Paralisia do sono
Já sentira isso infinitas vezes. Estava entre dormindo e acordado. Queria se levantar da cama, mas não conseguia. Uma forte pressão sobre o peito e a desobediência de todos os músculos do corpo o impediam de se mexer.
Dessa vez, contudo, vira algo. Fernando sempre pensara as representações demoníacas de seres horrendos sobre as pessoas impedindo-as de se levantar. Imaginava que isso lhe acontecia. Era, no seu entender, o que provocava a paralisia do sono. Mas à medida que o quarto ia ficando mais claro com os primeiros raios do sol naquela madruga (a paralisia sempre lhe acontecia nesse horário) surpreendeu-se com a visão.
Era uma mulher. Na verdade, uma bela mulher (o conceito de beleza fica a critério do leitor). Ela estava sentada sobre o peito de Fernando, trajando apenas roupas íntimas, com uma perna dobrada próxima ao seu rosto.
Até então aterrorizado, aquela visão o agradou. Se alguém estivesse sobre o seu peito, que ao menos fosse uma mulher, e bonita! Foi o pensamento que ele teve. Os dois ficaram se encarando por alguns segundos.
Repentinamente, a mulher começou a aproximar o rosto da face de Fernando. Mais e mais. Ao ficarem a menos de um palmo de distância, os traços delicados da estranha mudaram. Ela possuía uma boca enorme, de orelha a orelha pontuda, com grandes dentes afiados, cabeços desarrumados e mal cuidados, olhos vermelhos.
Ela parou e uma grossa e nojenta língua saiu de sua boca e foi em direção a Fernando. Os olhos do jovem se arregalaram, mas ele continuou impotente, sem se mexer, sem lutar.
***
Ao se preocupar por ver que o filho estava demorando a se levantar naquela manhã, a mãe de Fernando foi até o quarto. Deparou-se com o jovem, sem vida, com a face deformada pelo terror.