Sorrisos Plácidos
Ao arriscar-se no remanso da madrugada, Julieta se desembrulhou dos cobertores e pôs sobre o chão gelado teus pés franzinos, tremulando até as sobrancelhas num horrendo arrepio. Fomentou os olhos e seguiu pela escuridão, adentrando impensadamente numa floresta soturna. A desconhecer de onde se encontrava, e, refutando a realidade, pôs-se a declarar tudo que lhe fosse inconveniente a ser-te apenas um sonho, sobretudo, os urros distantes penetraram na alma fria de Julieta, ecoando por todo recinto de tua mente.
Pelos arredores nada se via, nenhum bosque ou cores vivas, apenas um desmanchado matagal em que se fundia a escuridão, onde uma luz ofuscada de uma estrela ausente iluminava-te o caminho.
Viu-se ali, a seguir adiante, uma deformada horrenda criatura, com treze braços e dedos compridos, arrastando-se em crânios que iam-se desfazendo em cinzas, com a boca derramando sangue escuro, com os olhos negros e pele a descolar. Julieta travou, deu-se em desespero mudo, em que teus gritos não soavam nem na índole. Aos arredores, retiraram-se por detrás dos troncos das arvores animalescas bestas desmembradas, sem face ou braços a preencher os ombros, com pernas longas, e, a sair de seus troncos um feto incompleto.
Julieta pôs-se a disparar em direção contrária, desembarcando num desnível profundo abaixo, onde depositou com a cabeça numa pedra grossa.
A garota deu-se a acordar num pasmo profundo, revirando o olhar para cada besta que ali a encarava com sorrisos plácidos. Ao olhar-se concebeu-se, que, não mais havia-te pernas, em teu tronco, novos braços, em tua face, sentiu-se por igual sorridente. Levantou-se a conhecer teu novo corpo, teus pés de cabra, e braços longos e frágeis, teus longos olhos caídos e sorriso expandido, tuas asas apodrecidas e dentes compridos. Deu-se o primeiro urro, onde seguidamente prosseguiram-se os teus súditos, seguindo-a de volta a montanha das bestas, onde a floresta soturna é o lar dos deslembrados mortos-vivos.