HISTÓRIA DA BUCHDINHA

Assim como existem as histórias de pescador, existem também as de caçador. Essa que conto agora é uma história de terror. Passando de caçador para caçador, chegou ao conhecimento do meu avô que sempre contava nas reuniões de família. As crianças morriam de medo, enquanto os adultos davam risadas. É a apavorante história de um caçador ganancioso que costumava matar todo tipo de animal que encontrava; para tirar o couro ou a pele para sua coleção pessoal.

Contam que certa vez, esse caçador saiu para caçar enquanto acampava em uma floresta e matou um pequeno macaco. Tirou o couro do pobre animal e dispensou a pouca carne que o bicho tinha juntamente com o bucho e demais entranhas. Deixou tudo jogado no chão da floresta, exceto o couro. Voltou para o acampamento, acendeu uma fogueira, comeu qualquer coisa e assim que caiu a noite, se recolheu na sua barraca; estava cansado.

Dormiu por algumas horas e durante a madrugada, acordou ouvindo uma voz estranha. Levou um susto, pois acreditava que estava em um local isolado da floresta onde não haveria ninguém mais além dele. Será que teria sido um sonho? Mesmo assim ficou intrigado, pegou a lanterna e sua espingarda e saiu da barraca para ver o que estava acontecendo. Iluminou com a lanterna em diversas direções e não via nada. Somente mata; árvores na escuridão da madrugada.

De repente, ouviu novamente a estranha voz e dessa vez, ouviu perfeitamente. A voz dizia em tom de pergunta: “Cadê o meu courinho que dói, dói, dói?” O caçador achou que aquilo só podia ser alguma brincadeira de alguém e avisou que estava armado. A voz na escuridão repetiu a pergunta: “Cadê o meu courinho que dói, dói, dói?” O caçador já assustado e sem entender nada, deu um tiro para cima.

Nesse momento ele ouviu um barulho de gravetos se quebrando atrás dele. Virou-se rapidamente e apontou a lanterna para ver o que era; não acreditou no que estava vendo. Na sua direção, vinha rastejando as entranhas gosmentas do pequeno macaco que ele havia matado algumas horas antes. Era uma mistura de carne e bucho ensanguentado que perguntava com uma voz sofrida: “Cadê o meu courinho que dói, dói, dói?” Uma cena típica de um filme de terror.

O caçador arregalou os olhos e deu um tremendo grito de pavor. Largou a espingarda e saiu correndo em estado de pânico. Dizem que nunca mais voltou à floresta. Nunca mais caçou. Segundo a história, o caçador chegou à cidade em choque e não dizia coisa com coisa. O homem enlouqueceu. Essa é a história da buchadinha.

Adriano Besen
Enviado por Adriano Besen em 19/05/2021
Reeditado em 20/05/2021
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