TERROR NA ESTRADA.

As batidas fortes na porta. Era madrugada da primeira semana do inverno quando Juliette Lewis despertou. Ela pegou o celular, com o quarto ainda escuro, e ligou para o amigo Dennis. -"Venha aqui, agora. Tem alguém no quintal." O rapaz riu. -"Quem vai querer estar no seu quintal, Juh? Não há nada de interessante no seu quintal!" A moça sussurrou. -"Engraçadinho. É sério, Dennis. Vou ligar para a polícia." O rapaz mudou o tom da voz. -"Polícia? Vai chamar a polícia? Seu carro está amassado, vai levantar suspeitas. Acho que matamos alguém naquela noite. Tinha sangue no seu carro e nenhum corpo no asfalto." A moça abriu a boca quando percebeu que a porta da cozinha se abriu. -"Polícia! Jefferson Street, Sunset, 478. Minha casa foi invadida." Ela não deu chance pra policial fazer perguntas e deixou o celular sobre a cama. Os passos no piso de madeira da cozinha. Juliette certificou-se que a porta do quarto estava trancada. Passou a mão nos cabelos, nervosa. O taco de beisebol na mão. -"Juliette Lewis? Está aí, querida?" A moça tremeu ao ouvir seu nome mas não reconheceu aquela voz. A luz de uma lanterna passou por baixo da porta do quarto. -"Como ... como entrou aqui? Quem é você?" Criou coragem mas a voz saiu fraca, denotando medo e angústia. -"Juliette, Juliette. Eu entrei na sua garagem, noutra noite. Ainda estão lá, o amassado no capô e o trincado no vidro. Ficou com medo de explicar ao mecânico, entendo." A moça estava boquiaberta." Ela riu. -" Dennis, é você me assustando. Está mudando a voz, desgraçado?" A moça percebeu que as luzes da casa estavam acesas. Os passos. -" Não sou Dennis. Juliette, demorei sete meses pra te encontrar." A moça estava aterrorizada. -"Quem é você? A polícia está vindo." Dava pra ouvir uma respiração ofegante, do outro lado. -"Tem uma bela casa, querida. Juliette, Juliette, você quase me matou, sabia? Caí num barranco, sobre o pântano cheio de lama e crocodilos." A moça levou um susto quando tiros de um rifle destruíram a fechadura. O homem entrou, após derrubar a porta com um chute. Ele avançou e socou a moça. Juliette caiu na cama. Um tiro de revólver no braço da moça, sem reação. Ela urrou de dor. O homem sorriu. -"Juliette, Juliette. Ah, o seu braço. Foi mal. Há semanas rondo sua casa que aliás, vai queimar inteira. Olha, estamos quites, querida." Ele mostrou a prótese no braço esquerdo. -"Venha comigo. Se correr, o próximo tiro será na cachola." O homem forte a pegou. Juliette foi algemada e levada até um carro. O rifle apontado. O homem fez a moça entrar no porta malas. -"Quem é você, louco? Não o conheço e nada lhe fiz." Ele sorriu. Ele espalhou gasolina na casa e botou fogo. -"Louco?! Fiquei louco depois que você cruzou meu caminho. Você e seus amigos imbecis. Você não me conhece mas já me fez muita coisa. Perdi meu braço e quase perdi a vida por sua causa. Aquele amassado no seu Camaro. O trincado no vidro, foi apenas minha cabeça que bateu com minha queda e trincou o seu vidro. Devo pedir desculpas??" Juliette estava confusa. O ferimento do tiro queimava. A roupa ensanguentada. O homem trancou o porta malas. Ele ligou o carro. Apertando um botão, detonou pequenas bombas que tinha colocado em pontos da casa da moça. A polícia chegou no mesmo instante que Dennis. A casa de Juliette ardia. Uma cabana numa clareira, no alto da floresta. Juliette foi retirada do carro. O rifle apontado pra ela. -"Vou amarrá-la no sofá, Juliette. Essa mordaça vai impedir que seus gritos espantem os animais da floresta. Eles não têm nada a ver com gente ruim, como você e seus amigos. Dennis logo estará aqui. Karen está