O CORVO 🐦

Vinde a mim. Vós que quereis agora,

Porque se escondeis ante minha restinga?

Brindastes comigo? sem haver demora

Meu cérebro fervilha neste copo de pinga!

Quisera eu ter pouco, bem ademais

Ouço nas trevas a voz: - Nunca mais

Enfim pela torpeza ainda me alembro,

Dentro destas sombras este fétido miasma

Era inverno! Certamente era dezembro

E no meu covil enegrecido vi o fantasma!

Novamente disse-me: Nunca mais,

Soprou a frase por entre os umbrais!

Abro a janela e observo aquela solidão,

O vento gélido trespassar esse aquecido corpo,

Seria eu? Novo herdeiro d’uma maldição

Se for isto! Dai-me um tiro! Quero estar morto

Porém, senti o bater das asas mortais

O grasnado fúnebre entre os castiçais

Quereria na ganância todo esse meu tesouro?

Dizei-me maldito ser quem te habita?

Maldita seja! Ave negra! Sinal do mau agouro

Que todo esse horror nunca se repita!

Mas a ave fitando-me grasnou: Nunca mais

Haveria de ter paz, nem nos paraísos astrais!

Peguei na gaveta o revólver, tornei-me estorvo

Ao inferno com toda a dor que partilho,

Eis a criatura! A vela alumiando, o negro corvo

Ponho o dedo trêmulo perto do gatilho

Graceja a ave na penumbra: - Sabes nunca mais,

Pela morte o diabo conforte a nós meros mortais!

Edgar Allan Poe
Enviado por rodrigokurita em 11/04/2022
Código do texto: T7492911
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