O ENCONTRO MARCADO.

O táxi parou em frente a casa 118. O jovem saiu com uma rosa nas mãos. A campainha. O brutamontes abriu a porta. -"O que quer, imbecil? Não queremos comprar nada." A voz do rapaz mal saiu. -"Boa tarde. Sou o novo namorado da Constantine." O homem saiu. Horácio calculou que o homem deveria ter quase dois metros de altura. As tatuagens nos braços de pugilista. A barba longa o fazia parecer com Brutus, o rival do Popeye. -"Está me gozando, fedelho? A Constantine não tem namorado!" Horácio engoliu em seco. -"Ela marcou comigo. Hoje, às quatro. Eu serei apresentado a família." O homem soltou uma sonora gargalhada. -"Quero ver isso, verme. Entre, camarada. Sou Gordon, seu futuro cunhado. Se é que você terá um futuro após conhecer meu pai." Gordon deu um tapa nas costas de Horácio, que foi pra frente e quase caiu. O irmão da moça cumprimentou o moço, esmagando-lhe os dedos. Gordon empurrou Horácio no sofá. Horário percebeu que a espuma do sofá estava molhada. Gordon riu da cena. -"Que ridículo, parece que molhou as calças. Pai, William... venham. O namoradinho da Constantine chegou ." Gritou o rapaz. Um homem maior que Gordon veio até a sala. William estendeu a mão e Horácio correspondeu. William retirou a mão. Horácio tomou um soco na boca do estômago. -"Esse pulha quer namorar a Constan?!? Parece aquele palhaço do McDonald's! Ele trouxe uma rosa. Que romântico. Brincadeira, meu caro. Seja bem vindo." Horácio sentou-se no canto do sofá. -"Constantine está há duas horas no banho. Está fazendo a barba e se depilando. Cara, você beijou a nossa irmã?" Horácio tremia. Ele não respondeu a pergunta de William. -"Cara, se você a beijou, papai vai tirar seu couro. Vai arrancar seu fígado e dar para o gato comer. Nossa irmã nunca namorou, tem noção?" William rosnava e salivava ao ameaçar o pobre rapaz. Constantine surgiu. Horácio se levantou. Gordon e William riam. -"Ooi. Essa rosa! É pra você." Disse o tímido pretendente. Constantine o beijou no rosto. -"Adorei, Horácio. Achei que não viria." Ele sorriu amarelo. -"Pois é. Eu vim. Já conheci seus irmãos." Gordon e William foram até o quintal. -"Não tenha medo, querido. Quer uma água? " Horácio recusou. Um tiro. Horácio quase enfartou ao ver um homem maior que William. -"O papai é boa pessoa. Ele é estranho mas você se acostuma." Dessa vez Horácio molhou a parte da frente das calças. -"O nome dele é Jason. Não é o serial killer, tá. Papai é um doce." Disse a moça ao trêmulo rapaz. William e Gordon o precederam, se espremendo para passarem na porta. Jason estendeu a mão a Horácio. -"Teremos picadinho no jantar. Picadinho de namoradinho da Constan." Disse Gordon. -"Saiam, meninos. Vou conhecer melhor o namorado da minha filha e meu futuro genro." Horácio tremeu nas bases ao ver o pai da moça, uma cópia quase fiel de Donald Trump, só que moreno. -"Boa tarde, senhor. Sou o Horário." O homem mediu o rapaz da cabeça aos pés. Quase deixou escapar um sorriso ao olhar para as pernas trêmulas do moço. Jason sacou um revólver e apontou para a cabeça de Horácio. -" Não quero que minha menina namore. Não quero, entendeu?" A moça chorou. -"Pai. Horácio é bom." O homem se irritou. -"William. Tranque a sua irmã no porão. Dois dias sem comida pra ver se aprende que não tem idade pra namoricos." A moça levou um tapa de William. O sangue escorreu de seus lábios. Jason pisou e amassou a rosa com a bota. -"Flores. Odeio flores." Horácio quis intervir mas Gordon o segurou. -" Não podem trancafiar Constantine!" Jason deu uma coronhada na cabeça de Horácio, que desfaleceu no sofá. William arrastou a irmã pelos cabelos. Horácio voltou a si, meia hora depois. Estava no sofá. Tinha as mãos e os pés amarrados. Gordon o ameaçava com um punhal. -"Ele acordou, finalmente." Disse Gordon Jason deu um tiro na perna do visitante. Horácio gritou de dor. Jason fez um sinal a William. O rapaz se aproximou e puxou a língua de Horácio. Um punhal afiado. -"Se gritar de novo, vou cortar a língua desse idiota, como fiz com o último pretenso namorado de Constan." Gordon ria da situação enquanto tirava fotos. Jason atirou no braço de Horácio. O rapaz não gritou. William amarrou a boca do moço com um lenço. Um capuz preto na cabeça. -"Cuidamos da Constantine, sabia? Não permitimos intrusos na família. Ela o convidou e você deveria ter recusado. Nós o jogaremos no lago para as piranhas o comerem. Nunca será achado, amigo." Disse Jason, antes de atirar na cabeça do pobre rapaz. Uma segunda feira. Constantine se aproximou de Horácio, durante o intervalo das aulas. Bruno e Diego deixaram a companhia do rapaz. A moça ajeitou os cabelos. Horácio colocou as mãos nos bolsos e se escorou no balcão da cantina da escola. -"Oi. Você não apareceu." O rapaz olhou para os lados. -"Pois é. Deixa estar." A moça tocou o braço dele. -" Tínhamos um encontro marcado. Apresentaria você a minha família, Horácio!" Ele notou que uma lágrima escapuliu dos olhos dela. -"Eu...eu gosto de você mas. Como diz a letra do Legião, somos tão jovens." Ela se virou e se juntou as amigas de sala de aula. Horácio acendeu um cigarro e ajeitou os óculos. Um rapaz forte se aproximou de Constantine. -"Estou bem, William. Fui devolver a caneta que Horácio me emprestou." Ela mentiu. Os amigos se reaproximaram de Horácio. Um silêncio tumular. -"Um beijo e a menina já queria o apresentar a família? Freud explica." Diego quebrou o silêncio. -"Pois é. Essas coisas me assustam." Disse Horácio. Constantine e Horácio não se falaram mais. Ele a viu, duas semanas depois, na saída da escola. A moça entrou numa caminhonete verde, com um brutamontes ao volante. Horácio intuiu que deveria ser o outro irmão dela pois era mesmo parecido com o Brutus, o personagem dos desenhos do Popeye, como sonhara na noite anterior ao encontro marcado. F I M

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 03/07/2021
Reeditado em 04/07/2021
Código do texto: T7292041
Classificação de conteúdo: seguro