OS DENTES DE BERENICE 🦷
Uma fixação de onde ela vem?
Que na mente se apossa?
Estou insano, ou talvez o bem
N’alma fria então acossa?
Tive por certo tempo a obsessão
Por essa coisa doentia,
Como o certo tipo de possessão
Minha mente se retorcia
Eram tão brancos em sua candura
Que se abriam assim reluzentes
O princípio de toda minha loucura
Por aqueles bem brancos dentes
Tão brancos que assim brilhavam
Quando para mim ela sorria
Na mudez sempre me chamavam,
No frenesi de doida agonia!
Cintilavam como os diamantes
Que o nobre entalhador apenas lima
Emitiam uns sons dissonantes,
Eram aqueles dentes da minha prima
Quando eu tentava descansar
Via-os fixos e muitíssimos salientes
Era o terror que vinha assustar
As imagens malucas daqueles dentes!
Estive senão sempre perturbado
Com a imaginação de tê-los comigo,
Cada dia após ter-me levantado
O álcool servia-me como fiel amigo
Certa vez, o criado me acordou
Com os petrificados olhos então via
Na voz entrecortada sussurrou,
Alguma coisa que eu sequer ouvia!
Falara que ouvira certos gritos
Assim parecia-me que então me disse
Pareciam de uns fúnebres ritos
E eram vindos do quarto da Berenice!
Percebi que minha camisa
Estava suja com o sangue de alguém,
Estava fria como leve brisa
No momento não tinha visto ninguém
Meus dedos estavam lacerados
Pareciam mordidos com intensa dor
Como se estivessem tão cortados
Foi que avistei aquela cena de horror!
Caído ao lado do meu leito
Próximo ao velho e surrado diário,
Senti-me um refém perfeito
Ao ver esse instrumento dentário!
Foi quando então dei-me conta
Não acreditei naquela insana crendice
O criado para um frasco aponta
Dentro estavam os dentes de Berenice!