O baile das estrelas - CLTS 19

¹: moeda local

""""Terror""""

Tema: Contos de fadas sombrios

Subtema: Vilerejo

Pseudotema: Política

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Saindo do recanto, foi por um caminho mais denso, indo ao lado de uma parede de montanha, cheio de musgos e plantas, a fim de achar certas folhas para tempero. Quando saiu de casa era tarde, passara umas duas horas ali no antigo sacrário da deusa Dimifiá, porém o céu todo estava tomado de uma escuridão de dar medo. A pouca luz que via dele era dos feixes que as nuvens negras abriam, dando a aparência de uma rede no seu limite. Estava receosa de não conseguir voltar a tempo e ficar presa na floresta durante uma tempestade – o nervosismo insinuou-se aos seus ouvidos. Ela, movida pela pressa, já não pisava com a cautela de bailarina que comum lhe era... e dessa maneira, como numa dança mal ensaiada, errou a marcação dos passos e pôs os delicados pés numa rocha deslizante, levando um tombo; o grito do susto não pôde ser ouvido ao longe. A menina, agora, estava no meio daquelas árvores, com alguns poucos pingos de chuva já regando o chão, preludiando uma tormenta, e com a perna machucada: um corte grande e maculoso – caíra em cima de uma rocha. Quis chorar, mas sabia que não adiantaria, precisava era sair dali, entretanto... como? Estava com dificuldade de levantar, até pensou em se arrastar em busca de um galho e fazer dele uma bengala, porém seria um desafio e tanto. Estava triste, com dor e sozinha... pelo menos era o que achava.

- Quem foi que gritou enquanto eu dormia? – ressoou uma voz curiosa. A menina se perturbou, achando que alguém pregava-lhe uma peça ou mesmo fosse um malfeitor. – Sinto o cheiro do seu sangue, deve ter se machucado, não é? – ela procurava de onde vinha essa fala, levando frenética o olhar para todos os lugares, até se ficou tonta – Olhe só, eu posso lhe curar, sou muito poderoso, mas estou tanto tempo aqui que me sinto faminto... se puder me ajudar, eu faço algo por você. Se quiser me ver, basta virar-se para a esquerda e entrar nessa caverninha que está coberta de trepadeiras..., mas cuidado!, não se esforce tanto.

Ela desconfiava daquilo — se fosse uma armadilha? —, no entanto aquela voz acariciava seus sentidos. Era uma voz cansada e meiga como o de sua mãe. Parecia que vinha de outro mundo! Ouvia tons variados, com certeza não era uma pessoa, podia ser um enviado da deusa; presumindo isso, seu coração encheu-se de alegria e tomou forças para ir, mesmo com dores. Ali realmente havia uma entrada emaranhada de plantas, nunca percebera — se não tivesse sido alertada, talvez jamais saberia daquele lugar. O que havia lá se assemelhava a um pequeno relicário: muitos escritos estranhos na parede, uma espécie de púlpito e, em cima dele, um metal retangular cuja base diminuía levemente em cima, de cor escura, tal aquelas nuvens, como se estivesse desgastado. A garota tapou a boca com as mãos quando surgiu um par de olhos e uma boca daquela coisa.

- Que bom... finalmente alguém me achou! Faz tanto tempo que estou aqui. Poxa vida, está mesmo feio esse corte. Eu disse que te ajudaria, não é? Mas quem precisa de ajuda primeiro sou eu... Vê como sou humilde? Tenho poder para fazer maravilhas por ti, mas admito minha necessidade, ainda mais à uma mortal. – nesse momento ela já achava que delirava, e ele parecia ler seus pensamentos – Nem pense que está louca ou algo assim, a verdade é que venho dos céus! Cá estou para servir vocês, porém, como vê, estou aqui, esquecido! Veja, sei que dói muito, não falarei toda a história agora, é melhor cuidar de você. Se tivesses alguma moedinha ou coisa assim... – a menina lembrou imediatamente que sempre levava consigo algum dinheiro para caso precisasse, e era uma moeda de ouro. – Que maravilha, então! Dê-me, dê-me e verá! – e pôs a moeda em sua boca, ele logo mastigou-a e parecia se deleitar. – Fazia tanto tempo que não comia disso! Bom, agora é a hora.

