde. O chanceler russo e a esposa, a modelo da Chanel, Yelenna Essibayeva, foram os últimos a serem clicados ao lado do conde e da condessa. Os jovens políticos se cumprimentaram, confirmando a ótima relação deles. As jovens esposas sorriam. A condessa húngara tinha cabelos longos, incrivelmente pretos. O colar de esmeraldas combinava com os seus olhos verdes. Yelenna era igualmente bela. Loira, de olhos azuis e boca carnuda, a modelo internacional era conhecida por sua participação num reality show russo. As participações dela em eventos políticos trouxe a proximidade com figurões do Kremlim, entre eles o chanceler Dimitri, quatro anos mais velho que ela. -"Uma troca de casais? Uma última foto?" Gritou um fotógrafo húngaro, de um canal de tevê. Quatro seguranças interviram. O chefe do cerimonial nervoso, olhou para o conde. -"Tudo bem. A última foto, Olaf. " O conde sorriu. Yelenna mexeu nos cabelos. Anastásia enlaçou Dimitri. O conde Vladymir se limitou a colocar a mão nas costas de Yelenna. Os quatro sorrindo para a foto histórica. Yelenna sentiu a cabeça rodar. Ela sentiu um arrepio na espinha, uma força invadiu seu corpo. O coração disparou. Um suor frio. O conde a enlaçou. Os olhos deles se encontraram. Yelenna voltou a si. -"Vão tratar da guerra da Ucrânia?" Perguntou outro repórter. -"Esse jantar é informal, apenas de amigos. Divulgarei uma nota, depois. O tempo da imprensa terminou. Aproveitem o jantar." O conde foi educado. Sua hospitalidade e generosidade eram conhecidas e admiradas. Os repórteres se retiraram ao salão oval, onde mesas fartas e uma infinidade de espumantes os aguardavam. Sem querer, a mão de Yelenna desceu e encontrou a mão do conde, que a segurou. -"Grato, cara Yelenna. Vou querer uma cópia dessa foto." Sussurrou o conde A moça sorriu e se juntou ao chanceler. A condessa Anastásia se colocou ao lado de Vladymir. -"O discurso, meu senhor. " O conde se colocou a frente do microfone. Carregava o sobrenome de uma família tradicional, uma das mais antigas da Hungria. A condessa tocou sua perna . Era o sinal de que o discurso estava ficando enfadonho, passando de dez minutos. -"Aproveitem o jantar." Foram as últimas palavras do conde, dando a deixa para os garçons servirem os convidados. A prataria inglesa, a porcelana chinesa e os grandes vasos russos chamavam a atenção dos sortudos convidados. Um digno banquete. Seis músicos num palco improvisado. Piano, violinos e flauta doce tocavam músicas antigas, versões de cantigas ciganas que o conde amava. Ele mesmo, um exímio violonista, transcreveu para a partitura essas canções de sua infância. -"Magnífico esse pato, parabéns ao chefe." Disse o chanceler. -"Um brinde ao casal. Um brinde ao chanceler, que nos convidou para seu casamento, em São Petersburgo. Esse jantar é, antes de tudo, uma retribuição minha. Um agradecimento." Respondeu o conde, fitando Dimitri e Yelenna. O conde fez um sinal, ao final do jantar. O mordomo se aproximou. Colocou duas caixas douradas a frente do conde. O anfitrião se levantou. -"Como membro do governo, filho da Hungria e nobre, usando do poder a mim delegado, tenho a honra de oferecer ao chanceler Dimitri, amigo de nossa pátria, amigo de nossos valores, a medalha magiar. Que seja símbolo e lembrança de nossa amizade." O conde, entre aplausos, abriu a caixa e mostrou a medalha aos presentes. O chanceler foi às lágrimas. Yelenna estava feliz. O russo foi até o conde e o cumprimentou. A condessa tomou a outra caixinha. -"Eu, condessa Anastásia, tenho a honra de oferecer a esposa do chanceler Dimitri, a bela Yelenna, um presente como prova de nossa predileção