CLTS 18 - Tema: Herança Africana

Conto vencendor desta edição

    1

    O velório do menino Ricardo estava cheio, mas nem todos estavam ali para prestar pêsames à família enlutada. A capela ficou pequena e mal se via os pais perto do caixão. A morte misteriosa do garoto despertou a curiosidade mórbida de muita gente fora do círculo de parentes e amigos.

    Não se poderia dizer também que minha presença no velório tivesse a ver com parentesco ou amizade. Não conhecia a família, mas meu filho sim. Pedro encontrava-se muito abalado pela morte do seu melhor colega da escola.

    — É um pecado... tão novo... morrer assim desse jeito! – cochichou a senhora próxima de nós, como se estivesse a falar consigo mesma. – O pobre teve um final terrível, sangrando pelos olhos e ouvidos!

    Senti Pedro se contrair tenso ao meu lado.

    — É verdade! Nenhum médico conseguiu explicar essa doença – devolveu em sussurros outra senhora. – O guri foi definhando aos poucos, sabia?

    — O povo tá falando por aí que essa doença foi trabalho de macumba forte! Dizem que há coisa de um mês, mais ou menos, os pais deram com um ebó dentro do cercado deles. Tinha um boneco de pano ensanguentado junto à foto do menino.

    Não gostei do rumo da conversa. Meu filho se impressionava demais com este tipo de assunto. Percebi logo a sua ansiedade no cruzar e descruzar nervoso dos braços. Precisava tirá-lo rapidamente dali.

    — Olha lá na entrada, espia só! O que a Mãe Ieda de Oxóssi tá fazendo aqui? – apontou uma jovem chamando a atenção das outras duas.

    Sem poder evitar a curiosidade, por reflexo, virei-me na direção da porta e constatei a presença de uma senhora negra toda trajada de branco, usando uma espécie de turbante da mesma cor a lhe emprestar um ar de certa autoridade religiosa. Ela estava enfeitada com colares de contas nos braços e pescoço, trazendo à vista a figura típica das mães-de-santo do candomblé, religião afro-brasileira que, eu não sabia bem porquê, sempre causou-me grande fascínio.

    — Amanhã, preciso acordar cedinho pro trabalho – avisei a meu filho.

    Pedro, por me conhecer muito bem e compreender o incômodo dos mexericos em volta, assentiu sem reclamar.

    — Sim, pai, vamos embora. Mas antes eu preciso ver o meu amigo – disse abatido, olheiras profundas, já tomando rumo para o centro da capela.

    A princípio, apenas observei Pedro se afundar naquele aglomero de gente. Velórios são, muitas das vezes, gatilhos para se reviver pedaços do doloroso passado. Aquele me fez lembrar o funeral de minha querida Helena, morta havia alguns anos.

    O cheiro de flores, o burburinho das conversas, as vestimentas pretas, o cafezinho em copinhos de plástico, as lamurientas rezas e hinos religiosos das velhas, enfim, tudo aquilo estava bem ali novamente à minha frente com um componente novo: a quantidade excessiva de pessoas.

    Mas quem me dera fosse somente isso!

    Apesar de estar preparado para aquele conjunto de lembranças ruins, em nenhum momento me passou pela cabeça me deparar de repente, naquela noite, com o início do horror sobrenatural que irrompeu à normalidade da minha vida pacata de cidadão comum; uma vida simples, sem preocupações maiores do que pagar as contas de luz e água no fim do mês.

    O pesadelo começou quando resolvi ir ao encontro de Pedro.

    A curta caminhada no meio de tantas pessoas até o caixão foi difícil, era como se você andasse numa floresta densa e tivesse que se desviar de árvores o tempo todo. À medida que ia chegando até o local, comecei a sentir odores diferentes do usual em velórios: cheiros de cachaça e fumaça de cachimbo!

    Ora, aquilo era muito esquisito!