no quarto ao lado, sabia? , Está também amarrada e com um tiro no braço. Também queimei a casa dela, sabia? Eu me divirto colocando fogo nas coisas, piromania é a palavra. Acho que é! Dennis e Karen estavam no carro, naquela noite. Aquele nevoeiro, altas horas da madrugada, três jovens bêbados num carro. Alguém correndo no acostamento foi colhido e levantado. O rapaz bateu a cabeça no vidro, caiu no carro e foi catapultado pra cima, caindo no barranco. E o pântano lá embaixo, onde passei noites tendo o céu por cobertor, na lama, supercílio aberto, dezenas de dentes quebrados, o corpo imóvel e dolorido, um corte profundo na cabeça esperando a morte pois três irresponsáveis resolveram pegar o carro e dirigir alcoolizados! Quero que sintam um pouco a dor que passei, imbecis." Juliette olhava o homem, falando calmamente e pegando instrumentos numa maleta. Ela entendeu que tinha atropelado aquele rapaz e não um animal, como pensava. -"Karen teve o cabelo raspado. Teve que tomar várias injeções, remédios, anestesia. Eu passei por tudo isso, por causa de vocês." Juliette teve os cabelos cortados. Na manhã seguinte, o homem a deitou numa caixa de madeira, no chão da cabana. O homem encheu a caixa com lama, até quase cobrir a moça. -"Essa lama é melhor que a lama do pântano. Tem um pântano lá embaixo da estrada, sabia? Passei três dias alí, desacordado, com a perna e braço quebrado, costelas quebradas e a cabeça doendo. Meu braço foi comido por um crocodilo. Um índio, que passava de barco alí perto, ouviu meus gritos de terror e me salvou, atirando no crocodilo." Juliette estava assustada. -"Jeremiah, era o nome do rapaz que me salvou. Cortou meu braço, triturado dentro da boca do crocodilo. Me levou ao hospital. Fiquei em coma, a beira da morte. Perdi a memória, tão forte a pancada no vidro do seu carro. Ganhei a prótese, após um bom tempo de fisioterapia. Recuperado, pesquisei em todas as oficinas mas não encontrei nenhum carro amassado. Fui em todas as revendas de automóveis, nenhum sinal de quem tinha me atropelado. Tive que subornar muita gente, investigando os eventos naquela noite fatídica. Uma festa rave, em Brownville, a trinta quilômetros daquele local do meu acidente, era uma pista. Uma festa com música, drogas e muito álcool. Consegui a lista de presença da festa. Muita gente, era quase impossível investigar todos da lista. Uma missão ingrata e difícil." Juliette estava fraca. -"Olha que coincidência, uma amiga psicóloga me falou de um paciente, Dennis. O moço estava transtornado e tendo pesadelos pois pensava ter atropelado alguém na estrada. Não sabia se era um animal ou uma pessoa na pista, na neblina mas tinha visto uma mancha de sangue sobre o carro que a amiga dirigia. Retornavam de uma rave, drogados e bêbados. A amiga tinha um Camaro e tinha medo de arrumar o veículo pra não levantar suspeitas. A idiota não quis me dar o endereço do paciente, conduta profissional e toda aquela ladainha moral. Stefany foi minha primeira vítima e assim cheguei ao tonto do Dennis. Aí, foi fácil chegar a Karen e a você, querida." Juliette foi tranca num quarto, onde Karen jazia no chão. A moça estava amarrada e desmaiada. Juliette notou os ferimentos e sinais de injeções na amiga. -"Karen, me desculpa. Juro, não achava que tinha atropelado esse cara." Pensou Juliette, enquanto o serial saiu de carro. Nesse momento, Dennis tinha acabado de dar seu depoimento a polícia, nada omitindo. -"Esse cara, o suposto atropelado, virá atrás de você. O pai de Karen Stuart telefonou e informou que não vê a filha há quatro dias. Sua história faz sentido e deixaremos que ele o leve