e amizade." A condessa abriu a caixa. O brilho dos diamantes no colar era admirável. -"São diamantes do Congo. Diamantes são eternos, como nossa linhagem, como nossas famílias e tradições. " A condessa deu a caixa a Yelenna. Elas se abraçaram. Aplausos e brindes. Os convidados se dirigiram a outro salão. As mesas com sobremesas. Os grandes vasos de flores. As cortinas de veludo nas cores da Hungria. Os quadros nas paredes. As pinturas no teto. A valsa. Os convidados felizes. Os políticos cercaram o conde e o chanceler. As conversas sobre política, a pandemia do Covid 19, tudo informal. A condessa puxou o conde para o meio do salão, tirando -o do cerco de bajuladores. -"Vamos dançar, meu senhor." Os casais se formaram e seguiram o anfitrião. Um pequeno show de artistas romenos. Um pequeno balé. Uma balada eletrônica. Eram quase duas horas da madrugada quando os primeiros convidados começaram a irem embora. As limusines e carros de luxo deixando o jardim do castelo. A imprensa sem nenhum integrante no local. O chanceler russo sem o paletó e a gravata, pisando em ovos, cheirando a álcool e pedindo vodka aos garçons. A condessa socorreu Yelenna, cobstrangida. -"Preparei um quarto a vocês. São nossos hóspedes. Insisto." Yelenna concordou. Dois empregados e o conde, esse um pouco embriagado, ajudaram o chanceler a subir as escadas até o aposento. A condessa levava as caixas com a medalha e o colar de diamantes. -"Boa noite, Yelenna. Toque a sineta se precisar de alguma coisa." O chanceler tirou os sapatos e se jogou na cama king size. -"Boa noite. Conde Vladymir, meu amigo." Repetia o chanceler, abraçado ao conde. -"Grata pela hospitalidade, condessa." Disse Yelenna, sorrindo e ajeitando o cabelo, deixando o pescoço a mostra. O conde arregalou os olhos, abaixou a cabeça em seguida. A condessa entregou-lge as caixas. -"Ah, sim. Os presentes. Queria ser eterna como esses diamantes lindos." A condessa sorriu. -"Basta querer, querida. Bons sonhos." O conde se postou no umbral da porta. A condessa beijou Yelenna. -"Tão jovem, tão bela e cheia de vida. Famosa, o mundo a seus pés, Yelenna. Fique a vontade como se estivesse em sua casa " A condessa se afastou e fechou a porta, deixando o casal de russos a sós. O chanceler dormindo, Yelenna quis tomar um banho. O conde botou o salão vazio. -"Olaf, Gilbert. Os artistas se foram? Quero os empregados fora daqui, no porão. Quero alguém vigiando o quarto do chanceler." O mordomo concordou. -"Vou providenciar, meu senhor. Tenha uma boa noite. " A condessa se aproximou. -"Os artistas estão saindo. Wolfgang e Jinkko nos esperam no escritório. " O conde a enlaçou e a beijou. -"Vamos , então. Não tenha ciúmes." A condessa sorriu. -"Eu com ciúmes? De você que conheço há séculos? Senti sua energia passando para o corpo dela, conde Vladymir, senhor dos magiares e dos Cárpatos . O abominável conde Wlad." O nobre deu uma gargalhada. -"Há tempos não me chama assim, Anastásia. Vamos encarar esses chatos." Ele abriu o escritório. -"Um jantar exuberante, conde Wlad. Parabéns, mostrou todo seu poder e hospitalidade, sempre enaltecendo nossa pátria. Qual o significado de sua amizade com esse russo?" Perguntou diretamente Wolfgang, um velho político húngaro. Jinkko girou um revólver na mesa. Olhava diretamente para a condessa. Era conhecida a sua rejeição a condessa. Anastásia tremia cada vez que se encontrava com o braço direito de Wolfgang. Jinkko se tornou vampiro após a morte de seus pais, mortos por Elizabeth Bathory, a condessa de sangue, como era chamada. No início do século XVII, Lado Bathory atraiu, torturou e matou centenas de pessoas