E aquela coisa começou a brilhar e tomou uma coloração dourada, extremamente bela. Essa luz saiu dele e foi, como uma fada, bailando até a perna da menina, que curou-se na hora. Ela se sentiu maravilhada: - Muito, muito obrigada! – e diversas vezes passou a mão na perna e até se beliscou – Imagine como seria voltar para casa daquele jeito? – falava com entusiasmo e um largo sorriso, sua estranheza evaporou-se sem nem perceber.

- Sabe... não faz sentido me agradecer, bem, se para fazer isso tiveste de “pagar”. Seria como uma troca, não? – e eles se olharam jocosamente, como se fossem cúmplices – Não me deixará aqui sozinho, não é? – e assim selaram um tácito acordo.

II

No grande salão do palacete, um alarido infernal tomava conta da assembleia: os ministros discutindo com representantes, representantes ouvindo e reproduzindo as infinitas (e acaloradas) reclamações dos cidadãos, pessoas para-lá-e-para-cá, como um formigueiro, gritos, acusações e até ameaças; um caos. Com os boatos de novos impostos, a situação do vilarejo não era boa. As pessoas, com razão, se irritaram profundamente com a possibilidade de novas cobranças, sendo que, efetivamente, há um tempo, nada melhorara. E naquela confusão, onde ninguém se entendia, soaram dois trompetes – e logo apenas eles podiam-se ouvir. Todos correram para seus respectivos lugares, era o afenki, o grande chefe, chegando. O mais soberano de todos os soberanos passados. Só sua presença era o suficiente para todos se calarem e abaixarem a cabeça, como um dom natural de estar acima dos outros, mandando; “nasceu para isso”, alguém disse, quando Telózei subira ao mais alto cargo da oligarquia, passando a comandar todo o povo. Ele surgiu, com uma capa grossa de cor anil e um peitoral brilhante escarlate, além das vestes aveludadas. Como de costume, ao aparecer, viu os rostos assustados, porém..., para o seu desgosto e surpresa, não estavam amedrontados os presentes, mas sim pasmos, analisando-o. Qualquer um, nesse momento, percebia a cólera nele, o que o deixava ainda mais sombrio. A alta estatura, o corpo esguio, a face enrugada e de grande nariz, além de olheiras profundas e uma feição impaciente perene. Dirigiu-se à sua cátedra, passando pelas pessoas encurvadas à sua passagem. Enfim, começava a reunião.

Todas as atas e requerimentos eram apresentados com tranquilidade, bem diferente do que ocorria antes, sem a presença de Telózei, que assistia tudo calado, como de costume, passando o tempo observando o grandioso lustre, redondo e ornado, que flutuava sobre aquelas cabeças; os animais desenhados nos mármores; os afrescos nos cantos das paredes; as colunas davam a visão de um lindo entardecer ao fundo, onde os raios sonolentos do sol invadiam a sala e refletiam, acendendo a abóbada cravejada de joias que formavam desenhos de constelações – feito com tanto esmero que cada diamante fora escolhido de acordo com a cor específica que cada estrela possuía. Era o seu bálsamo enquanto os idiotas e inúteis falavam, ostentando suas horas investidas em oratória e retórica para surpreendê-lo; no final ratificava tudo o que achava razoável – dependendo do humor, qualquer coisa rejeitava ou aceitava – e dava fim àquilo, sabendo que bastava mandar e tudo mudaria como achasse melhor.

Enquanto distraía-se com a beleza do salão, um incômodo afetou sua garganta e uma tosse insistente tomou a atenção dos presentes. Dois ministros tentaram acudi-lo, contudo entraram em choque quando viram a mão do afenki manchada de sangue. Retirou-se de lá com ajuda deles, com incontáveis olhos confusos fixos aos seus, e sumiu pela mesma entrada que surgira. Era isso: seu aspecto parecia mesmo debilitado desde que chegara, sua pele perdeu o brilho bronzeado e empalidecera; era evidente que estava doente. Ali todos tiveram certeza: o soberano que governava há mais de cinquenta anos estava morrendo.

Tendo chegado de mansinho aos fundos da casa, Lyth não ouviu um ruído sequer lá de dentro, sinal que a mãe e os três irmãos não retornaram do entretenimento... ou reunião, como era chamado oficialmente. Cavou rapidamente um buraco e pôs o novo amigo lá, prometendo que tiraria-o dali logo.