até o esconderijo onde suas amigas devam estar." Disse o delegado Romeiro. Mesmo vigiado por policiais a paisana, Dennis foi pra casa. Sua tia e sua irmã estavam de férias no Hawaii e isso o tranquilizava de alguma forma. A noite caiu. Dois carros da polícia estavam perto da casa. Dez da noite, Dennis assistia um filme. O saco de pipocas vazio, devido a ansiedade do rapaz. A sala na penumbra. Um vulto no jardim. Os policiais nada viram. A porta da cozinha se abriu. Dennis cochilava. -"Dennis? Acorde pois vamos dar uma voltinha." O rapaz despertou, assustado. -"Quem?" Ele não teve tempo de perguntar ao homem com um rifle pois sua cabeça foi coberta com um capuz. As mãos já estavam amarradas. -"Dennis, venha comigo. Sem gritos ou atiro. Isso, vamos sair pelos fundos." Antes disso, um fax chegou ao delegado Romeiro. -"Emiliano Lamarca, um comerciante mexicano radicado em Denver. Visitava amigos na cidade e desapareceu por encanto. Gostava de correr de madrugada, era um maratonista. Esteve no hospital de Santa Fé e Atlanta, sem nome e endereço, desmemoriado. As fotos estão no arquivo dos hospitais e bate com a descrição de Emiliano. Temos fotos de inscrição das corridas que participou. Nosso serial killer só pode ser ele." Disse o investigador Brian ao delegado. O policial rumou para a casa de Dennis, com as fotos do suspeito para entregar aos policiais de paisana que vigiavam a residência. Na pressa e por sorte, o delegado pegou seu próprio veículo, sem os adesivos de polícia. Um carro vinha na sua direção. O delegado passou devagar, prestando atenção ao motorista. Emiliano sorriu e cumprimentou Romeiro, sem saber que era um tira. O delegado sorriu mas logo freou. -"Por Deus. É o Emiliano." Ele pegou o caneco do rádio amador e chamou reforços. Esperou que o carro de Emiliano ganhasse certa distância e o seguiu. A saída da cidade, uma estrada de terra pra floresta. O delegado parou o carro e subiu a pé. A cabana no alto, entre carvalhos. Ao longe, o delegado viu Dennis ser conduzido a cabana. Estava encapuzado. Logo depois, um tiro. Dennis foi trancado no quarto, onde Juliette e Karen jaziam, dopadas. O rapaz tinha levado um tiro no braço, após ouvir a história de Emiliano. Dennis estava certo pois sempre acreditou que Juliette tinha atropelado alguém naquela noite, voltando da rave. O braço de Dennis doía devido ao tiro. As drogas injetadas nele fizeram efeito e o rapaz sentiu o corpo todo arder. Sem forças, amarrado e amordaçado, Dennis desmaiou. Quase meia hora depois, os reforços policiais chegaram. O delegado foi rápido e apontou pra cabana. Os doze policiais, com lanternas potentes e armados, invadiram a cabana. -"O quarto. Vamos." Os policiais arrombaram a porta. O delegado chamou a ambulância. Dennis e Karen estavam vivos. Juliette não suportou a overdose de drogas injetadas. Os policiais saíram. Nenhum sinal de Emiliano. -"Ele percebeu alguma coisa e saiu, provavelmente correndo pela floresta. É maratonista e deve estar longe agora." Disse o delegado. Emiliano entrou na lista de procurados da polícia. Investigadores chegaram a Jeremiah, aquele que salvou a vida de Emiliano. Ele jazia eternamente no cemitério Sant Peters, vítima de envenenamento. Seria mais uma vítima de Emiliano? Após uma semana no México, Emiliano chegou ao Brasil, com documentos e passaporte falso. O porto riquenho Amarildo Velasquez vive tranquilamente em Vila Isabel, onde aprendeu a gostar de samba, feijoada, caipirinha e do Fluminense. FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 07/05/2022
Reeditado em 07/05/2022
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