para usar o sangue deles para rejuvenescer. Anastásia era prima de Elizabeth, trabalhava no castelo da condessa de sangue, por isso a raiva de Ginkko. Wolfgang era líder da elite de vampiros da Transilvânia. Por obediência a Wolfgang, amigo de Wladymir, Ginkko não ousava ferir Anastásia. Wolfgang pegou um livro na estante. -"Drácula, de Bram Stocker. Nosferatu. Frankstein. Hotel Transilvânia. Blade, o caçador de vampiros. Entrevista com o Vampiro. Saga Crepúsculo. Porquê ainda lê essas bobagens, Wladymir?!?" Sorriu Wolfgang, fechando o livro. -"É assim que o mundo nos vê, caro Wolf. Vá direto ao ponto." Wolfgang pôs as mãos nos ombros de Ginkko. -"Pois bem. O que deseja com o casal de russos? Nenhum deles é um upir, como nós." O conde sentou-se. As mãos sobre a mesa. -"Meu pai veio da Romênia e se instalou as margens do lago Balaton. Aquelas águas termais fazem parte de nossa família e nossa história. Antes do século nove e da ocupação de celtas, romanos, hunos e eslavos, meus parentes foram os primeiros habitantes da Hungria. Estou cansado. Já vi muita coisa, meu caro. A invasão mongol, em 1241. O império otomano, a revolução de 1848, o império austro húngaro, a primeira guerra mundial em que perdemos mais da metade do território e metade da população. A nossa terra mudou, o mundo mudou. Quero passar o bastão a Dimitri e Yelenna. Farei deles vampiros." Wolfgang se levantou. -"Não pode sair assim! Eu desejo uma assembléia." O conde se manteve calmo. -"Que seja." Wolfgang sabia que a assembléia de vampiros votaria a favor de Wladymir. -"Vamos embora, Ginkko. Temos coisas a tratar em Budapeste. Passe bem, conde." Eles se cumprimentaram. Fora do castelo, Wolfgang e Ginkko foram recebidos por doze integrantes de seus clãs, todos vampiros. -"Fiquem em volta do castelo de Wladymir. Olhos atentos." Wolfgang e Ginkko entraram na limusine. De manhã, Dimitri e Yelenna encontraram o conde e a esposa no jardim. -"Ótimo dia, chanceler. Espero que tenha tido uma boa noite de sono." O jovem russo se aproximou. -"Bom dia, conde. Lamento o meu papel, me excedendo no álcool. Fora isso, estou bem. Poderemos tratar de política depois, se quiser." Anastásia deu a mão a Yelenna. -"Vamos comer alguma coisa. Deixemos a política para depois." O conde sorriu. -"Anastásia é sábia, sempre foi. Estômago primeiro, política depois. Que seja assim." Após o desjejum, Anastásia levou Yelenna para conhecer o castelo. O conde e o chanceler conversavam no escritório. Após o almoço, o conde passeava no jardim quando Yelenna se aproximou. -"Ótimo local, é lindo aqui." O conde ficou um pouco tímido. Nunca tinha visto tanta beleza. Yelenna era um anjo, os gestos elegantes. A voz doce. Em outras épocas, mais remotas, ele avançaria sobre ela com força sobrenatural, a matando sem piedade. Ele sentia o sangue humano e fresco correr naquelas veias cheias de força e vitalidade. O conde sabia que tinha escolhido o casal russo mais por Yelenna do que por Dimitri. A moça tinha chamado sua atenção nos desfiles de moda, em Paris, no início da carreira dela. Anastásia foi convencida a aceitar o casal russo para os substituírem na chefia de Budapeste. A condessa tinha sonhos com Ginkko a matando com uma estaca e cortando-lhe a cabeça. Ela desejava ir embora para o Rio, como Edward e Bella, em Crepúsculo. -"Parecem feitos um para o outro. Wlad, meu Wladymir não é meu. Ela está aqui. Yelenna o deseja " A condessa observava, da janela do alto do castelo, o conde e Yelenna passeando no jardim. -"Quero sentir de novo." Disse Yelenna a Wladymir. -"O que?" Ela pegou a mão do conde. -"Aquilo que senti, durante as