Parei minha Bike em frente ao terreno escuro e então…a LUZ estranha apareceu. Era predominantemente verde, florescente e muito ofuscante. Porém, às vezes se tornava amarela, ficando ainda mais forte; Quase impossível de encarar sem proteger os olhos com as mãos. Parecia um brinquedo gelatinoso que produzia luzes em neon, com lindas cores. E quando eu ameaçava fazer qualquer movimento… A luz se apagava e tudo voltava a escuridão assustadora de antes. Até o solo ficava difícil de enxergar e as estrelas por cima das árvores – quase fechadas entre si, por galhos emaranhados – piscavam juntamente ao meu relógio de pulso. Eu estava montado em minha Bike e eu tinha quase 11 anos. Sabia qual direção seguir se corresse rápido pra casa, mas não me movia… Estava maravilhado e assombrado. Eu já era naturalmente um menino assustado que gritava durante a noite com medo de qualquer barulho… sempre cheio de pesadelos… Minhas madrugadas eram sempre perdidas, eram terríveis. Mas ao observar aquela luz oval, ofuscante, cintilante… Eu não queria mudar minha rota e voar em minha bicicleta pra casa, chorando como um covarde, como sempre fazia… Algo martelava em minha cabeça: “Henrique, isso não é DAQUI! Isso não é desse planeta!! Você não PODE perder isso!”. Mesmo que quisesse eu mal podia me mover direito. O medo e fascínio eram grandes demais… Desci da bicicleta e encarei o objeto por minutos intermináveis…percebendo que – além da luz que omitia – seu formato também mudava de tempos em tempos. Oscilava entre um objeto quadrado, cônico, oval… ou uma esfera cheia de energia. E às vezes simplesmente movia-se como uma geleia. Senti meus olhos lacrimejando pois mal lembrei de piscá-los. O balé da luz estranha no terreno escuro me hipnotizava de tal forma, que até hoje não sei contar se fiquei por alguns minutos… alguns segundos… ou se passei horas perto dela.

 

O que sei é que em momentos como esse NINGUÉM APARECE… ninguém. É impressionante! Mas ao mesmo tempo, também sinto que entrariam em pânico, tentariam tirar fotos, gritariam… chamariam a imprensa. Fariam a luz desaparecer, apagar, fugir. Sei disso… E isso faz minha tarefa de contar uma história verídica: um caso perdido. Involuntariamente dei um passo à frente pois ouvi o apito de um guarda-noturno, que fazia a ronda de bicicleta e estava por perto. A luz estranha se apagou por tantos minutos que achei que não a veria de novo. Fiquei parado sem me mover e respirando bem baixo e devagar… Tive uma sensação de tristeza e vazio. De repente notei que estava totalmente sozinho. E senti que era, realmente, um menino solitário demais… Percebi que aquele “passo em falso” que dei em direção à luz… não era o único. Eu já me encontrava quase colado ao objeto estranho. A luz estava entre dois arbustos e eu quase a tocava. Me veio o impulso de retroceder e fugir… mas pensei que – o que quer que fosse aquilo – poderia me atacar por trás facilmente. E se eu avançasse mais… a tocaria. Bem ou mal, amistoso ou mortal… O contato dependia dum simples levantar de braços e dedos, um simples toque. Hoje penso: “O que era aquilo, meu Deus?! Eu vi MESMO… Aquela luz?!”. Tentei dar só mais um… passo à frente, quando senti um bafo quente passando por mim e algo peludo e úmido encostar no meu braço. Saí correndo sem olhar para trás deixando a bicicleta pra trás também. Ganhei a rua iluminada e minha casa já estava perto… do outro lado, havia o mar. Como explicaria aos meus pais o sumiço de minha Bike?! Preferi me virar e voltar… Olhei atentamente… Era apenas um cavalo magrelo comendo capim. Eles vagavam pelo condomínio, entravam nas casas, ninguém se importava, eram mansos. Ele estava perto demais da luz…

 

Mais perto do que eu estava. A luz voltara a brilhar muito forte e ofuscante, assustando o animal. Percebi que o cavalo não conseguia sair do lugar. Vi seus músculos se contraírem em agonia e o grunhido abafado e desesperado emitido pelo animal… até hoje me dá calafrios. Não sei como ninguém apareceu naquela hora… como não ouviram?! Lembro-me do pavor em seus olhos…Os músculos contraídos e o corpo paralisado, controlados pela luz. Senti meus olhos fecharem como num breve cochilo. Quando dei por mim estava deitado ao lado do pé de manga… minha Bike ao meu lado. O cavalo tinha desaparecido. Voei como louco pra casa, já tinha visto o suficiente… Cheguei em casa bufando e esperando perguntas preocupadas. Mas todos estavam vidrados em frente a TV e nada disseram. A calmaria daquele lugar tranquilo, permitia certa “despreocupação” com as crianças. Alguns minutos depois, meu pai virou para mim perguntando: “VOCÊ SOUBE DA LUZ ESTRANHA NO CÉU?”. Meu irmão completou: “Os pescadores viram… Deu na TV e no rádio!”. Engoli seco… Dei uma risadinha e entrei no meu quarto. Uma semana depois, retornei pela tarde ao terreno… e só o que vi foi que tinham aparado tudo e até arrancado a mangueira. Agora havia uma placa de “VENDE-SE”, que estava bem no lugar onde a luz esteve. Verde… às vezes amarela… ofuscante… cônica, oval, ou oscilante… Ela meio que… dançava pra mim.

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 05/04/2022
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