O jovem assassino

Seu ofício é herança que mais parece suplício. Já novo fora ensinado, como mandava a tradição familiar, a arte de matar. Para isso teve que morrer também: a preparação para o "trabalho" causou-lhe estigmas incuráveis. Ainda não tendo completado sequer vinte décadas de vida, lhe foi dado uma provação para a sua consagração à família: por um mês, por suas mãos, haveria uma morte por dia. Assim fez.

Mas até os mortos, às vezes, enchem-se de vida. Foi assim que num dia qualquer encheu-se de vida também. E gostou de viver. Fugiu do latíbulo onde fora criado - e torturado - e seguiu com quem despertava em si um pensamento além do assassinato.

Não gostando do ato, seu pai seguiu-o afim de trazê-lo de volta. Quando viu que não teria jeito, resolveu dar fim a quem ameaçava dar fim à sua mecernária linhagem.

Sabendo dos maus planos de seu genitor, surgiu em si novamente aquilo que estava em letargia. Voltou-se a cria contra o criador. Numa noite a escuridão noturna ocultou a escuridão da alma numa camuflagem perfeita de serpente preparando-se para o ataque. Reluziu a lâmina, já não reluz mais: cravou no pescoço do monstro.

Gáudio.

Sorriu num sádico prazer.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 28/05/2021
Código do texto: T7266496
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