Olhares

Sentia a miríade de olhares ao seu redor, observando, analisando, sedentos. Assombrosos e vermelhos, de cujo rosto e mesmo o corpo não se podia divulgar. Eram sombras amontoadas e vivas.

Dentes salientes, pontudos, brancos com uma espessa saliva se esganaram como num sorriso onde antes não havia boca. Os seres pareciam famintos. Teriam uma refeição.

De pé, serio, Guilherme olhava para baixo. Aquela encruzilhada no meio do nada, com árvores e plantas secas e retorcidas em derredor, o chão árido, a terra seca. Não havia poeira, pois não ventava.

O escuro só era quebrado pela luz do seu celular.

Olhou para o aparelho que marcava meia-noite.

A hora combinada.

Apontou a luz para o chão.

Lá jaziam olhos diferentes, castanhos e aterrorizados. A boca amordaçada impedia o dono deles de gritar. As mãos e pés amarrados não o permitiam fugir. Tremia convulsivamente. Guilherme olhava para o sujeito com um misto de desprezo e até o que parecia ser pena. Esse sentimento de piedade, contudo, era mínimo.

Guilherme não havia feito o pacto e comprometido o seu futuro à toa. A vingança devia vir.

Sem dizer palavra, saiu. Caminhou resolutamente em direção ao seu carro estacionado a alguns metros.

Não olhou para trás. Não teve interesse em assistir o sórdido “espetáculo”. Queria apenas que aquele sujeito sofresse. Pelo barulho emanado de dentes mastigando, parecia que era isso que estava acontecendo.

Entrou no carro e foi embora. Sabia que teria de pagar pelo “favor”.

Aermo Wolf
Enviado por Aermo Wolf em 18/05/2021
Código do texto: T7258393
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