fotos. Aquela força em mim." O conde apertou a mão de Yelenna. Os dedos entrelaçados. Wladymir a olhava, com ternura. A moça sentiu arrepios. Yelenna ficou paralisada. Um filme passou em sua mente. Ela viu um bebê, com um casal de ciganos. Os carroções. As montanhas. O lago Balaton. O pai de Wladymir, Salomon, lutando contra celtas e romanos. Wladymir, um jovem de 19 anos, era um major do exército do império austro húngaro, em 1867. Ele e o pai, um marechal impiedoso e valente, lutavam lado a lado. . Com a mesma aparência e vitalidade, Wladymir lutou nas primeira e segunda guerra mundial. Salomon saiu de cena, após a revolução russa, morto por soldados de Stalin que descobriram que ele era um upir. Yelenna viu Wladymir, um jovem político húngaro, ao lado de Lincoln, Chaplin, Hitler, John Kennedy, Ronald Reagan, Pelé, Einstein, Steve Jobs, Mandela, Obama, Putin e outros. Sempre jovem e sorridente. A mesma aparência. Yelenna voltou a si. Wladymir a amparou. -*É humanamente impossível você ter conhecido Lincoln e Putin. É muito tempo entre eles, a menos que você seja...." Wladymir concluiu. -" Imortal! " Yelenna estava confusa. -"Celtas, romanos?! Quantos anos o conde têm?" Wladymir foi sincero. -"Parei de contar em 2000, na virada do milênio." Yelenna teve medo. -"Um vampiro?! O conde é um upir, como dizem na Rússia. Achei que eram lendas, coisa de cinema." Ele pegou a mão dela, freando a emissão de energia, dessa vez. -"Quero me retirar, Yelenna. Eu e Anastásia os escolhemos. Você e Dimitri vão nos substituir no comando da legião. Eu gostaria que aceitassem." Yelenna tremeu.b-"Para isso devemos nos tornar vampiros? Dimitri, ele é cético, não vai querer." Wladymir insistiu. -"Fale com ele. Serão sempre jovens, sempre. Você terá sempre esse vigor, 3ssa beleza incrível, essa voz. Nada de dores, rugas, sinais do tempo. Terá uma força descomunal, poderosa. Escutará ao longe verá ao longe, será veloz como um guepardo, feroz como leão e voará como águia." A moça estava indecisa. Era uma decisão difícil. -"Se eu recusar?" Wladymir ficou triste. -"Teremos que matar, você e Dimitri. Serão dilacerados e jogados aos abutres." Yelenna ficou triste. -"É brincadeira. Terão suas mentes apagadas. Não se lembrará dessa conversa. Só isso." O conde sorriu. Yelenna suspirou, aliviada. -"Falarei com Dimitri." O celular do conde tocou. O assessor o lembrava de um vôo a Zurique, numa reunião do partido. Anastásia veio até eles. -"A reunião de Zurique, Anastásia. Georgius me ligou. Tenho que ir, querida Yelenna. Anastásia mostrará a cidade a vocês." O conde beijou a condessa. O helicóptero chegou vinte minutos depois. O conde se despediu do chanceler e de Yelenna. Durante o passeio ao centro de Budapeste, Dimitri e Yelenna foram ao cinema. Anastásia e dois seguranças entraram num shopping. Sozinha numa vitrine de calçados paquerando as botas de couro de cano longo, a condessa sentiu um arrepio na espinha.bo punhal na sua garganta. -"Surpresa, condessa. Uma brecha, uma chance de a encontrar sozinha. Raridade." Ginkko a enlaçou. -"Poderia matá-la agora e aguardo esse momento por séculos. " A mulher se manteve calma. -"Wladymir o mataria, idiota. Num instante." Ginkko sorriu. -"Acho que não. Ele está enfeitiçado por aquela Barbie russa linda. Jovem e famosa, condessa. " Anastásia deu razão a ele. -"Podemos fazer um acordo, se quiser. Matamos Wolfgang e Wladymir , eu fico com Budapeste e a Transilvânia. Despachamos o casal russo e você vai para o Brasil, curtir aquele paraíso tupiniquim. Que acha?" Anastásia viu seus seguranças dominados pelos vampiros de Ginkko. -"Você nada pode