Aurora descia uma ladeira escura… ela voltava de um passeio com amigos. Passeio com… sucos aditivados… Passeios com um baseado ali e outra aqui… Passeio com comprimidos, Passeio com aquele desenho da moça na Bike… derrapando e indo parar debaixo de suas línguas…! Mas agora, Aurora estava sozinha e em menos de 40 minutos a MANHÃ chegaria e o sol faria muitos esforços para tê-la aos seus pés; de ressaca, com a visão ofuscada, como numa penitência que pra Deus é sem motivo mas pro sol… é merecida. Ele diria: “espero que tenha trazido um raybam, um Engov e uma água...ha ha... Amadora”. Ela vinha na rua vazia, obcecada com pensamentos assim… Pensamentos em que todo mundo no universo inteiro ATÉ MESMO o sol tinham algo contra ela. E contra o fato de ela trabalhar e ser LIVRE e pagar sua loucura. Era a velha ‌história da Escola Adventista… outra vez: “Deus me ama, mesmo fazendo essas COISAS HORRÍVEIS, mesmo eu matando os meus pais de desgosto; mesmo sendo uma jovem herege em constantes POSSESSÕES”. Aurora viu um gatinho no chão… Ao seu lado um outro gato o observava quase sem piscar. Aurora se aproximou e deu uma olhada “nossa, 5h da manhã… não vou conseguir um veterinário e o pobrezinho está agonizando!”. Aurora se ajoelhou ao lado do gatinho e do outro lado o outro gatinho a ignorava, encarando o “amigo” quase sem piscar. Foi muito rápido. Logo ele convulsionou por uns 10 segundos e pronto. Morreu. Aurora o tocou com uma caneta que tinha no bolso. Ele estava mole como se fosse um velho trapo de pano. Aurora olhou – muito curiosamente e um tanto emotiva  – o outro gato. Ele a encarou dentro dos olhos. Se virou, olhou novamente pro gato morto no chão… se virou e correu. Não correu muito. Subiu num muro próximo e ficou lá do alto, ainda encarando. “Será que eles eram amigos?!”, se perguntou. “Namoradinhos???”, “Meu Deus do céu, será que eram MÃE E FILHO, ou Filho e mãe????”. Seguiu seu caminho, pensando obcecadamente naquela cena. “cena rara… apesar de triste… Bonita! Não é todo mundo que merece ver uma cena dessas… Ah, não. Não!”. (…) “Os gatos que decidiram…SIM, foram OS GATOS que decidiram… que eu podia ficar.”.