Um conto de vingança pt III
Já se aproximava dos festejos de Junho, Marcos acompanhava assiduamente nos noticiários e blogs da internet em que pé estavam as investigações do crime bárbaro que aconteceu na sua cidade, a polícia ainda não tinha vestígios de culpados. No dia de São Pedro é tradição as pessoas fazerem fogueiras na frente das suas casas. Marcos aproveitou as árvores que cresciam ao redor de sua casa e cortou-as e separou galhos grandes e grossos para confeccionar a fogueira que acenderia logo mais a noite. Ao terminar de juntar os galhos, Marcos organizou-os em uma fogueira quadrada com os galhos fazendo uma armação uns com os outros e o meio permanecendo vazio. Ao fim desse ritual, ele dirige-se ao seu carro e tira do porta malas um pacote de sacos para lixo de cem litro e um machado e entra em sua casa. No interior da residência, o outro rapaz envolvido no roubo encontrava-se amarrado e amordaçado. Ao ver Marcos com um machado ele começa a se debater mas é silenciado com um chute de uma pesada bota no rosto e apaga. Ao acordar, Dudu vê Marcos a um palmo do seu rosto.
- Por favor, não mate! Suplicava Eduardo. Eu devolvo as suas coisas.
- Não precisa devolver, pode deixar com as pessoas para quem vocês venderam.
Nesse momento Marcos puxa a corda nas mãos do seu prisioneiro e começa a içar Eduardo deixando-o pendurado com as mãos sobre a cabeça. A partir daí ele começa a desferir violentos golpes na sua vítima. Eduardo recebeu um chute em sua coxa que se ele não tivesse visto juraria que tinha sido desferido com uma barra de ferro. Marcos era praticante de Muay Thai e boxe e passou cerca de vinte minutos chutando as pernas de seu cativo. Eduardo sentia tanta dor que já não mais sabia se as suas pernas ainda estavam presas ao seu corpo. Em seguida Marcos calçou as suas luvas e começou a aplicar socos no rosto e na região do tórax de Eduardo. Após ininterruptas meia hora, Eduardo começava a sentir a vida lhe deixando lentamente. Todo o seu corpo doía ao ponto dele não mais sentir seus membros. Seus olhos não abriam de tão inchados e a sua boca, ele tinha certeza, não contavam com mais nenhum dente. Não podia gritar porque pra isso ele precisava respirar e a posição aliado aos golpes no estômago, rins e no peito exigiam um esforço que ele já não tinha mais para puxar o ar para os pulmões. Lembrou-se de quando era uma criança que não tinha preocupações, depois lembrou-se de quando experimentara as drogas pela primeira vez e de tudo que fez para suprir o seu vício e de como acabara nessa situação. Ele queria ter podido pedir desculpas, queria ter podido se despedir da sua avó que o criara, mas era tarde demais, o que não tinha remédio, remediado estava.
Marcos acabara de tomar banho e limpar o sangue do chão de sua casa e contemplava os quatro sacos pretos cheios dos pedaços do corpo do último dos seus algozes. Depois de se arrumar, ele levou os sacos individualmente para fora de casa e jogou-os dentro da fogueira que ele havia preparado. Quando todos os sacos estavam dentro da fogueira ele ateou fogo. As chamas subiam ao céu com violência e iluminava a rua. Devido outras fogueiras estarem acesas nesse período e muitas famílias aproveitarem esse momento para realizar churrascos, muitas pessoas não perceberam o cheiro de carne queimada advindo da fogueira da casa de Marcos.
A notícia de que outro jovem usuário de drogas havia desaparecido correu a cidade. A polícia acreditava que essas mortes e desaparecimentos se tratavam de acerto de contas do tráfico ou brigas de facções criminosas. As facções que comandavam o tráfico de drogas na cidade acreditavam que esses crimes se tratavam de milícias ou que a polícia estava envolvida.
Marcos acordava todo dia pra trabalhar e levar sua vida em paz com sua mulher e filha. Mas dentro de si ele carregava uma ira e uma angústia que não acabava, tal qual uma fogueira que não se apaga.