III

Em seu penúmbrico aposento, na parte alta do palácio, Telózei meditava. Passaram-se dias desde o ocorrido, daí em diante teve outras crises, emagrecera muito, seu aspecto lívido passou a incomodá-lo. Definharia até a morte? Iria fragilizar-se a ponto do povo vê-lo enfraquecer cada dia mais? No seu enterro a despedida seria ao som de cochichos? Sua raiva – e medo – só aumentava a cada nova indagação que surgia em sua mente. Foi até uma das janelas e vislumbrou a floresta alumiada pela Lua. Já fizera aquilo tantas vezes no passado... Agora realmente precisava, apesar de ter prometido a si mesmo não mais apelar àquilo. O pagamento seria altíssimo, mas deveria ser feito; ao amanhecer começaria a juntá-lo.

IV

A notícia pegou a todos de surpresa: anunciação de quatro novos impostos e o aumento de todos os outros existentes. De 10% para 35% das vendas das colheitas, 1/3 dos salários e até uma cobrança por “existir” foi feita – cada residente, com a desculpa de estar sob os cuidados do governo, deveria reservar 10 moedas para a tributação. Um abuso. E os representantes, na assembleia, dias atrás, aliviavam as pessoas dizendo que só eram boatos. Um protesto pareceu formar-se em frente à sede, mas os guardas, esses sempre livres das taxas, exibindo suas lanças afiadas, espantaram o rebanho – ficaram os murmúrios no ar.

Que rumo tomaria aquele vilarejo, cada vez mais pobre? Contrastando com as casas simples, mal-cuidadas e mal-feitas, estava o palacete, majestoso. Um diamante ao redor da lama. Nada mais representativo: o chefe e os subordinados. Parecia até que aquele quadro dizia a todos: “vejam, de vossa miséria, o meu poder!”.

V

Não tinha como fugir: empobreciam, dia-após-dia, os moradores. Alguns venderam suas casas – compradas a muito custo – e partiram; outros aumentaram os preços das mercadorias – e diminuíam ainda mais os compradores; outros se pegavam às orações. Era uma situação que mais da metade da população, pelo menos uma vez, já passara fome. Por que o afenki não tinha a decência de baixar os impostos? Há semanas aquela carestia persistia, e não se via investimento em nada! – pelo contrário, tudo só ficava mais feio e abandonado.

VI

- Olha, Kalipi, entendo que seja necessário, mas não posso ficar roubando o dinheiro da mamãe, ainda mais agora. O cofre tem moedas que posso contar nos dedos, imagine se tomo uma, como não fará falta? – ela falava tão baixinho que os grilos e as cigarras chegavam a suprimir sua voz.

- Sei da dificuldade, mas é assim que funciono. As pessoas precisam me oferecer algo de valor para seus desejos serem realizados.

- É, poxa, mas não dá! Não posso tirar o dinheiro de jeito nenhum! Ficaremos sem comer? E o pior: se não tivermos como pagar as coisas no dia certo, o que será de nós? Poxa! Por que dinheiro? Não poderia ser guloso por outra coisa, ora!?

Kalipi esboçou um sorriso: - Ah, pequena, o que esse mundo está fazendo com você? Te vi aquela menina tão pura quando me tirou daquele lugar... e olhe só como parece outra pessoa. Escute, pouco me importa se é um galí¹ ou um pedaço de unha, o que preciso é alguma coisa que tenha valor. Já te disse isso, não?

- Não entendo, hum! Se tanto faz dinheiro ou unha...

- Quem atribui o valor às coisas são vocês humanos, sempre foi assim, e eu me alimento dessas coisas, é do sentimento de vocês que meu poder surge. Minha mãe Dimifiá, que à ela tanto vais rezar, me enviou à Terra para vocês terem consciência, minha missão foi vir aqui para a evolução de vocês. Há muito-muito tempo atrás, quando ainda vestiam-se de palha e folhas, não ladrilhavam o chão e nem elegiam afenkis, viviam à dança, à comida e ao corpo, seu povo me oferecia de tudo; as coisas pareciam tão banais... Mais tarde, numa quietude que reinou vocês por alguns séculos, eis o que faziam: sempre que uma peste ou uma grande necessidade faziam vocês virem até mim, juntavam-se todos e decidiam uma pessoa para servir de sacrifício. Isso porque aprenderam ser o próprio ser humano o mais valoroso. Porém, o que há séculos vocês fazem? Me dão moedas e mais moedas. Ora, vê que a culpa não é minha?

E a garota guardou aquilo na mente.

