O PREÇO DA MORTE IX

O defunto começou achar aquilo tudo.

Divertido.

Cair na graça de um querido escritor.

E permanecer vivo na vida;

Da comunidade literária.

Se tornou pra ele próprio.

Um barato.

Mais pra algumas pessoas, o barato poderia naufragar.

O defunto era mal visto na Polícia.

Talvez por isto fora de certa forma hostilizado pelo Delegado.

Com a Polícia Militar estava sendo diferente.

Assim que deixou a casa da titia.

Meio confuso com a costumeira clarividência dela.

Decidiu eliminar o mais rápido as pendências.

A titia embora fosse receptiva e sobremaneira agradável.

Possuía posses, e,

Emprestava a juro.

Tinha um amor materno pelo sobrinho defunto, pondo nas suas mãos além do dinheiro que ele precisava, pra retirar o veículo do pátio.

O defunto sentia que era hora de se reorganizar.

Saiu dali à caminho de casa.

Sem antes dar uma passadinha na casa da mãe.

Morava nesta casa dos seus pais.

Um moço bêbado.

Que fora agregado à família.

Muito comunicativo, foi ele um dos que mais chorava no dia do velório.

Este moço tem voz de locutor, e já não é mais bêbado.

Agora partiu pra Política.

E é bastante astuto.

Sempre desconfiou que o defunto em vida levava uma vida cheia de segredos.

À ponto de ressuscitar.

Assim que o defunto adentrou o quintal de terra batida da casa da mãe, o moço agregado o saudou.

- Chega aí dá um abraço.

- Passei pra ver mãe! - exclamou o defunto.

- Quero lhe dizer que irei candidatar de novo pra vereador.

- E conto com o seu apoio.

- Com você agora terei mais visibilidade.

- Sai pra lá, defunto. (afirmou o defunto sem dar trela nenhuma pra aquele homem maltrapilho)

O moço continuou ali no fundo da casa conversando consigo mesmo, 'como que ele me chama de defunto se o defunto aqui é ele', somente sendo revisitado, pelo pai do defunto, de igual laia.

Ambos perspicazes sabiam que o defunto era bem mais que a impressão que passava.

Aquele moço maltrapilho era querido, especialmente pelo altruísmo, pois o retiraram da rua.

- Estive na casa da titia - disse o defunto recebendo o abraço de quem desejava - ora genitora.

- Não vejo a hora de pegar o meu carro amanhã.

- o PM quase chorou quando eu contei o meu caso pra ele.

- É só pagar as diárias...

- Meu filho, tome cuidado, ninguém sabe direito o que aconteceu, alguém pode querer continuar a lhe fazer algum mal, ouça o conselho da tua mãe, fica mais dentro de casa, se quiser, traga sua família pra aqui.

- Poisé mãe, sabendo que o "parça" recebeu liberdade, e já tou arrependido do que eu fora envolvido.

- Não entendi, meu filho.

- Deixa pra lá, mãe, só sei que quem mandou fazer isto comigo...

( o defunto sentiu se cansado, beijou a mãe, recebeu os cortejos de quem por ali estavam, e partiu)

A irmã que havia viajado da cidade do Rio de Janeiro somente para chorar no velório do irmão, antes que o defunto deixasse porta afora, disse, à desgosto da mãe.

- Passa um pouquinho no vizinho, e visita ele tá quase morrendo, o médico já desenganou a família, mesmo doente assim, ele veio ao teu velório, e por incrível que pareça, você morreu antes dele.

O defunto procurava se acostumar com as piadinhas que surgiam às vezes de forma até inconsciente, pelo fato de estar vivo, após ter sido alvejado por vários disparos, e ressuscitar no caixão, pelo pouco que conhecia da Bíblia, pensava que deveria superar os primeiros 40 (quarenta) dias, antes de ascender aos céus, se começassem a compará lo com Cristo, dos "Atos dos Apóstolos".

E não deu outra.

A primeira criança que o viu quando deixou a casa da mãe, perguntou pra ele porque ele não tinha cabelo comprido, igual Jesus...

O defunto brincou.

- Irei deixar crescer, a barba e o cabelo, eu prometo.

('já que os meus olhos são azuis', refletiu)

edras josé
Enviado por edras josé em 10/12/2021
Código do texto: T7403940
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