A cadeira
- Francisco! – gritou o homem do outro lado do balcão – que é aquela cadeira pendurada?
- deixe-a. – respondeu de cabeça baixa e enxugando os copos, concentrado.
- porque a pendurou? Hein? Todo mundo aqui quer saber, conta vai!
Francisco se virou, deparando-se com meia dúzia de pares de olhos voltados pra ele. Ansiosos que contasse. Encarando-os, um a um, ele apoiou-se na pia e falou:
- um homem morreu aqui sete anos atrás. Ele foi o primeiro a morrer sentado nela ali mesmo naquele canto. Passou mal e morreu. No outro dia ficamos sabendo que fora um infarto fulminante. E então, duas semanas depois morreu uma velha que bebia aqui todas as sextas-feiras à noite. Eu não me lembro qual foi a causa. A terceira vítima veio dois meses depois. Um rapazinho de menos de vinte anos. Bebia ali, quando invadiram o bar e o mataram com um monte de tiros. Todos que estavam aqui na hora tiveram de ir depor, eu inclusive, e o bar ficou fechado um bom tempo... Quando finalmente reabri, resolvi que ninguém mais iria se sentar nela.
- aí você a pendurou no teto? – completou uma jovem bonita com os olhos vermelhos.
- não. Eu joguei-a no lixo várias vezes e ela voltava. Disposta a ficar... Então eu a pendurei.