VII

O caminho de volta para casa, outrora calmo, se tornara um quadro-vivo de visões e aromas nauseantes. Maltrapilhos em meio à lama, estendendo os braços até mesmo à ela, simples garota; calçadas quebradiças e cheias de entulhos das casas deterioradas; gentes que, não tendo como pagar, viram tudo o que tinham ser tomado, e agora vagavam por aí a esmo – não tinham nem mais a si mesmos; aquilo virou um vale umbral - sombra que vence até o claro do Sol e perfumado do cheiro podre da miséria, que não é só insalubre, mas triste também. Entrar em casa era dolorosamente pior, pois se deparava com a imagem da mãe, emagrecidíssima, com o abismo dos olhos crescendo todo dia – e os irmãos sempre num silêncio fúnebre, porque a morte pairava ali. “Será que cansou de nós? Que sequemos até os ossos para que viva sua alegria com moedas em seu salão?”. As pessoas já não consideravam que tinham dinheiro, mesmo tendo algum em seus cofres, porque mesmo neles já tinha hora marcada para ser tomado. O temor vestia os nus e se oferecia de banquete aos esfomeados – na alva cúpula do palácio, alguém olhava de longe o mesmo ponto de sempre, atrás de si refletia um sol, aureando aquele homem com ar sombrio de caveira.

VIII

“Deve ser o bastante, ele há-de aceitar...”, abriu a porta e escorreu em seus pés um mar de risos e lágrimas, “hoje mesmo lá irei!”. Em casa, Lyth pensava: “pegar ou não?”. Havia uma aliança de prata com um rubi – valia, não? – de sua mãe. Sabia que estimava, mas já não passava instantes da noite olhando-a com um sorriso nostálgico. Tão forte dúvida que doía, mas era melhor aquilo ou comida? Bem... pensou e decidiu, ofereceria o objeto e teriam uma horta farta no quintal, com frutas invés da nojeira apodrecida que virou a plantação.

À noite a carruagem com um carregamento brilhante saiu em direção ao verde enegrecido. A ordem era pros seis soldados esperarem, porém um brado tão assustador veio daquela floresta que alguns até fugiram. Aquele grito era de quem vira a própria cova?

IX

A colorida hortinha trouxe muita alegria à casa, podiam comer sem preocupações com o amanhã e, incrivelmente, toda noite os cachos se renovavam. Só poderia ser uma bênção! Certo dia se fartaram e inda sobraram frutas. Lyth e seus irmãos distribuíam um pouco da colheita com uma doce senhora que estava na porta, entretanto um tropel infernal surgiu de-repente: eram soldados a cavalo e a pé, que sacudiam os transeuntes e invadiam casas - chegaram na entrada da casa de Lyth derrubando as cestas e empurrando a pobre, ignorando os gritos de todos; roupas foram espalhadas, gavetas, despensas, colchões também; todos os moradores passaram por isso e alguns que tentaram se defender foram espancados – mesmo uma criança foi vista com um filete de sangue a escorrer pela testa. Mais tarde os burburinhos diziam: ordem “dele” – algo seu sumiu e o quer de volta. Aquele redemoinho de suspiros ia se tornando violento... e com direção certa.

X

O dia que há-tanto representantes e líderes, em segredo, arquitetaram havia chegado: uma multidão flamejante se dirigia ao palácio sob aquele céu cor-de-incêndio – como se a deusa ardesse em dor pela desunião de seus filhos. As pontas trêmulas esperavam rasgar carne de semelhantes de seus donos e sentir o sangue correr nelas; os dedos magros davam confiança àquela horda tão miserável quanto. Atrás, protegido, o grande chefe, que, ao ter o vento forte batendo sobre si, tinha o manto a revelar sua silhueta agora degenerada... a essa hora veria as estrelas se acenderem na sua sala dileta, agora coordenava o que seria uma matança. Sugara tudo daquele povo a troco de quê? Nenhum dinheiro servia não tendo com quê trocar... ou melhor, com quem. Tinha certeza do lugar que o deixou, mas sumiu! Sua morte, então, viria com o fim do seu povo? Seus olhos brilhavam, seu coração batia forte e demorado.