    Diante da estranheza de tais odores vindos do centro da capela, curioso, espichei o olhar por cima da multidão e tomei o choque! Minhas pernas bambearam, o coração levou um tranco, ondas de arrepios tomaram-me o corpo e pensei estar alucinando ao ver a imagem surreal de um homem, quase como se fosse um holograma, empoleirado no caixão.

    Não sei, mas agora parece-me impossível expressar todo o meu espanto quando cheguei junto a Pedro, bem próximo do ataúde fúnebre, porque mal me lembro de como a percepção das coisas foram-se assentando aos poucos à minha volta sem que eu tivesse surtado.

    O tal homem, envolto em névoas, estava de cócoras, sentado sobre os calcanhares com os pés desnudos apoiados nas bordas do caixão. O corpo magro expunha a nudez de sua pele negra e vestia uma tanga amarfanhada. A argola em torno do pescoço, de onde pendia elos de corrente, evocou-me logo a figura dos escravos africanos dos livros de história.

    O espanto inicial transformou-se em horror quando observei com atenção o rosto do homem. Aquilo certamente não era coisa de Deus! Da sua testa despontavam dois pequenos chifres escuros, os olhos eram completamente negros e da boca entreaberta percebia-se dentes pontudos ameaçadores; toda a sua expressão irradiava uma concentração maldosa na direção do menino morto.

    O medo primordial de morte me invadiu o espírito e o instinto urgente de me afastar dali foi tão intenso que, de modo ilógico aos pensamentos, meu corpo travou. Não obedeceu. Não consegui sair do lugar!

    E se você pensa que o medo pode surgir apenas em lugares isolados e escuros, intimidado por algum perigo desconhecido à espreita, fique sabendo que apesar de estar cercado de gente por todos os lados e em local bem iluminado, jamais me senti tão só, apavorado e impotente na minha vida quanto no exato momento em que aquele demônio voltou seus olhos negros na minha direção.

    Num primeiro momento, notei perplexidade na sua fisionomia e, mesmo diante da minha confusão mental em aceitar o insólito, tive um lampejo de compreensão: ele percebeu que de algum modo inexplicável eu era o único a vê-lo ali dentro da capela. A criatura ficou me encarando por um tempo intrigada com a expressão comum de quem queria se lembrar de alguma coisa.

    Passados alguns segundos angustiantes, esforçei-me para me recompor, dei um passo para trás de Pedro e coloquei minhas mãos nos seus ombros a fim de chamar-lhe a atenção para irmos embora. Percebi logo que o gesto de aproximação foi um erro terrível! A cara do demônio se abriu num sorriso peçonhento, maligno, quando seus olhos negros pousaram em meu filho e retornaram novamente para mim.

    Esse movimento malicioso me despertou do transe. Tomei o braço de Pedro e o arrastei para longe, nervoso, empurrando as pessoas. Já estava pronto a ganhar a porta quando senti a mão de alguém tocar o meu braço. Era a mãe-de-santo Ieda. Seus olhos arregalados de espanto fitaram os meus e inclinando-se para perto de mim, junto a meu ouvido, advertiu-me num sussurro:

    — Tenha muito cuidado, moço. Você acabou de chamar a atenção de um dos enviados do poderoso Exu Omúlu, o Rei das Almas! 

 

    2

    Um mês depois, eu já havia quase esquecido tudo e considerei ser o episódio coisa da minha imaginação. Ledo engano! Numa manhã de sexta-feira, topei com uma cesta enorme no jardim defronte à casa. Dentro da cesta encontrei comida, bebidas, charutos e um gato morto com a garganta cortada. Da boca do bichano, presos aos dentes, pendia a foto do meu filho!

    Sem avisar ninguém, inclusive à polícia, livrei-me rapidamente do despacho colocando tudo num saco de lixo antes de Pedro acordar e ver a cesta macabra. Ele não ficou sabendo do ocorrido. Pedro não tinha estrutura psicológica para suportar aquilo depois do que acontecera com o amigo.

