A MANSÃO DO TERROR
Hermes saiu da rodovia e embirocou por uma estradinha de terra. O mato alto. A lua cheia no céu de agosto. Os buracos. O carro dando solavancos. -"Vai devagar, amor. Essa estrada é um inferno." Disse a noiva Juliana, ajeitando o cinto de segurança. -"Inferno? Quero logo tomar um banho. Dez horas dirigindo não é fácil." Os faróis iluminaram a casa no morro. Um portão alto de ferro, trancado com cadeado. Hermes desceu. -"E agora?" Juliana pegou a maleta. -"Agora vai aparecer o mordomo do conde Drácula. Ele nos levará pra mansão, onde seremos mortos e enterrados no quintal." Hermes deu uma gargalhada. -"Drácula? Aqui em Minas? Mais fácil aparecer lobisomem ou zumbi." Juliana bateu a porta do carro. -"Hellraiser, Jason, a anaconda, a bruxa de Blair, Frankenstein, Nosferatu, o louco da serra elétrica, Chuck o boneco assassino, Freddy Krueger, esse cenário é propício pra eles." Hermes forçou o cadeado do portão. O rapaz abriu o carro e pegou um alicate. -"Vou estourar o cadeado. Fique aí lembrando esses personagens de filmes de terror. Não se esqueça que somos as vítimas, querida. " Hermes abriu o portão. A moça entrou no carro. Hermes ligou o veículo. -"Vamos dormir na casa. Essa herança do tio Genaro veio em boa hora." Hermes empurrou a porta. Ela se abriu sem esforço. -"Está caindo aos pedaços. Ganhei uma casa em ruínas." Juliana ligou a lanterna. Um sofá coberto com lençol branco no canto. Uma estante vazia. A lareira com mato crescendo. -"Não tem luz. As lâmpadas estão quebradas." Juliana sentiu um arrepio. -"Alguém esteve aqui, recentemente." Hermes estava decepcionado. -"Isso é horrível. Não vai dar pra reformar e vender. Quem vai querer comprar essa espelunca nesse fim de mundo?" Hermes olhou em volta. -"Juliana? Me deixou falando sozinho. Essa escada está perigosa." Ele viu a lanterna caída. -"Juliana?" O rapaz entrou no quarto. Um clarão iluminou a casa. Juliana estava suspensa no ar, sobre a cama. -"Hermes? Seu grande filho da puta. Pare de brincadeira e me coloca no chão." Hermes sorriu. -"Eu? Sai dessa, grande fã de terror. Parece filme O Exorcista ou O Sexto Sentido. Você acha que tenho atividade paranormal para te suspender no ar? Não aguento pegar você no colo. " Juliana sentiu seus cabelos esticarem. Ela estava perto do teto. -"Oh, Poltergeist, Psicose ou sei lá mais quem. Liberte a Juliana desse transe. A gente precisa dormir." Hermes pegou o celular e tirou foto da namorada suspensa. -"Juliana, essa vai bombar no Facebook." A moça não respondeu. Hermes tentou puxar a moça. Os olhos dela estavam revirados. -"Halloween. Você está brincando de Halloween. Que massa, querida. Estamos na sexta feira treze e eu sou o fantasma da ópera. Não, sou o iluminado na noite dos mortos vivos. Você é a bruxa de Blair, seu cabelo está demais." Juliana falou. -"Não entre em pânico. Não sou o bebê de Rosemary mas o fantasma dessa mansão. Os outros estão chegando." Hermes se arrepiou. -"Juliana. Que voz grossa é essa?? Parece um demônio falando. Eu, einh?" A porta do quarto se abriu. -"Eu sei o que vocês fizeram no verão passado." Um homem estava com uma serra elétrica nas mãos. Hermes se encolheu num canto. -"Moço. Não fizemos nada de ruim no verão passado. Não nos mate" Hermes olhou bem para o homem. A serra elétrica foi ligada. -"Tio Genaro? É o senhor?! O senhor está morto. Está no fundo do rio das Antas, com uma pedra amarrada no pescoço. " Juliana voltou a si. Seu corpo desceu até a cama. -"Tio Genaro? É o fantasma do tio?! Hermes, como sabe onde está o tio, se não acharam seu corpo??" Hermes sacou o revólver. Três tiros certeiros no peito de Genaro." O fantasma sorriu. -"Tiros são inúteis. Já estou morto, idiota. Você me matou após descobrir que era meu único herdeiro.. Fez tudo parecer um acidente. " Juliana estava horrorizada. -"Hermes. Você matou seu tio?! Pela herança??" O rapaz tentou justificar. -"Ele era cego e velho. Esse sítio seria rentável, assim pensei." Juliana começou a chorar. -"Monstro, Hermes. Você é um monstro. Não quero mais nada com você." Hermes se desesperou. -"É o fim pra você, Juliana. Sempre no mundo da lua, terror e ficção. Você é louca, Juliana." Hermes atirou. A moça caiu na cama empoeirada. Um tiro na testa acabou com a jovem estudante de medicina. Hermes correu até o carro. -"Os sacos de dormir. Um pra mim, outro pra Ju." Meia noite. O vento gelado entrava pela janela aberta. Hermes colocou Juliana no saco de dormir. -"Cansada, já dormiu." O rapaz fez um cigarro de maconha. A garrafa de whisky. -"Não quer beber, Juliana? Não?" Hermes abraçou a namorada. Apontou o revólver pra cabeça e deu um tiro em seu ouvido." A polícia encontrou os corpos do casal, após três dias de buscas. -"Drogas, bebidas. Um casal tão jovem." Disse o perito da polícia. FIM