No quintal, a menina ouvia o clamor – o desamor – e se desesperava ainda mais pela sua mãe, que foi para junto da tormenta após o mais-velho ir. Não queria que ele se arriscasse, aquele embate era matar ou morrer, não importava o tempo que levasse, quem ali ganhasse trataria de dar fim aos sobreviventes ou, quem sabe, escravizá-los, e, ao saber que lá estava, foi buscá-lo deixando lágrimas para trás – os pequenos foram também, chorando igualmente, ela fora a única que ficou, vendo toda tragédia acontecer uma após a outra. Lyth só queria que tudo acabasse, que as coisas voltassem ao normal. Uma fresta pareceu abrir lá do céu só para ela: vestiu-se de luz derradeira; quem visse a confundiria com uma das estátuas d’ouro que circundavam a cúpula do opulento edifício.

Ela foi, o mais rápido possível, àquela florestinha, no seu lugar querido.

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Os pés alcançaram o último degrau, ela estava em frente ao ícone – e a Kalipi. Era paz o desejo. Lyth abriu os braços e fechou os olhos, sentindo um ar leve se formar, as glicínias do-redor acenderam e tudo tomou uma luz crepuscular mística, a estátua agora era viva!, sim, abraçou a filha, ouro puro, e juntas bailaram ao céu a dança que derramava cristais, novas estrelas; o sacrifício estava feito. Deu ela a filha amada como sacrifício.

Fazia um ano desde o ocorrido. Não havia lugar que não tivesse alguém trabalhando numa reforma ou n’algo do tipo, casas reconstruídas, pedras no lugar da terra nas ruazinhas, a beleza renascendo no que fora um grande túmulo. O dinheiro estava, enfim, sendo investido; os antigos desesperados, sem um tostão, não mais fremiam de olhos esbugalhados, fitando as imagens que a fome oferecia à alma. E o que aconteceu com o palácio? Seu grandioso salão agora era um hospital – veio de alguém essa decisão, e pela mesma pessoa foi decidido transformar a alcova do alto, a mesma que um dia brilhou como um Sol, num lugar de meditação, onde quem entrasse não levava consigo o quão fino era o tecido de sua roupa ou o quão cravejado de brilhantes ele era, o tamanho de sua casa, os anéis que levava, o cargo que possuía; ali a oração vinha mesmo da alma, esta que está nua, à mercê da luz que deixa-nos aproximar e virarmos um só com ela.

Telózei trocou o semblante por um sorriso perene. Com sua vitalidade de volta, desde que ajoelhou-se e levantou as mãos àquele céu que se abriu – e ali pôde ver as constelações surgirem verdadeiramente -, dedicava a vida a zelar por aquele recanto que um dia pensou ter achado o maior dos tesouros da sua vida... E numa casinha uma família chorava e sorria ao ver ali, no chão pegajoso do quintal, ter nascido uma bela flor dourada.

Fim...

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(Considerações fúteis)

Para quem acompanhou os meus últimos textos para esse certame, perceberá que esse está com uma abordagem beeem mais simples. Acho que ficou por volta de 3170 palavras - e é bem perceptível mesmo que os atos ficaram bem "rushados"; tanto que o final, que, no primeiro arcabouço, era totalmente diferente deste (e bem mais "cinematográfico", ainda bem que foi para o limbo, porque ficaria um pouco ridículo). Para ter dimensão do exagero: haveria um idioma nativo (outra bobagem que esqueci completamente quando comecei a escrever), queria também fazer uma descrição cultural, dando uma ideia da arquitetura camponesa (leve em consideração o realismo fantástico, então, apesar de tudo estar do nosso jeito telúrico, seria algo bem mais "colorido"). Uma coisa: esse é, talvez, o primeiro texto escrito para o concurso que eu já havia escrito há um tempo, talvez foi ano passado, mas uma certa coisa me influenciou a criar esse ser que troca coisas por outras e, juntamente com outra coisa (quanto mistério), surgiu essa história; tudo bem que beeeem inferior, acho que nem postei, aliás, deve estar no meu rascunho - pois taí. Esse P.S. não será passível de punição, não é? Nada tão importante do texto em si foi dito. Hum, comecei um início desta estória no celular (se eu postar aqui é capaz de vocês terem ideia do quão cheio de elementos (muitos desnecessários) teria esse texto. Alguns personagens foram cortados e outros tiveram sua importância perdida, seria um conto beeem mais mitológico, but desse jeito ficou equilibrado. Será esse o texto de terror mais sem-terror da edição? Veremos. É isso (y).

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 23/05/2022
Reeditado em 28/05/2022
Código do texto: T7522406
Classificação de conteúdo: seguro
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