*Bife de Morcego*

 

Senti como um pedaço de galeto, pata de codorna, camarão ou algo assim. Incomodo imediato, era um corpo estranho, grande demais pra se estar ali, e ainda esperar que dissolvesse; que a boa educação permitisse que se levasse a mão até lá. Não tinha gosto; era como borracha. Senti o formato da patinha sem ter tempo a sentir nojo, engulhar… Puxei… e não vinha. Parecia parte de minha gengiva, aquilo era como arrancar um pedaço de pele com um beliscão. Uma dor quase impossível. Puxei com mais força, lágrimas escorrendo de dor e a medida que o sangue escorria pelos dentes – fazendo um fio vermelho descendo pela boca – o restante do morcego ia aparecendo, ganhando formato e tamanho. No espelho eu o vi. Queria ser parte de mim e já era quase do tamanho duma laranja em minha boca… ajoelhei puxando… Gritos saindo de dentro do corpo… brotavam do estômago, alcançando a garganta até a chegar boca e ecoar no banheiro. Sendo – quase – impedido de passar pelo animal, ali presente. Puxei com MAIS FORÇA. Vieram asas e cabeça, “mastigue-me é o único jeito.” - ele me disse rindo - “mastigue-me é o único jeito.”.

 

Terça-feira, 14 de dezembro de 2021

 

 

 

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 14/12/2021
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