O BONECO DE VODU 👤
Um dia de verão em passeio
Cheguei a um espetáculo mágico
De alegria o espírito cheio
Transformou-se em algo trágico!
Acreditei que a vida inteira,
Que magia negra era pura crendice
Tornou-se ia tanta besteira,
Envolta em mistério e muita tolice!
E aquele boneco de simples pano,
Com os alfinetes tão agudos espetados,
O vodu dum velho negro africano
Pelos séculos foram assim respeitados!
Quando o teatro e toda a encenação
Comecei a ri daquilo tudo
Foi quando a plateia em sua excitação
Zombou do velho mudo!
A esposa interveio e solicitou
Que a descrença seria a minha cova!
Para tanto enfim recomendou
Que eu fosse à cobaia daquela prova
Ergui-me de onde havia me sentado
E fui direto para o palco vazio,
Aproximando-me do negro trajado,
Senti subir-me um leve calafrio
Com a benção ou outra mandinga
O velho senhor começou o doido ritual
Tinha na mão um charuto e pinga
Para realizar aquela invocação espiritual
Com cânticos de estranhos dialetos,
Em transe eu sequer sentia,
Os pelos do corpo ficarem tão eretos
Na ignorância nada presumia
Que alma seria aprisionada
Em um boneco em traços humanos
Para sempre a vida sepultada
Dentro de peças e trapos de panos!
Senti um sono pesar-me tanto,
Que procurei dormir rapidamente
Procurei um espaço ou canto
Para me refazer assim lentamente
Quando acordei os olhos miúdos
Avistaram uma prateleira
Meus ouvidos tampados e surdos
Estavam presos a cabeceira
Vi em minha frente meu corpo,
Que parecia estar somente desmaiado,
Poderia estar vivo e assim morto
Quando me observei assim espantado?
Já ao peito a angustia não cabe
Quando essa imagem enfim sobreveio
Quem nunca morreu jamais sabe
A dor maldita deste tenebroso receio
Sou um corpo sem vida e alma,
E agora estou aprisionado,
Perdi a esperança em toda calma
Em boneco fui transformado
E aquele velho se aproximou
Rindo como se tudo fosse uma piada
A mim uma praga então rogou
Dando-me de presente a filha amada!