O jovem assassino
Seu ofício é herança que mais parece suplício. Já novo fora ensinado, como mandava a tradição familiar, a arte de matar. Para isso teve que morrer também: a preparação para o "trabalho" causou-lhe estigmas incuráveis. Ainda não tendo completado sequer vinte décadas de vida, lhe foi dado uma provação para a sua consagração à família: por um mês, por suas mãos, haveria uma morte por dia. Assim fez.
Mas até os mortos, às vezes, enchem-se de vida. Foi assim que num dia qualquer encheu-se de vida também. E gostou de viver. Fugiu do latíbulo onde fora criado - e torturado - e seguiu com quem despertava em si um pensamento além do assassinato.
Não gostando do ato, seu pai seguiu-o afim de trazê-lo de volta. Quando viu que não teria jeito, resolveu dar fim a quem ameaçava dar fim à sua mecernária linhagem.
Sabendo dos maus planos de seu genitor, surgiu em si novamente aquilo que estava em letargia. Voltou-se a cria contra o criador. Numa noite a escuridão noturna ocultou a escuridão da alma numa camuflagem perfeita de serpente preparando-se para o ataque. Reluziu a lâmina, já não reluz mais: cravou no pescoço do monstro.
Gáudio.
Sorriu num sádico prazer.