O noctívago...

Vagava, como de costume, nas ruas lisboetas em mais uma noite. Buscava aquilo que há muito tempo deseja, mas é impedido de ter. Uma busca ávida, mas não rara, já que na maioria das vezes encontra o que quer - mas, repito, não pode ter.

O noctívago ao longe vê um "objeto" alvo de seus lúbricos anseios.

O perigo agora é maior.

Não está em seu normal.

Anos de desejo reprimido.

Uma bomba-relógio.

E agora há de explodir.

Cerca de cem metros separam a vítima do infrator.

De um lado: a inocência.

Do outro: a luxúria proibida.

Mesmo que, agora, quase incontrolável manter a sanidade, restritou-se nas ações para não chamar a atenção aos poucos andantes do ambiente. Era um local sempre movimentado. Apesar disso, manteve-se irredutível às sádicas vozes seduzindo-o a fazer.

Os passos em direção à presa começaram. Ela, desavisada do perigo iminente, continuou estagnada em seu lugar - em busca de um freguês.

Sua lestidão causava estranheza àqueles observantes do cenário noturno. Perdeu a noção.

Começava a silhueta a formar-se melhor e revelar a vítima. As vestes justas de velhas trazendo uma sensualidade que só um ser doentio podia sentir e agradar-se dos maus pensamentos que vinham.

Revelou-se também o rosto.

Julgou ser bem melhor do que o de sua (pobre, esquecida e maltratada) esposa.

Estava prestes a concretizar-se o plano maligno quando, num passe de azar para o homem e sorte para quem o pernicioso indivíduo decidira impor sua vontade, uma mão roliça seguida de uma voz grossa fez-se presente: era juiz Machado; amigo do libertino.

Uma tremedeira e arrelia tomou conta do homem, que suava frio e respondia com embaraço o amigo.

Não foi dessa vez, mas, a cada dia que passa, torna-se mais próximo seu desejo sórdido se realizar...

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 02/06/2021
Código do texto: T7270201
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