O CORVO 🐦
Vinde a mim. Vós que quereis agora,
Porque se escondeis ante minha restinga?
Brindastes comigo? sem haver demora
Meu cérebro fervilha neste copo de pinga!
Quisera eu ter pouco, bem ademais
Ouço nas trevas a voz: - Nunca mais
Enfim pela torpeza ainda me alembro,
Dentro destas sombras este fétido miasma
Era inverno! Certamente era dezembro
E no meu covil enegrecido vi o fantasma!
Novamente disse-me: Nunca mais,
Soprou a frase por entre os umbrais!
Abro a janela e observo aquela solidão,
O vento gélido trespassar esse aquecido corpo,
Seria eu? Novo herdeiro d’uma maldição
Se for isto! Dai-me um tiro! Quero estar morto
Porém, senti o bater das asas mortais
O grasnado fúnebre entre os castiçais
Quereria na ganância todo esse meu tesouro?
Dizei-me maldito ser quem te habita?
Maldita seja! Ave negra! Sinal do mau agouro
Que todo esse horror nunca se repita!
Mas a ave fitando-me grasnou: Nunca mais
Haveria de ter paz, nem nos paraísos astrais!
Peguei na gaveta o revólver, tornei-me estorvo
Ao inferno com toda a dor que partilho,
Eis a criatura! A vela alumiando, o negro corvo
Ponho o dedo trêmulo perto do gatilho
Graceja a ave na penumbra: - Sabes nunca mais,
Pela morte o diabo conforte a nós meros mortais!