O PREÇO DA MORTE VI
As maçãs rosadas do rosto foram ficando apimentadas;
Procurou o sargento, precisava retirar teu carro dali, com brevidade;
A mente do defunto mentia martelando que Ele deveria se armar.
A mão direita trêmula pegou a camiseta dependurada no ombro esquerdo, com os dois braços, abriu, sacudiu e vestiu.
O tal sargento percebendo o nervosismo do defunto, fora ao seu encontro.
- Duvidei que tivesse escapado vivo deste carro!
O defunto ironizou.
- Conheces a passagem bíblica de um vale de ossos secos, eu fui alvejado sim, por diversos disparos de arma de fogo, enquanto o meu corpo esteve sendo velado, na casa dos meus pais, entrou em mim o sobrenatural, e os ossos se achegaram; vieram nervos sobre eles; e cresceu a carne, e estendeu-se a pele; e as chagas cicatrizaram.
O tal sargento começou a suar, quase prostrado asseverou.
- Meu caro, a gente sabe a covardia que fizeram consigo, provavelmente, quem disparou contra ti, recebeu paga, a tua morte fora encomendada...!
O defunto esbravejou.
- Porra, qual o Valor da Vida? Os prantos de alegria da nossa mãe, ao abraçar um fétido, moribundo; os gritos de saudade, de nossos filhos; o amor das nossas famílias; o alvoroço da aparição; a festividade do aniversário; o cansaço, o suor e a dor...!
O tal sargento encheu os olhos.
- No que posso te ajudar?
- Preciso retirar, o meu carro do pátio;
- Então, tu deverás pagar por estes dias, que o carro ficou no pátio;
- Amanhã cê volta que eu irei providenciar a liberação...!
Nada tirava da mente do defunto, de que Ele deveria se armar...
O último revólver, pego com o "parça", estava na Delegacia.
O defunto não queria deixar transparecer, mas sentia medo, do mandante do crime, continuar perseguindo Ele;
Ao mesmo tempo, Ele desejava agir, tinha no sangue materno, a vontade de se vingar por quaisquer males, contra os seus, faça ideia, a carnificina contra si;
Não é difícil mensurar, a espécie de medo que o defunto às vezes desperta, pelo fato de estar, ostensivamente vivo...
Antes de fazer o corre do dinheiro pra pagar os três dias de pátio, o defunto fora visitar, a casa duma titia benzedeira, muito querida por Ele;
Os adolescentes despistavam do defunto na rua;
Em casa da titia, teve homem ganchudo, que escondeu por detrás da porta do quarto, cagando de medo;
O defunto adora confabular, pertencendo imenso carinho com a titia;
Momento em que o primo entra na sala, e solta o verbo:
- O "parça" acabou de ser solto! Um alvará expedido, pelo Juiz da Comarca...