O Peso de uma Vida
Tenho tido muita dor nas costas ultimamente…
Uma dor estranha, como se tivesse carregado algo pesado.
Tenho tido isso, na verdade, desde que minha irmã morreu a um ano atrás.
Ela era... O oposto de mim, se assim posso dizer. Uma pessoa extrovertida, para frente e alegre, enquanto sempre fui depressiva e fechada.
Porque estou escrevendo isso em meu diário, quem iria se preocupar em ver? Alguém pensa em mim? Acho que não...
De qualquer forma, se alguém ler, acredito que vai se perguntar... E o motivo é o seguinte...
Bom, semana passada fui visitar meus pais e sem eu saber tinha mais uma pessoa envolvida na história.
Sem eu saber, haviam convidado para o jantar um senhor que mora na rua, cego e solitário... Um homem estranho, na verdade, que sempre me deixou desconfortável.
Tenho tido muita dor nas costas, e durante o jantar senti que ele olhava para mim sem parar, com aqueles olhos opacos no fundo de um rosto enrugado.
Me senti estranha, admito, e mesmo sabendo que o senhor era cego, me pegava desviando o olhar daqueles olhos com cor de água suja. Não conseguia entender porque o convidariam para ir lá em casa.
No final da noite, antes de ir embora, ele me chamou para conversar no quintal... Eu e ele apenas, sem ninguém mais para ouvir.
“Você tem dor nas costas... Um peso...”. – disse ele.
“Sim, é verdade... Não achei que desse para notar... ” – respondi, lembrando então que ele era cego e não fazia sentido.
“Não preciso de olhos para ver que carrega com você um pecado grave. O que você fez deixou uma marca que nunca mais vai sarar. “.
Voltei a encarar aqueles olhos opacos, sem saber o que dizer, mas o que o senhor falou me fez voltar a um ano atrás, no dia em que sem ninguém saber, por inveja, matei minha irmã.
“Esse peso em suas costas é sua irmã, que você carrega nos ombros desde o dia que a matou. ”. – concluiu ele.
Eu fui embora chorando, não entendo como ele viu, mas mesmo em meu desespero eu percebi que era verdade.
Naquela noite, sozinha em casa, fui até o banheiro e me olhei no espelho. Sequei as lágrimas de meu rosto e então apaguei a luz.
E foi aí que vi, em meio a escuridão do meu banheiro, levemente iluminado pela luz do corredor, no reflexo do espelho...
Era ela, agarrada em mim, apoiada em meus ombros... Minha irmã, com olhos negros e pescoço aberto onde a cortei... Que nunca me perdoou e agora nunca mais vai me deixar em paz.