A PROCISSÃO DOS MORTOS ⚰️

Era uma noite assim lembro,

Noite de chuva e insistente temporal

Um dia qualquer de setembro

Passara diante da porta certo funeral

Ao dobrar do sino na capela,

Poderia ser meia noite eu presumia,

Por detrás do vidro da janela

Assim aquela marcha enfim resumia

Observei curioso o que acontecia,

Se era o finado conhecido,

A multidão solitária só prosseguia

Naquele cortejo emudecido

Desci essas escadarias em correria

Para seguir o ato fúnebre

Este morto então quem ele seria?

Neste tropel tão lúgubre?

Juntei-me na multidão quase calado

Seguia em canto a procissão

Em respeito ao defunto assim finado

Calou-se toda esta multidão

Porém certa senhora bem pequena

Neste acaso me interpelou

Com a fronte sulcada, porém serena

Sem respirar apenas ditou:

-Por favor, permita acender a vela

Que ampara a alma peregrina

Acenda em prece faça com que ela

Ilumine do morto a triste sina!

Segui o conselho da senhora

E como o cortejo já parara o canto

Ao consultar no relógio à hora

Próximo já estava do campo santo

Entrando nos portões do cemitério

Todo o grupo desapareceu

Estranho fato neste louco mistério

Porque isto assim ocorreu?

Percebi que longe então luzia

Uma débil e fraca luz,

Vi que era um círio que ardia

Próximo a uma cruz

Era um túmulo velho e esquecido

E no epitáfio estava um retrato,

Talvez eu houvesse enlouquecido

Mas a verdade era real de fato!

Diante de mim o rosto familiar

Era daquela velha mulher

Que morta há uma década secular

Deu-me uma vela qualquer!

Um calafrio imundo me fez tremer

Em horror banhar o existir

Em passos largos ao lar fiz volver

E desesperado quis dormir!

Deite-me e com receio então dormi,

Com isso na mente tão latente

Quando acordara cedo logo percebi

Essa vela era um osso de gente!

rodrigokurita
Enviado por rodrigokurita em 28/04/2022
Código do texto: T7505176
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