    Três dias depois, em noite trevosa de tempestade, entre os clarões dos relâmpagos, através da janela da cozinha, vi o escravo sinistro empoleirado em cima do muro. Esta cena pavorosa, mesmo passado tanto anos, ainda me acompanha em madrugadas insones. Os olhos negros da criatura adquiriram um brilho intenso e fitaram-me de modo intimidador, invasivo, como que a explorar as minhas fraquezas.  Fechei as cortinas e mal consegui dormir naquela noite.

    Na manhã seguinte, o mundo começou a ruir!

    Acordei com os gritos de desespero do meu filho dentro do banheiro. Corri até lá e me deparei com um quadro perturbador que me tirou o chão: dos olhos e ouvidos de Pedro escorriam finos filetes de sangue. Ele me dirigiu uma expressão aterrorizada e logo a conversa das velhas no velório se avultou de forma velada diante de nós. Arrepios de medo voltaram-me a percorrer todo o corpo quando ouvi, em seu tom de voz tremido de pânico, dizer:

    — Pai, eu vou morrer!

 

    3

    O barulhar cadenciado dos atabaques conduzia à dança da gira. O ambiente recendia às ervas e cheiro de fumaça de cachimbo. Mãe Ieda, ainda nos movimentos da roda entre médiuns e auxiliares, não recebera a entidade da qual eu viera buscar aclaramento e conselho. Jamais me passou pela cabeça me encontrar em situação tão angustiante, ainda mais que nunca acreditara em rituais de Umbanda, mas o desespero de ajudar Pedro ia muito além do preconceito ou descrença que eu pudesse ter.

    Os médicos não me deram esperanças de curar meu filho. Não tinham ideia da doença misteriosa. Não havia referências clínicas das quais eles pudessem se debruçar. Então, subi o morro para pedir ajuda à mãe Ieda. Não podia simplesmente ficar parado e ver o garoto morrer aos poucos.

    A mãe-de-santo me explicou que apenas um espírito elevado poderia me ajudar. Eu estava absorto nesses pensamentos e mal percebi os trejeitos estranhos de mãe Ieda, até o momento dela sinalizar para que me aproximasse ao centro da roda.

    — Hum… então, vosmecê é o homem que arrumou encrenca com o enviado de Exu Omúlu, o Rei das Almas! – ela disse num tom de voz masculino.

    — A encrenca não é diretamente comigo... é com meu filho. Encomendaram uma amarração forte na intenção de prejudicar a saúde do garoto. Um inocente – falei em tom de preocupação.

    — Ahã, sei... hum... vosmecê não sabe, mas em outra vida vosmecê foi um importante pai-de-santo. Nóis aqui da Umbanda acredita na reencarnação. Todo homem tem a sua paga na evolução das almas, sabia? É bem por isso que vosmecê vê e sente coisas no terreno espiritual.

    Baixei a cabeça e assenti em subserviência. Emocionado, levei as mãos ao rosto e comecei a chorar.

    — Não posso perder o meu filho... me ajuda, por favor!

    — Eu sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas e te afirmo: isso é trabalho de Kimbanda, o lado negro da nossa própria religião... hum ... e te digo mais, moço, a resposta para o aclaramento da situação está com o teu próprio filho! Ele é que deve te dar o caminho a seguir... ahã... não fique com esta cara de espanto não. É isso mesmo. Pergunte a ele!

 

    4

    — Pai, foi sem querer, eu juro! O Ricardo gostava muito de implicar com a Heloá, só porque ela usava aquelas roupas de macumbeira. Eu, o Ricardo e o Lenin, nós três, tava sempre zoando com ela. Era tudo brincadeira!

    “Eu sei que é errado… fazer bullying com os outros não é certo não… fui muito burro de ir na onda deles. Eu me arrependo, me arrependo muito... e daí… deu ruim quando a gente tava subindo o atalho do morro pra tomar banho lá na Cachoeira do Encantado.”

    “A Heloá tava descendo toda vestida com aquelas roupas de… lá da religião dela... e quando viu a gente na estradinha…humm... ela ficou com medo. Eu até falei pro Ricardo não implicar com a garota porque dava pra ver que ela tava bem assustada. Foi aí que ele pegou uma pedra do chão e disse bem alto pra ela ouvir:”

    “ — hoje é dia de caçar macumbeira, pessoal”.

