O porão

Mamãe dizia que sempre devemos nos apresentar a estranhos e sermos gentis com eles, para que assim eles não nos façam mal.

Me chamo Annelise, mas irei discordar do que mamãe me disse naquela vez.

Era uma noite fria de inverno quando cheguei da escola e vi minha mãe debruçada outra vez sobre a garrafa de vinho. Ela simplesmente não conseguia lidar com o fato de meu pai ter nos deixado e mesmo sem saber ela estava me deixando também. Antes minha mãe era uma mulher controlada, que organizava seu dia muito bem como se fosse um maestro comandando sua orquestra. Hoje ela não passa de uma alcoólatra que mal se aguenta em pé, vive praguejando pelos cantos da casa, invocando nomes de diabólicos demônios. Após o jantar ela começou a dizer que a culpa de meu pai partir era minha, que ele não me aguentava e que eu era uma tristeza em sua vida. Eu estava fria por fora, mas por dentro, cada pedaço de alma em mim estava morrendo, como um botão de rosa sem receber água e o brilho do sol. Ouvimos um barulho no porão, e no mesmo instante ela desejou que fosse um assassino a vir me pegar. Eu não entendia o por que daquele ódio por mim, mas eu não ia ficar ouvindo aquele enxame de veneno. A deixei chorando na cozinha até as 02h da madrugada, quando ela conseguiu se levantar, pouco mais sóbria. Ela adentrou meu quarto, perguntou se eu estava dormindo. Eu não estava, mas fingi que sim. Ela alisou uma mexa do meu cabelo e me pediu desculpas chorando, dizendo que só falou tudo aquilo por conta do álcool. Aquilo era uma forte rotina. As 03h eu ouvi sua voz me chamando, e sua voz vinha do porão. Desci as escadas e abri a porta do porão, tentando acender a luz que já não funcionava, quando ouço a porta de seu quarto abrir e ela surgir na ponta da escada gritando: - Não desça, eu também ouvi isso!

Ruami De Morais
Enviado por Ruami De Morais em 07/07/2021
Código do texto: T7294891
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