contra Wolf! É um imprestável." Ginkko deu uma sonora gargalhada. -"Wolfgang é um fantoche. Eu mando em tudo, nas costas dele. Todos estão comigo Basta desses velhos no comando! Basta! Wlad e Wolf pra lá, Wlad e Wolf pra cá, chega!" Anastásia concordou. -"Está certo, Ginkko. Vou desativar todo o sistema de segurança do castelo, a bola de plasma que nos protege. Seus homens podem entrar e executar Wladymir. Sejam rápidos e implacáveis. Wlad é mais fraco ao amanhecer, as nove horas, no momento da morte de seu pai é onde está mais fraco, sensível e humano." Ginkko sorriu, satisfeito. -"Tem minha palavra que irá a salvo ao Brasil, condessa. Uma nova vida, nos trópicos. És merecedora." Eles se cumprimentaram. Ginkko e seus comandados saíram do shopping. O casal de russos saiu do cinema. A condessa os convidou para a praça de alimentação. Wolfgang estava no hotel quando Ginkko chegou. -"Sei de sua ligação com as mortes de meus pais e da população da vila, na França."Wolfgang se virou. -"Do que está falando, Ginkko? Leia os livros, você sabe a verdade!" Ginkko deu sinal a seus comandados, que dominaram os quatro homens ao redor de Wolfgang. -"Wolfgang. Era um dos amantes de lady Bathory. Por pouco tempo mas foi. Partiu de você a ordem para exterminar a vila onde nasci. Você me criou, me fez um vampiro! Sempre servi ao assassino de meus pais. Fui cego todo tempo." Wolfgang emudeceu. Ginkko avançou e o golpeou no peito. Wolfgang deixou ser dominado. Ginkko cravou uma estaca em Wolfgang. Em seguida cortou a cabeça de seu antigo chefe. -"A Transilvânia é nossa, amigos. Acabou o longo reinado de Wolf, o empalador." Ginkko ergueu a cabeça de Wolf, satisfeito. O corpo de Wolfgang virou pó. Horas depois, Wladymir retornou da viagem a Zurique. Anastásia e o casal de russos se divertiam, olhando uma coleção de jóias. O conde foi ao seu quarto, após cumprimentar seus hóspedes. Yelenna olhou-o com administração. Anastásia percebeu o gesto quase imperceptível da modelo. Ginkko tem razão, pensou a condessa. Após o jantar, 9 chanceler desceu as escadas, furioso. Yelenna quis ir atrás do esposo mas Anastásia a segurou. -"Dimitri quer ir embora. Ele não quer ser um vampiro." Anastásia estava espantada. -"Vampiro? Que é isso? Não existem vampiros, Yelenna." Anastásia olhou para Wladymir, que saiu atrás de Dimitri. Yelenna chorava. O mordomo trouxe-lhe um copo de água. Yelenna estava melhor. O conde retornou com o chanceler. Eles riam. -"Yelenna, que houve?! Querida, amanhã cedo iremos embora pra casa. Nada igual nossa casa." Dimitri a levantou e a beijou. O conde passou a mão na testa da moça. Ela piscou e sorriu. -"Estou bem. Sentirei saudades de Budapeste, dessa hospitalidade e desses amigos queridos." Wladymir sussurrou. -"Já não se lembrarão de nada, de vampiros e outras coisas! Que voltem pra Rússia! " Anastásia estava satisfeita. Ela sentiu que o conde estava murcho, magoado por não conseguir seus intentos. O casal de russos se retirou para o quarto. Wladymir abraçou Anastásia e disse. -"Boa noite, chanceler. Senhora Yelenna, tenha bons sonhos." Dimitri e Yelenna sorrindo, subiram as escadarias do castelo. -"Que casal lindo, querido. Eu e você, há muito tempo atrás. Éramos assim, apaixonados." O conde sorriu. -"Assim apaixonados? Ainda sou, Anastásia." Ele a tomou nos braços e a levou ao quarto, onde se amaram. Oito horas da manhã, o carro luxuoso saiu do castelo, levando o chanceler e a esposa ao aeroporto. O Conde de Budapeste se recolheu, quando o relógio da torre do castelo bateu às nove horas, na sala de estar, onde havia uma pintura de seu pai. Era um momento só dele. Anastásia