O TANATÓLOGO-2

A funerária "Paradiso" que fica aqui ao lado, possue um caixão caro só para clientes ricos, cujo custa 10 mil dólares. Durante a noite, ajudados pelo coveiro pago por eles, retornam ao cemitério e trocam, desenterram o morto e depositam num caixão simples, trazendo o sargo caro de volta para vender para outros otários. Esse ano o mesmo caixão já foi vendido 8 vezes. Assim eles profitam bastante dinheiro.

Mas o pior é que alguns mortos chegam "preparados" pelos médicos dos hospitais, para os órgãos se manterem conservados ainda por algumas horas, em estado de transplante. Assim são retirados e substituídos por cópias de silicone e cera, vendidos numa espécie de tráfico clandestino. Os parentes não abrem os cadáveres para ver, portanto ninguém sabe de nada. Muitos são apenas fantoches empalhados, preenchidos com fibras ou algodão hidrófilo.

Muitos mortos que chegam aqui, nunca são identificados, nenhum dos familiares aparecem para retirar o corpo, são abandonados ou não podem arcar com as despesas dos funerais. Esses são os anônimos, os invisíveis, os sem nomes, enviados para as universidades, equartejados pelos estudantes de medicina, depois diluídos com ácido, como se nunca houvessem existido.

Meu expediente terminou e vou para casa andando, fica apenas três quadras perto daqui.

Na frente da casa estão alguns autos. Minha esposa parece ter recebido visitas de seus parentes.

Essa cena eu jamais esperava presenciar. Há um caixão com um pálido cadáver na sala, o semblante dele eu reconheço.

O morto sou EU. Sinto toda tristeza de minha esposa, como um fardo nos ombros. Eu não posso dizer para ela, que meu velho coração não iria bater eternamente.

O carro da funerária chegou, para transportar meu corpo para o crematório. É uma de outro bairro, como eu havia pedido para minha mulher, quando ainda estava vivo.

Assim meu cadáver estará a salvo de ser violado pelos abutres necrófilos...

---------> segue no cap.3