    “Eu juro, pai, eu insisti com os dois pra deixar a Heloá em paz. O Ricardo me chamou de cagão, de medroso, correu à frente e jogou a pedra na coitada, mas errou por pouco. Ela deu um gritinho de medo e escondeu-se no mato. Eles deram muita risada do jeito dela se desviar da pedra, eu não! Fiquei com pena!”

    “Daí… o Ricardo pegou outro pedregulho do chão e gritou:”

    “ — Agora, essa macumbeira não me escapa”.

    A Heloá se levantou e começou a correr desesperada gritando bem alto lá pra cima na direção da cachoeira.”

    “— Pai, me ajuda, eles querem me matar!

    “Na corrida, pra fugir, a coitada ficou meio desorientada e foi pra beira do atalho...  e daí foi… foi… hum… foi nessa hora que ela tropeçou na barra do vestido e caiu… a pobre bateu com a testa na Pedra da Bigorna… ela… ela não levantou mais!”

    “Daí… nós ouvimos o pai dela berrar lá de cima do barranco.”

    “— Heloá, minha filha! O que vocês fizeram com a minha filha”?

 

    5

     Era uma noite fresca de outono. A madrugada já ia adiantada e eu espiava, através das grades do portão fechado do cemitério, o vulto de Eriovaldo enfiar-se para dentro dos recessos escuros do lugar, depois dele ter pulado o muro. Olhei ao redor para ter certeza de não haver ninguém por perto e pulei o muro também.

    O que Pedro fez não estava certo. Sei disso. Não foi essa a educação oferecida a ele, contudo a aflição do garoto, embora não se pudesse comparar ao suplício do pai em perder a filha, já tinha o efeito de ser um grande castigo. Ora, o menino estava sofrendo muito pelo remorso de ter se envolvido naquela fatalidade. Por mais que me doa pensar no caráter duvidoso dele, de que errei em algum momento na sua formação... poxa, ele era meu filho! Não poderia abandoná-lo à sua própria sorte!

    Por isso, levantei a ficha do pai de Heloá. Tratava-se de Eriovaldo, um kimbandeiro famoso nas redondezas, muito procurado para fazer trabalhos de amarração mais voltados a criar desavenças e obstáculos às vidas dos desafetos daqueles que iam lhe pedir ajuda.

    Fiquei alguns dias vigiando seus passos sem dar mostras de que estivesse sendo seguido. Eu estava crente do bruxo ser o culpado da estranha doença de Pedro. Considerei, também, que a abordagem direta do pedido de perdão de um pai para outro não iria comover aquele homem tomado pelo ódio.

    Por trás do tronco da árvore mais frondosa do cemitério, sob o tênue brilho da lua, testemunhei o bruxo se ajoelhar diante do túmulo da filha,  um montículo de terra ornado por pequenos vasos de flores. O kimbandeiro começou a dispor em volta do túmulo artefatos ritualísticos variados, velas e incensos. Perto dele, um saco de pano movia-se o tempo todo e, de lá de dentro, ouvi cacarejos de galinha.

    De repente, do nada, senti a temperatura ambiente à minha volta baixar  e, para além do frio inesperado, uma vez mais a minha pele se arrepiou por causa do pressentimento de ameaça desconhecida. Na hora, não considerei tal manifestação dos sentidos ser algum tipo de poder mediúnico de outra vida, como o Caboclo das Sete Encruzilhadas me disse, no entanto hoje creio muito nessa possibilidade.

    Antes de entender de onde emanava a fonte tóxica da maldade, ouvi uma risadinha rouca de velho oriunda de algum ponto acima da minha cabeça. Levantei  os olhos e, surpreso com a cena grotesca, não contive o grito de horror jogando-me para trás. Caí de costas nas lápides próximas e fitei atônito o vulto do escravo-demônio, acocorado lá em cima em meio à coroa de galhos da árvore. Dois pontos luzidios, no lugar dos olhos, avaliavam-me de modo traiçoeiro.