abriu as portas do porão, onde os seguranças do castelo dormiram. Centenas de comandados de Ginkko entraram e os mataram, impiedosamente. Dezenas de vampiros viraram pó. -"Anastásia? Porquê não sinto a vibração de Wolf?! Querida?" Wladymir se virou. Ginkko sorriu, exibindo a cabeça de Wolfgang numa bandeja de prata. Wladymir foi dominado pela dor. Anastásia estava atrás de Ginkko, visivelmente ao lado dele. Wladymir matou aqueles que avançaram sobre ele, vampiros também como ele mas fracos diante do líder antigo. Eram muitos e o conde foi perdendo forças até que Ginkko o atacou. Tiros com balas de prata fizeram o conde cair. -"Anastásia!" Ele olhou para a condessa, imóvel. -"Não vai me trocar pela russa, Wlad. Nunca!" Anastásia avançou e cravou a estaca no coração do conde. Ele a olhou. A pintura do pai caiu da parede. O conde virou pó, dando fim a uma longa existência. Anastásia chorou, com a estaca na mão. Estava em transe, sendo algoz de seu amor, 9 senhor dos vampiros do leste europeu. Ginkko a abraçou. -"Acabou, condessa. Está livre!" Ela sorriu amarelo. Ela olhou para o peito, onde o sangue do punhal de Prata de Ginkko estava cravado. O coração estava parando de bater. A estaca no peito a seguir. Ginkko cortou a cabeça da condessa. -"Por todos os descendentes da condessa de Sangue! Essa era a última remanescente da família Bathory! Tudo é nosso, amigos." A condessa virou pó, aos pés do conde de Budapeste. O castelo foi saqueado e logo depois queimado. Os bombeiros nada puderam fazer, o castelo estava destruído. A morte do conde e da condessa repercutiu na imprensa européia. Uma tragédia. Nenhum corpo encontrado. Políticos do partido do conde fizeram uma sepultura simbólica ao casal, no cemitério da cidade. Um belo e imponente jazigo, com a foto do casal, o conde Wladymir e a condessa Anastásia, e grandes estátuas de mármore, representando anjos . Seis meses depois, o chanceler Dimitri morria, num acidente de carro, em Varsóvia. A perícia policial apontou que o chanceler dirigia bêbado, após uma noitada com políticos influentes da Polônia. Três meses. Uma noite memorável. A volta das apresentações do balé Bolshoi, em Moscou. -"Posso me sentar a seu lado, cara Yelenna?" A moça, ainda de preto pelo luto da morte do chanceler, olhou o rapaz de terno azul marinho. -"De onde me conhece, senhor?" O rapaz tirou os óculos escuros, exibindo olhos azuis. Tinha gestos finos, apesar de musculoso, e um perfume inebriante. Yelenna sorriu. -"Budapeste, talvez? Esteve num jantar de um conde, creio eu!" Ele tirou um binóculo do bolso, pra ver melhor o balé." Yelenna estava interessada naquele homem misterioso, cercado de seguranças. -"De fato, estive no castelo do conde de Budapeste. Eu e Dimitri." Ginkko não parava de olhar para Yelenna. -"Aqui está meu cartão. Tenho negócios em Moscou. Ginkko Smorallekk seu criado." Yelenna pegou o cartão, antes de pegar o táxi para o hotel. Ela recebeu uma dúzia de buquê de rosas, na manhã seguinte. Certamente Ginkko a seguira pois mandara flores e um convite pra jantar. Yelenna sentiu uma coisa estranha ao pegar a mão de Ginkko, durante o jantar romântico. Eles se beijaram. Yelenna ganhou outros jantares e muitos presentes de Ginkko, um romântico a moda antiga e perfeito cavalheiro. Ginkko morava na Romênia. Tinha mansões, iates, jatos e helicópteros. Um bilionário solitário e sem filhos. -"Quer ser pra sempre jovem, Yelenna?" Ela estranhou a pergunta do noivo. Respondeu que sim, queria manter aquele visual, eternamente. -"Como fazer isso Ginkko? Você pode fazer isso?" O rapaz avançou e a abraçou, mordendo seu pescoço. FIM