    — Quem está aí? – perguntou Eriovaldo em tom ameaçador na minha direção.

    O Kimbandeiro aproximou-se cauteloso, pé ante pé, fazendo movimentos ameaçadores com uma enorme faca em punho, certamente a mesma arma usada para sacrificar os animais nos seus rituais macabros.

    Antes de sequer me levantar, ou pensar numa estratégia de abordagem a fim de lidar com a situação, eu vi claramente, apesar da pouca iluminação em volta, o enviado de Omúlu mergulhar lá de cima da árvore e, como num sopro de vento forte, entrar no corpo do bruxo.

    O pai de Heloá, logo que foi tomado pelo espírito perverso, se arriou por cima dos calcanhares e ficou de cócoras, cuja posição o maldito gostava de se apresentar. O sorriso peçonhento tomou todo o seu semblante, seus olhos lançaram-me desprezo e raiva, a faca passou a se movimentar de uma mão para a outra de modo mecânico e ameaçador. Tudo nele irradiava hostilidade.

    — Ora, ora, aonde é que foi parar o Zé Pilintra. Vosmecê qué pagá os teus pecado neste corpo fraco aí, é? – ele perguntou como se me conhecesse.

    — Não sei quem é Zé Pilintra – disse-lhe, tentando emprestar um pouco de coragem à voz.

    — Hi, hi, hi, o Maioral, nosso pai Exu Omúlu, não gostou de vosmecê largar de mão os trabalho dele não! Ora, esse troço aí de evoluir, de buscar melhorias na alma é coisa de gente fraca. Quem já meteu a mão na merda... hum... o cheiro não sai mais não.

    Não sei como tive a presença de espírito para me levantar e encarar aquele demônio. Talvez houvesse alguma coisa de verdade na fala do Caboclo das Sete Encruzilhadas, pois ao ouvir o nome de Zé Pilintra misteriosamente algo dentro de mim começou a se avultar. Tratava-se de um sentimento de poder insuspeito, de um conhecimento vago e remoto de feitiçaria, conhecimento este do qual me apeguei desesperado à procura de pedaços de informações que pudessem me oferecer uma saída daquela armadilha.

    Então, tive uma revelação e soube como salvar o meu filho!

    Levei a mão ao cós da parte traseira da minha calça, por baixo da camisa, saquei meu revólver Taurus 38 e, sem hesitar, dei dois tiros na cabeça do Eriovaldo.

 

    6

    Hoje em dia, tenho visto o meu filho duas vezes ao ano. Ele já está um homem feito, casou e me deu dois netos que ainda não tive o prazer de conhecer. As visitas aqui no presídio de segurança máxima são dispendiosas por causa da logística da minha condição mental. Consideram-me um detento de alta periculosidade, e isso requer muitos cuidados.

    Os psiquiatras da prisão dizem que sofro de Transtorno Dissociativo de Identidade. Ahã, atribuem-me violentos assassinatos cometidos contra os meus companheiros de cela, e dos quais não me lembro de nada. Sim, tudo por causa da minha mente doentia em achar que eu, às vezes, sou outra pessoa. Há até quem diga que, quando me encontro nestes surtos psicóticos, eu me autoproclamo ser o poderoso Enviado de Omúlu.

    Claro, isso é tudo balela, conversa pra boi dormir, porque só eu sei a verdade!

    Mesmo dentro desta sala acolchoada, aqui e agora, na parte mais isolada do presídio, embalado nesta camisa-de-força, tenho de conviver diariamente com um companheiro de cela do qual não tenho como evitar e, pior, você já deve saber, ele tem o costume feio de ficar conversando comigo o tempo todo de cócoras.

 

Affonso Luiz Pereira
Enviado por Affonso Luiz Pereira em 28/02/2022
Reeditado em 09/04/2022
Código do texto: T7462109
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